Valor Econômico – Gestoras de investimento têm buscado oportunidades em debêntures de infraestrutura, mas não apenas naquelas que são oferecidas ao mercado. É crescente o movimento de casas que investem na originação e na estruturação de ofertas como uma maneira de obter maiores retornos com operações “customizadas”.
A JGP já atuava na originação de ofertas desde 2019, mas começou a focar esforços na busca de mais operações desde a fusão com a L6 Capital, boutique de investimentos focada em fusões e aquisições (M&A,na sigla em inglês) e produtos estruturados, em março deste ano. A L6, que hoje é chamada de JGP Financial Advisory, também tinha um braço de originação de crédito. O crescimento dessa área, porém, esbarrava na competição direta com bancos, que geralmente têm mais recursos e estrutura para dar garantia firme nas ofertas.
“A nossa ideia agora é aproveitar o contato que a JGP Financial Advisory tem com as companhias para buscar mais operações e, ao invés de dar a garantia firme, como os bancos, fazer a ancoragem em nossos fundos”, explica Antônio Pedro de Leão Teixeira, sócio e gestor da JGP responsável pela área de infraestrutura.
Na prática, originar uma oferta de debênture significa ter que ir atrás de companhias, entender os projetos e participar desde o início da operação, negociando detalhes como as garantias, os “covenants” e os prazos. “É um enorme benefício conseguir trabalhar para que as operações fiquem com a cara de um fundo, com o mandato de risco que temos”, diz Aymar Almeida, sócio e gestor de infraestrutura da Kinea, que faz originações desde 2017, quando a casa foi criada. “Hoje, cerca de 80% das nossas operações não estão disponíveis no mercado, foram originadas e ficaram na gestora.”
Para a JGP, a originação pode ser o caminho para conseguir taxas mais interessantes, considerando que as companhias pagarão menos nas operações. “O custo da oferta para as empresas acaba sendo menor porque não cobramos a garantia firme, mas também porque não precisamos cobrar taxas para vender em plataformas”, diz Teixeira.
Até o fim de janeiro, a JGP pretende listar um novo fundo de investimento em infraestrutura com planos de captação de R$ 300 milhões a R$ 400 milhões. “A ideia é ter até lá um ‘pipeline’ de ativos, com algumas originações proprietárias levantadas”, afirma Teixeira. O tamanho das ofertas originadas pela JGP é de R$ 50 milhões a R$ 300 milhões. A gestora pode ficar com toda a operação, dividi-la com fundos parceiros ou levar uma parcela dos títulos ao mercado.
Na Bocaina, dedicada a ativos alternativos, as operações que são originadas são “para consumo próprio”, diz Miguel Ferreira, que criou a gestora em 2020 ao lado de Gabriel Esteca. Isso, segundo os sócios, torna o processo de originação um pouco mais trabalhoso.
“Na dinâmica normal, os bancos fazem a originação e a estruturação, mas depois colocam tudo no mercado. Eles saem do risco por completo”, explica Esteca. “Quando a gestora faz uma operação dessas, já tem em mente que estará nela até o último ano. Então trabalhamos nas amarras de mitigação de risco, com os colchões de proteção, pensando já no longo prazo.”
As operações originadas pela Bocaina costumam ser de R$ 100 milhões a R$ 150 milhões. Com isso, a casa consegue chegar a empresas menores, que buscariam recursos em outros instrumentos, como dívida bancária. “Do nosso lado, isso é positivo porque conseguimos ofertas com risco adequado, em projetos que conhecemos com profundidade, e em que conseguimos bons níveis de retorno”, afirma Ferreira.
Uma das operações recentes feitas pela gestora de Ferreira foi a originação e estruturação de uma oferta de R$ 70 milhões em debêntures de uma companhia de saneamento. O título teve prazo de 17 anos e spread de risco de 2,75% acima da NTN-B 2035. “A emissão ficou com um dos maiores prêmios entre outras ofertas do setor”, diz Esteca. “Ficou bom para o emissor, que de outra forma talvez não conseguiria ir ao mercado de capitais, e fica bom para os investidores dos fundos, que conseguem um papel com uma taxa um pouco maior do que as disponíveis no [mercado] primário.”
A busca de mais gestoras por originação de dívidas é vista como algo positivo por Ferreira. “Quanto maior a profundidade do mercado de capitais, melhor. O mercado de infraestrutura é grande e, nas próximas décadas, o Brasil demandará bilhões e bilhões em recursos”, afirma.
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