De ‘boom’ em preço de peças a trens descarrilados: entenda como funcionava esquema de furtos em ferrovias na região de Piracicaba

G1 – ️A Justiça de Cordeirópolis (SP) condenou nove pessoas acusadas de integrar uma quadrilha especializada em furtos de trilhos e outras peças de ferrovias na região de Piracicaba (SP).

Segundo as investigações policiais, o esquema foi impulsionado pela valorização dos materiais furtados das linhas férreas durante a pandemia de Covid-19 e desencadeou até descarrilamento de trens. As vendas dos materiais, que eram modificados para não levantar suspeitas, era realizada até por redes sociais.

Em uma operação, 28 pessoas chegaram a ser presas, mas quando suspeitos começaram a ser colocados em liberdade, as ações foram retomadas, segundo o delegado William Marchi.

A seguir, entenda em detalhes como teve o início o esquema, como ele funcionava e a função de cada acusado:

Valorização do produto na pandemia 💵

O delegado explicou que, com a pandemia, o preço do ferro e das peças que eram furtadas subiu mais de quinze vezes.

Ele detalhou que aumentou muito não somente o furto dos produtos dos trens, mas também de peças da linha, como presilhas, placas de fiscalização e farol.

Criminosos provocavam descarrilamentos 🚆

Durante o período de ação da quadrilha, trens começaram a descarrilar e tombar. Acidentes foram registrados em Limeira (SP) e Cordeirópolis. Segundo as investigações, em alguns casos, isso acontecia pela falta de peças na linha férrea, que se desfazia e fazia o trem descarrilar.

Em outras situações, também conforme as apurações, os próprios criminosos cortavam as mangueiras do trem e colocavam pedras no caminho para provocar os acidentes. As investigações apontam sítios como receptadores de farelo transportado.

Quais eram as funções dos integrantes? 📋

Conforme a apuração, cada um dos suspeitos possuía funções específicas no grupo, que eram as seguintes:

  • Furtar as ferragens;
  • Transporte do material com caminhão;
  • Separar o material;
  • Realizar a desconfiguração do trilho, para ele não parecer mais um trilho e não levantar suspeitas;
  • Busca compradores e fazer a negociação;
  • Fazer a venda para depósitos e “ferros-velhos”;
  • Compra das peças furtadas (por comerciantes, que também foram acusados);
  • Esconder os materiais ainda não vendidos embaixo de cargas legalizadas;
  • Repassar informações sobre eventuais ações policiais.

Segundo o delegado, durante as investigações também foi possível identificar que diferentes membros realizavam mais de uma função e que um comerciante que tem “ferro-velho” conversava com todos que furtavam, negociava, conversava sobre onde iria guardar os materiais e para onde iria levar.

Vendas em ‘ferros-velhos’, siderúrgicas e redes sociais 📲

Além de ferros-velhos e depósitos, as investigações apontam que até siderúrgicas na cidade de Piracicaba e próximo de Assis compravam o material.

E que redes sociais eram utilizadas para a comercialização dos produtos furtados.

Como a polícia descobriu o esquema? 🚔

Segundo a decisão judicial, as investigações começaram após comunicação de furto de grampos e trilhos de trem. Foram realizadas investigações em estabelecimentos agrícolas e “ferros-velhos”, que levaram à identificação de suspeitos.

Com base nestes indícios, foram solicitadas à Justiça autorizações para buscas domiciliares e interceptações telefônicas. Por meio deles, foram colhidas provas para acusação contra os investigados.

Qual era a dimensão do esquema? 🛤️

Interceptações telefônicas apontaram que os furtos chegaram a dezenas de quilômetros de trilhos ferroviários. Segundo o delegado, na região, foram apreendidas mais de vinte toneladas de trilhos furtados.

As investigações demonstraram que havia comerciantes que anunciavam esses ferros na região de Piracicaba e regiões Rio Claro, Ourinhos, Assis, Paraguaçu Paulista e Cândido Mota, que é inclusive limite ao Estado do Paraná.

Um dos denunciados seria um dos principais compradores das mercadorias. Ao ser preso temporariamente, ele foi flagrado com 18 toneladas de trilhos, segundo a investigação. A apuração também aponta uma suposta venda de trilhos pelo valor de R$ 133 mil.

Riscos a pessoas, meio ambiente e sistema financeiro 🚫

Em denúncia contra os acusados, a promotora de Justiça Aline Moraes cita os riscos que a prática causa.

“Colocam em risco a vida e a integridade física das pessoas que trabalham nos trens, além de transeuntes, pois têm o potencial de causar o descarrilamento das locomotivas”, alerta.

Ela acrescenta, ainda, riscos ambientais por derramamento de determinados tipos de cargas transportadas, e reflexo dos crimes no preço final para o consumidor, já que os prejuízos à transportadora refletem no valor do frete.

Operações já tinham levado a prisões 🚨

Entre 4 e 6 de janeiro de 2022, foi realizada a operação “Trilho de Ouro”, que prendeu seis pessoas e cumpriu 26 mandados de busca. Na última etapa da operação, conforme informações da Polícia Civil, houve ações em Ipeúna (SP) e Rio Claro (SP).

Além das duas cidades, durante toda a operação também houve ações em Cândido Mota (SP), Paraguaçu Paulista (SP) e Assis (SP).

Segundo a Polícia Civil, a operação possibilitou a recuperação de cerca de 22 toneladas de trilhos ferroviários, além de apreensão de armas e outros materiais utilizados durante os crimes.

O que diz a condenação? ⚖️

Os acusados foram condenados por associação criminosa. As penas impostas variaram de acordo com os indícios do envolvimento de cada um, que foram detalhados individualmente.

As penas impostas variam de um ano e um mês a um ano e sete meses de prisão, em regimes iniciais aberto ou semiaberto, de acordo com o caso.

“Ficou efetivamente comprovada a existência material do delito de associação criminosa […] [A atuação da quadrilha] ensejou dano a bem de utilidade pública e como perigo abstrato para trabalhadores e transeuntes, dado o risco de descarrilamento”, justifica a juíza Juliana Silva Freitas.

Três dos acusados confessaram, ao menos parcialmente, o envolvimento no esquema. Os demais negam as acusações. Cabe recurso contra a decisão.

Fonte: https://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2023/10/25/de-boom-em-preco-de-pecas-a-trens-descarrilados-entenda-como-funcionava-esquema-de-furtos-em-ferrovias-na-regiao-de-piracicaba.ghtml

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