Vale faz parceria com startup sueca para alavancar produção de hidrogênio verde

Valor Econômico – A Vale está fazendo um movimento para impulsionar, no Brasil, a produção de hidrogênio verde. A mineradora brasileira assinou, na semana passada, um acordo com a empresa sueca H2 Green Steel para estudar a construção, no país, de uma planta de HBI, produto intermediário da siderurgia usado na fabricação de aço, com zero emissão de carbono. A unidade seria movida a hidrogênio verde.

“Somos alavanca da produção de hidrogênio no Brasil”, disse ao Valor o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo.

Trata-se de uma fonte de energia obtida a partir de matriz renovável – solar e eólica – que pode substituir combustíveis fósseis. Por isso, o hidrogênio é considerado, hoje, estratégico para reduzir as emissões de gases poluentes na transição para uma economia de baixo carbono.

O memorando de entendimentos firmado entre a Vale e a H2 Green Steel prevê um cronograma de trabalhos. Local e investimentos das fábricas de HBI e de hidrogênio verde ainda serão definidos, mas estimativas preliminares indicam que as duas unidades poderiam demandar, no mínimo, US$ 1,7 bilhão (R$ 8,5 bilhões). A ideia é que as duas plantas façam parte de um complexo industrial que a mineradora chama de “megahub”. É uma área dotada de infraestrutura logística (porto, ferrovia, rodovias) e disponibilidade de insumos (minério de ferro) e energia elétrica.

Para atender a essas condições, é usual que esses complexos industriais sejam instalados na costa, e, nesse contexto, Vitória (ES) desponta como um destino possível do empreendimento. No porto de Tubarão, na capital capixaba, há toda uma logística de minério de ferro implantada há décadas.

Bartolomeo disse que é plausível se pensar em um primeiro módulo de HBI para produção de 1 milhão de toneladas por ano, o que demandaria cerca de US$ 700 milhões (R$ 3,5 bilhões) de investimentos. Acoplada a essa planta, seria montada outra, esta para produção de hidrogênio verde, que poderia demandar desembolsos de US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões).

Se a fábrica de HBI for maior – os módulos costumam ser de 2,5 milhões de toneladas por ano -, a necessidade de hidrogênio verde também seria superior para atender a planta. Neste caso, o investimento total, nas duas unidades, poderia superar os US$ 3 bilhões (R$ 15 bilhões). O aporte financeiro para fazer a planta de HBI seria da H2.

Na planta de hidrogênio, a Vale pode conversar com empresas do setor elétrico e players que tenham conhecimento do processo de produção dessa nova fonte de energia e ajudar a estruturar os investimentos, oferecendo garantias e demanda firme. A própria mineradora tem planos de substituir o consumo de óleo diesel por fonte renovável na operação das ferrovias da empresa e o hidrogênio pode ser uma opção. A Vale consome 1 bilhão de litros de diesel por ano, sendo 500 milhões nas ferrovias e o restante nas operações de caminhões fora de estrada, nas minas.

No caso do HBI, o papel da Vale é fornecer matéria-prima de qualidade. Os finos de minério de ferro produzidos pela empresa são insumos para a produção de briquetes. Trata-se de um aglomerado de minério de ferro desenvolvido pela mineradora no centro de tecnologia da empresa em Minas Gerais. O briquete pode ser usado como matéria-prima pelas siderúrgicas para produzir o HBI, que depois vai se transformar em aço.

Ontem, em encontro com analistas de bancos promovido pela Vale em Carajás (PA), a mineradora informou que vai produzir cerca de 100 milhões de toneladas de aglomerados de minério de ferro a partir de 2030, incluindo pelotas e briquetes. Em 2023, esse volume deve ficar entre 36 milhões e 40 milhões de toneladas. Duas das oito pelotizadoras que a Vale mantém em Tubarão (ES) foram transformadas para operar produzindo briquetes.

Na apresentação aos analistas, ontem, a empresa reforçou que está fazendo parcerias com diversos agentes no Oriente Médio e que pretende produzir 30 milhões de toneladas de briquetes por ano na região, a partir de 2032, via redução direta. É uma rota tecnológica considerada mais limpa uma vez que utiliza o gás natural como insumo e não o coque, obtido a partir do carvão mineral, mais poluente. Esse volume de briquetes permitirá aos parceiros siderúrgicos da Vale na região produzir 20 milhões de toneladas de HBI por ano, segundo as projeções da mineradora.

No Brasil, a Vale também analisa oportunidades para suprir uma possível planta de HBI no porto do Açu (RJ). Neste caso, o HBI seria fabricado tendo como insumo o gás natural, mas o negócio dependerá, para evoluir, da redução no preço da molécula, o que tem sido um desafio no país nos últimos anos.

”Vemos grande potencial no Brasil como um polo de produtos siderúrgicos de baixa emissão de carbono”, disse o vice-presidente de soluções de minério de ferro da Vale, Marcello Spinelli. ”O país oferece condições como minério de ferro de alta qualidade e grande disponibilidade de energia renovável, inclusive eólica e solar, para alavancar a indústria de hidrogênio”, afirmou.

A parceria com a sueca H2 Green Steel se encaixa nesse objetivo mais amplo da mineradora de fazer acordos com clientes para ajudá-los a reduzir as emissões de gases poluentes. A siderurgia responde por cerca de 8% das emissões globais de CO2. A Vale fixou a meta de reduzir as emissões líquidas de carbono de escopo 1 e 2 (diretas e indiretas) em 33% até 2030, com o objetivo de zerá-las até 2050. Em 2021, a empresa anunciou investimentos de US$ 4 bilhões a US$ 6 bilhões para atingir essa meta.

“Com essa parceria [com a H2], a Vale dá seus primeiros passos no mercado de hidrogênio verde. Essa iniciativa reforça o papel da Vale como indutora da ‘neoindustrialização’ do Brasil, que será baseada na indústria de baixa emissão de carbono, cumprindo sua vocação de âncora do desenvolvimento regional, como sempre fez ao longo de sua história”, disse Bartolomeo. Ele citou o caso da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), no Sudeste, que ajudou a desenvolver um parque siderúrgico ao longo da malha.

A H2 Green Steel é uma startup industrial sueca fundada em 2020. A empresa começou a construção da primeira usina siderúrgica em Boden, na Suécia, usando hidrogênio verde: “Anunciamos no início de nossa jornada que queremos explorar outras regiões geográficas onde possamos acelerar a descarbonização da cadeia de valor do aço. Tanto o Brasil quanto partes da América do Norte têm grande potencial devido ao acesso a fontes de energia renovável, minério de ferro de alta qualidade e disposição política para apoiar projetos de descarbonização, e é uma grande oportunidade para explorarmos nossa parceria com a Vale além do fornecimento de pelotas para nossa principal usina em Boden”, disse, em nota, Kajsa Ryttberg-Wallgren, vice-presidente-executiva de crescimento e negócios de hidrogênio da H2 Green Steel.

Em julho deste ano, Vale e H2 tinham assinado um outro acordo, este para fornecimento de pelotas de redução direta, pela empresa brasileira, à planta de Boden, na Suécia.

Em resposta por escrito ao Valor, Wallgren afirmou: “Com base em uma ideia que surgiu de uma reunião com uma das maiores montadoras de automóveis do mundo, decidimos ver se conseguiríamos produzir aço com quase zero [emissão de carbono] mais rápido do que as siderúrgicas existentes estavam planejando. Estamos construindo uma fábrica em Boden, no norte da Suécia, onde produziremos hidrogênio verde, ferro-esponja verde e aço verde, a partir do final de 2025. O nosso maior objetivo é acelerar a descarbonização de indústrias difíceis de reduzir em nível mundial. Tanto o Brasil quanto a América do Norte têm grande potencial para desenvolver essas cadeias de valor.”

A executiva acrescentou que junto com a Vale analisa a possível instalação de unidades de produção de HBI no Brasil e na América do Norte: “Se avançarmos com algum ou vários dos projetos, estaremos falando de investimentos significativos da H2 Green Steel e de plantas com capacidade superior a 2 milhões de toneladas de HBI por ano.”

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/09/06/vale-faz-parceria-com-startup-sueca-para-alavancar-producao-de-hidrogenio-verde.ghtml

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