A Tarde (BA) – O sonho de uma estação de metrô no centro de Lauro de Freitas está engavetado. Contratada junto à CCR, mas vinculada a um gatilho distante de ser atingido, a expansão do sistema metroviário para a região do Parque Shopping não é mais pensada pelo governo da Bahia como algo para o curto prazo.
Na avaliação da Companhia de Transportes do Estado da Bahia (CTB), é improvável que a meta de 6 mil passageiros por hora no período de pico do movimento, entre 17h e 19h, seja alcançada.
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“Está difícil de ser alcançada. Uma meta que acabou ficando difícil. A demanda do metrô foi estimada em cima de premissas que não se cumpriram. Hoje, a circulação do sistema inteiro está em torno de 400 mil passageiros por dia. Nossa previsão era que estivesse em torno de 600 mil. A gente está transitando em torno de 64%, 65% da demanda esperada”, revelou ao Portal A TARDE a presidente da CTB, Ana Cláudia Nascimento.
Segundo a dirigente, a demanda menor do que a projeção ocorreu porque, após a pandemia, o transporte público passou a ser menos acessado em todo o planeta, devido à popularização do chamado “home office”.
“A pandemia trouxe uma mudança de hábito que baixou o transporte público no mundo. Estima-se no mundo que 18% do transporte público caiu. Caiu e não vai voltar. Então, aquela curva de demanda nossa se perdeu. Porque entrou o teletrabalho e, mesmo que não seja um teletrabalho constante, em dois dias da semana você trabalha em casa”, analisou Ana Cláudia.
Questionada se ainda haveria chance do governo do estado realizar um reequilíbrio econômico-financeiro do contrato com a CCR Metrô Bahia, para desta forma viabilizar a construção da Estação Lauro de Freitas antes do gatilho ser atingido, a presidente da CTB argumentou que a falta de demanda faz com que seja inviável um investimento tão alto.
“A demanda de 6 mil talvez viabilizasse um investimento alto. Para eu levar, de onde estamos hoje até o Shopping Parque, seriam 3 km em elevado, porque seria em cima do canal. Seria uma obra cara para uma demanda que não justificaria o investimento. A população deseja? Sim. Mas essa solução que se pensou não se viabiliza”, lamentou Ana Cláudia.
Apesar disso, a gestão estadual já está pensando, junto à prefeitura de Lauro de Freitas, em uma solução alternativa para atender às necessidades da população da cidade no que diz respeito ao acesso ao metrô.
A ideia é que, a partir da duplicação da Rua Gerino de Souza Filho, mais conhecida como Estrada do Trabalhador, uma espécie de “shuttle” seja instalado, no modelo do que já faz o transporte de passageiros entre o metrô e o Aeroporto de Salvador.
Um total de R$ 155 milhões em verbas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) já foi liberado pelo governo federal para que a Conder (Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia) realize as obras de duplicação da Estrada do Trabalhador. Concluída a intervenção, o passo seguinte seria a compra de ônibus elétricos, para fazer o shuttle.
“A prefeitura de Lauro de Freitas entrou no PAC com um projeto de duplicação da Gerino, como uma opção para o trânsito sair da BA-099. Com isso, se estuda um sistema complementar de ônibus elétrico, que funcione como o shuttle do metrô. Seria como um metrô sobre rodas”, explicou Ana Cláudia.
No planejamento do governo da Bahia e da prefeitura de Lauro de Freitas, esse shuttle não iria apenas até o Parque Shopping, mas poderia ir até o Terminal de Portão, já nas proximidades da divisa com Camaçari, retornando para a Estação Aeroporto pela Rua Gerino de Souza Filho, o que atenderia a outros bairros populares da cidade, como o Caji.
“Com esse ônibus, há a possibilidade de esticar ainda mais, até o terminal de Portão, indo e voltando, como um shuttle. Para isso, também estamos estudando o sistema de transporte de Lauro de Freitas. É preciso arrumar o sistema de transporte da cidade, que ainda não tem um plano próprio de mobilidade. Moema [Gramacho, prefeita] pediu apoio da Sedur [Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano] e a Sedur está vendo de que forma pode ajudar a montar esse plano”, avaliou a presidente da CTB.
Com essa prefeita que durante anos aprovou a construção de enormes prédios onde haviam só chácaras, o trânsito em Lauro de Freitas só podia terminar nesse caos que a Prefeitura, agora, não sabe como resolver sem ajuda do Estado.