Valor Econômico – À espera do decreto que vai trazer detalhes sobre as debêntures de infraestrutura, criadas no início do ano, os fundos de pensão se movimentam para pensar em estratégias e aproveitar as possibilidades que o novo instrumento deve trazer. Alguns deles, inclusive, estão buscando gestoras especializadas em crédito para desenhar mandatos, incluindo os novos títulos.
“Estamos com várias conversas nessa linha. Os fundos de pensão têm manifestado interesse e buscam estratégias que contemplem, por exemplo, investimentos nas debêntures de infraestrutura e em títulos institucionais”, diz Ulisses Nehmi, presidente da Sparta.
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Aymar Almeida, da Kinea, diz que há uma iniciativa dos fundos de pensão no sentido de planejar com as gestoras o que pode ser feito com os novos títulos. “Mas o que os fundos irão escolher vai depender principalmente de quais empresas irão ao mercado, da qualidade das companhias. Como é muito incipiente ainda, o movimento natural agora é o de estudar”, afirma.
Para as empresas, a possibilidade de acessar um investidor diferente, e com um bolso maior, deve ser considerada no momento de escolher entre emitir uma debênture de infraestrutura ou uma incentivada, que oferece a isenção fiscal ao investidor pessoa física. “Certamente, vamos continuar emitindo debêntures incentivadas e possivelmente algumas de infraestrutura, considerando que elas podem atingir um público diferente, formado pelos fundos de pensão. Com as taxas praticadas no mercado hoje, eles acabavam ficando de fora”, diz Antônio Tovar, diretor financeiro da Energisa.
Talvez a demanda dos fundos de pensão pelos títulos não seja tão imediata nem tão grande no curto prazo, mas as debêntures de infraestrutura certamente terão um apelo na diversificação, segundo Jarbas de Biagi, diretor-presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp).
“Como investidor institucional, vejo que a nossa vocação é investir na economia real, então as debêntures de infraestrutura são bem-vindas. A perspectiva é muito boa, considerando até mesmo que elas devem ter taxas mais atrativas”, afirma Biagi. Ele, no entanto, pondera que há questões a ser avaliadas além da rentabilidade, como a liquidez e a garantia, que podem fazer com que, no curto prazo, os títulos públicos saiam na frente na disputa.
As companhias que emitirem os títulos poderão deduzir da base de cálculo do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) 30% do valor que foi pago em juros aos investidores. O esperado é que o benefício dado às empresas se traduza no pagamento de taxas maiores nos títulos, ou seja, que ocorra uma “compensação” do benefício fiscal na forma de um rendimento maior.
O investidor institucional gosta do setor de infraestrutura porque é regulado, tem risco menor, além de maior previsibilidade, mas o fato das debêntures incentivadas terem uma remuneração mais baixa acaba os afastando, diz Nehmi.
Para as empresas de infraestrutura, a demanda dos fundos de pensão é positiva porque, além de ser um novo bolso que pode ser acessado, esses investidores costumam ter apetites por papéis de longo prazo. “No mundo, o grande financiador de infraestrutura é o investidor institucional, como fundos de pensão. Aqui, por outro lado, quem investe nas debêntures é a pessoa física, que não é o bolso mais adequado para financiamento de longo prazo”, diz Venilton Tadini, presidente-executivo da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).
As debêntures incentivadas ganharam um papel importante no financiamento das companhias principalmente a partir de 2017, quando houve um aumento das taxas dos empréstimos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), diz Tadini. Com as debêntures de infraestrutura, o esperado é que o mercado de capitais ganhe ainda mais relevância entre as fontes de recursos para essas empresas. O presidente da Abdib estima que pelo menos R$ 150 bilhões dos fundos de pensão possam ser usados para investimentos no novo instrumento.
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