Associação ferroviária de Sorocaba planeja recuperar trecho de linha férrea para estender passeios de trem

G1 – Quem passa pela Avenida Dom Aguirre, perto da Praça Lions, no Centro de Sorocaba (SP), consegue observar vagões de trens parados na Estação Paula Souza.

Tem quem ache que o local está abandonado. “Isso aqui faz tempo que está abandonado. Um terreno tão bom desse, estar abandonado desse jeito”, lamenta Maria Aparecida Barreto.

E tem quem acredite que o local está sendo cuidado e torce para que os trens voltem a circular.

“Tem sempre alguém aqui, mexendo. Então não está abandonado”, ressalta Maria de Fátima da Silva, que todos os dias aguarda o transporte coletivo no ponto que fica em frente à estação.

As locomotivas e trens guardam parte da história do desenvolvimento de Sorocaba. O que parece sucata, tem muito valor para a “Sorocabana – Movimento de Preservação Ferroviária” (MPFS).

Desde 2015, Eric Mantuan está à frente da associação que faz o trabalho de recuperação dos trens. O acervo abriga trens com mais de 80 anos.

“Começando pelo trem Ouro Verde, que foi o primeiro trem de aço, construído na Alemanha em 1937 e tem muita importância tecnológica. O trem de luxo, construído nos Estados Unidos em 1951 e o trem super luxo, construído em 1973, sendo o primeiro trem feito em aço inox no Brasil”.

Para que parte dessas preciosidades voltem à circular, a associação precisa recuperar um trecho da linha férrea, que foi cedido ao movimento ferroviário e tem cerca de 6,5 quilômetros de extensão .

“A linha que liga Sorocaba a Votorantim tem 6,5 [quilômetros] de extensão, mas hoje a gente usa só 1,5 quilômetros, que está em condições de uso para passeios. Nossa urgência é recuperar o trecho e estender os passeios”, explica Eric.

No ano passado, a associação foi autorizada a captar cerca de R$ 970 mil por meio do Programa de Ação Cultural do Governo de São Paulo (Proac), que fomenta projetos para a cultura. Essa verba será usada para a restauração da linha férrea.

Mas para isso, a associação precisa conseguir captar doações das empresas, por meio do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias (ICMS). “Ao invés das empresas pagarem o imposto para o governo estadual, elas podem destinar parte para projetos da associação”, comenta o responsável pelo projeto.

Segundo Eric, com o dinheiro em caixa, a associação espera concluir o serviço de recuperação da linha em até 120 dias. “A gente quer fechar esse projeto com o trem de Natal, ainda esse ano, já com o passeio mais longo”.

Essa manutenção na linha inclui, inicialmente, a substituição dos dormentes, que são peças colocadas na travessia da linha, além da correção e alinhamento de bitola desse primeiro trecho.

A associação recebe os trens desde 2017. Atualmente, 29 carros de passageiros e cinco vagões de carga são abrigados na estação. Seis carros já passaram por algumas reformas e outros cinco aguardam projetos para iniciar o trabalho.

De todos os trens que a estação abriga, apenas um deles tem sido usado para os passeios turísticos que ocorrem em datas especiais, como aniversário de Sorocaba e o Natal. Depois da recuperação da linha, outros veículos também devem entrar neste trajeto.

“A perspectiva é restaurar mais dois carros, completando três para uso, que daria 206 lugares para passeios mais longos. Esse conjunto, depois de reformado, deve atender o passeio Sorocaba-Votorantim”, comenta o presidente.

Patrimônio para a população

Danilo Nunes, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ressalta que os patrimônios podem e devem ser aproveitados pela população. Porém, reforça que as associações responsáveis precisam manter o acervo protegido.

“Sempre que existe a possibilidade dos órgãos gestores de restaurar esses patrimônios, deixando eles em condições de uso, para que eles possam ser aproveitados. O Iphan é totalmente a favor disso. Mas, a associação precisa dar o mínimo de condição para que o bem não se danifique, mesmo com o uso. É preciso proteger o bem para que outras gerações também tenham acesso a ele”, reforça Nunes.

Em 2024, outro projeto cultural deve ser retomado pela associação. É o “cine vagão”, que exibe filmes dentro de um vagão histórico.

A iniciativa faz parte do conjunto de ações do Movimento de Preservação Ferroviária que busca manter a conexão entre os moradores da cidade e os trens.

“Muito provavelmente, qualquer pessoa da cidade, ou tem na família ou até mesmo trabalhou nas ferrovias sorocabanas. A perspectiva é, no futuro, devolver algo à população. Seja nos passeios de trem, seja utilizando esse espaço da estação. Promover cultura e preservar a memória das ferrovias e da população de Sorocaba.” finaliza Eric.

Empresas de qualquer cidade paulista podem destinar parte do ICMS ao projeto de restauração da linha férrea, comandado pela associação.

Para participar, é necessário que a empresa tenha calculado o ICMS no ano passado. Além disso, a empresa precisa estar em dia com as obrigações fiscais e fazer pedido de credenciamento prévio no site da Secretaria da Fazenda.

O prazo inicial para captar recursos era até 1º de março, mas será prorrogado, segundo a associação. Outras informações podem ser obtidas no link.

Já quem quiser contribuir financeiramente com a associação ou se tornar voluntário nos projetos, pode entrar em contato pela rede social ou pelo e-mail mpfsorocabana@gmail.com.

Fonte: https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2024/02/28/associacao-ferroviaria-de-sorocaba-planeja-recuperar-trecho-de-linha-ferrea-para-estender-passeios-de-trem.ghtml

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