No relativo, Brasil está atrativo para investidores estrangeiros, aponta BNP

Valor Econômico – Foi com tom de alívio e ponderado otimismo que os principais executivos no Brasil do banco francês BNP Paribas contaram a jornalistas nesta terça-feira suas percepções sobre como foi 2023 e o que está por vir em 2024 na economia, em emissões de dívida, no apetite de investidores nacionais e internacionais e também no ritmo de adesão da própria instituição financeira às práticas de sustentabilidade.

A desaceleração da economia global, a aceleração da inflação e o aumento dos juros nos Estados Unidos e os conflitos geopolíticos entre Rússia e Ucrânia e Israel e Hamas foram os principais eventos que fizeram o mundo patinar este ano.

No Brasil, depois de um primeiro semestre mais fraco, a recuperação do segundo período deve garantir o crescimento econômico dentro do esperado da instituição, em torno de 3%, conforme destacou Gustavo Arruda, chefe de pesquisa para América Latina do banco. “Estamos melhor do que se previa no começo do ano, mas continuamos com os mesmos desafios de sempre”, diz, se referindo especialmente ao risco de descontrole fiscal.

Pesando a favor do país, está a independência do Banco Central e a percepção de que o Brasil mantém estabilidade em suas instituições, algo que em outros países emergentes é questionável. A inflação sob controle e a expectativa de queda de juros no ano que vem também podem trazer um fôlego para a economia em 2024, em sua visão.

“Quando os investidores e empresas internacionais olham para os mercados emergentes, no relativo e por exclusão, o Brasil e o México são os que se sobressaem”, afirmou o CEO do BNP Paribas Brasil, Ricardo Guimarães. Ele cita que as emissões de dívida corporativa “verde”, atreladas a indicadores ou carimbos de sustentabilidade, são ainda atrativas apenas para investidores internacionais, com poucos locais entrando nas emissões.

Foi isso o que aconteceu, por exemplo, com a emissão de R$ 500 milhões em debêntures verdes da Companhia Energética do Rio Grande do Norte (Cosern), coordenada pelo BNP, que teve 90% de distribuição entre institucionais estrangeiros. Guimarães explica que o investidor local “ainda não dá valor” a títulos verdes, pois vê como um “sacrifício” ter uma rentabilidade um pouco menor, mas com um propósito por trás.

“Estamos melhor do que se previa no começo do ano, mas continuamos com os mesmos desafios de sempre”
— Gustavo Arruda

Nos investimentos, Luiz Sorge, CEO do BNP Paribas Asset Management Brasil, responsável pela gestão de R$ 85 bilhões, pontua que há espaço também para investimentos de fora nos fundos. “Uma política fiscal disciplinada pode trazer uma nova onda de apetite de investidores globais por carteiras locais”, diz. Ele pontua que a área não foi tão prejudicada com a forte saída de dinheiro de fundos multimercados e ações por ter tido uma boa captação em renda fixa. Outro acerto foi ter ficado longe do setor de varejo e, por isso, ter conseguido desviar do efeito de calote nos papéis da Americanas nos primeiros meses do ano.

Fábio Jacob, líder de Global Credit Markets Brasil, responsável por estruturação de dívidas, financiamentos e outros serviços para empresas, comenta que a “disfuncionalidade do mercado” após o caso Americanas e, em seguida, da companhia de energia Light, afetou o apetite dos investidores de dívida corporativa este ano, mas que o banco conseguiu atender a clientes. “Esperamos a retomada do crescimento do mercado de capitais em 2024”, afirma Jacob.

Ele aponta ainda dois temas “quentes” para serem observados ano que vem. O primeiro deles é o projeto de lei 2646 que tramita na Câmara dos Deputados e que cria o instrumento de debênture de infraestrutura, que diferencia da debênture incentivada, e que tem potencial de atrair investidores grandes.

Outra é a isonomia entre títulos públicos e privados na isenção de impostos para não residentes no Brasil. Neste caso, a medida provisória que ditava o tema caducou no fim do ano passado. “O pipeline de projetos, de infraestrutura e de outros, que precisam ser financiados no Brasil é gigantesco. Precisamos atrair diferentes bolsos e essa questão da isonomia é importante para isso”, afirma.

Fonte: https://valor.globo.com/financas/noticia/2023/12/06/no-relativo-brasil-esta-atrativo-para-investidores-estrangeiros-aponta-bnp.ghtml

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