Exclusivo: Na corrida para sucessão da Vale, mandato menor pode ser solução

Valor Econômico – A sucessão na presidência da mineradora Vale deverá ter desdobramentos nos próximos dias, apurou o Valor com fontes a par do assunto. Entre as alternativas estudadas, está a possiblidade de o atual CEO, Eduardo Bartolomeo, ser reconduzido para um mandato mais curto. Ainda não há, porém, martelo batido sobre o assunto.

O atual mandato do CEO da Vale é de três anos e haveria possibilidade de uma renovação por período menor, segundo uma das pessoas familiarizadas com o tema.

Uma reunião do conselho de administração da Vale está marcada para quarta-feira, 31 de janeiro, mas o tema sucessório não está na pauta do encontro, mas poderá ser incluído a tempo. Outra possibilidade é de o colegiado chamar uma reunião extraordinária antes dessa data para tratar especificamente da sucessão.

O tema do mandato mais curto para o CEO não está oficialmente em pauta no conselho, mas poderá vir a ser considerado.

Pelas regras de governança da Vale, Bartolomeo precisa ser informado se permanece no cargo quatro meses antes do término do contrato, que vence no fim de maio.

Significa que até o fim de janeiro o conselho precisa fazer a comunicação. Nos bastidores, comenta-se que o tema poderia estar encaminhado até o dia 25 de janeiro, data que se completa o quinto aniversário da tragédia de Brumadinho, que matou 270 pessoas em 2019.

Bartolomeo está em processo de avaliação pelos conselheiros, que precisam preencher formulários fazendo um relato da gestão do executivo. O executivo tem batalhado para permanecer no cargo, mas outros nomes têm sido apontados como potenciais candidatos a substitui-lo.

O nome do executivo Luis Henrique Guimarães, do grupo Cosan, está entre os cotados para assumir o comando da mineradora. Guimaraes é o nome de confiança do empresário Rubens Ometto Silveira Mello, dono da Cosan, que comprou uma participação de cerca de 5% da companhia no fim de 2021.

Uma fonte ligada ao governo disse ao Valor que o nome de Guido Mantega ainda circula nos bastidores de Brasília como potencial substituto de Bartolomeo. Segundo essa fonte, é preciso haver uma convergência entre os acionistas e governo para definir o que é importante para a gigante brasileira, explicando que tem o que é ideal e também o que é possível.

Mas o assunto é sensível, explica outra fonte. Em 2023, quando o nome de Guido Mantega circulou como uma indicação do governo para CEO e depois para compor o conselho de administração da Vale, as ações da companhia sofreram queda. No mercado, há um temor de que o ex-ministro da ex-presidente Dilma Rousseff seja o braço do governo na mineradora.

Cargos e influências

O governo Lula busca uma composição, embora a Vale seja hoje uma empresa de capital pulverizado, sem controle definido. Além da Cosan, a Vale tem outros acionistas relevantes, caso das gestoras americanas Black Rock e Capital, e da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. A japonesa Mitsui e a Bradespar, braço de participações do Bradesco, também são acionistas tradicionais da mineradora.

O que está claro é que o governo Lula busca se aproximar de empresas grandes, com cargos e influência, e que tenham uma agenda de descarbonização, incluindo iniciativas vinculadas ao desenvolvimento de hidrogênio verde no país. É o caso da Vale.

Bartolomeo tem dado respostas às demandas do governo, o que é lido no mercado como uma tentativa do executivo de se aproximar mais dos interesses do Planalto. A Vale tem discutido possíveis projetos com a Petrobras na área de hidrogênio verde e também avança com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a criação de um fundo de investimentos para financiar projetos de minerais críticos, como publicou hoje o Valor.

A novela na qual se transformou a sucessão na Vale se explica por vários fatores. Um ponto central é a governança da empresa, que estabelece um rito longo para a sucessão. Há ainda o interesse de vários grupos, incluindo o governo, em fazer o CEO.

A decisão final cabe ao conselho de administração, formado por 13 conselheiros dos quais oito são considerados independentes e cinco vinculados a acionistas de referência (Previ, Mitsui, Bradespar e o representante dos empregados).

Embora a escolha não vá se dar necessariamente por consenso, palavra difícil de ser aplicada em um colegiado em que deve prevalecer a pluralidade de ideias, o que se busca é algum tipo de conciliação de interesses. “Tem que haver razoabilidade”, disse uma fonte.

O que se pretende é chegar a algum alinhamento em busca do melhor interesse para a empresa e que não demonstre um conselho partido. Nesse trabalho, será preciso que os diferentes grupos abram mão de alguns interesses. “A maioria dos conselheiros tem que estar confortável com o nome do CEO”, disse uma fonte.

Os próximos dias serão importantes para fazer a costura entre acionistas e governo para que se defina quem vai comandar a gigante brasileira do minério de ferro e dos metais de transição energética.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/01/16/exclusivo-na-corrida-para-sucessao-da-vale-mandato-menor-pode-ser-solucao.ghtml

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