Folha de S. Paulo – Os paulistanos levam duas horas e 25 minutos, em média, para completar todos os seus deslocamentos diários na cidade de São Paulo. Para a população em geral, é praticamente o mesmo tempo que se gastava no trânsito há um ano —só um minuto a menos—, mas a situação piorou para quem usa o transporte coletivo.
Passageiros de ônibus, metrô e trem perdem em média duas horas e 47 minutos por dia em seus trajetos, o que significa dez minutos a mais em comparação com 2023. Os motoristas de carro, no entanto, tiveram alívio: hoje gastam duas horas e 28 minutos na soma de suas viagens diárias, 18 minutos a menos do que há um ano.
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Os dados são da pesquisa Viver em SP 2024: Mobilidade Urbana, da Rede Nossa São Paulo, realizada pelo Ipec (antigo Ibope). Foram entrevistados 800 moradores da capital com idades a partir de 16 anos, e a margem de erro é de três pontos percentuais.
Quando se compara o desempenho do transporte coletivo com o do carro particular, a pesquisa mostra uma troca desde o ano passado. Em 2023, motoristas de automóveis ficavam mais tempo no trânsito do que usuários do transporte público. Agora, a situação inversa é mais comum.
O tempo gasto no transporte público tem aumentado ano a ano desde 2021, segundo a pesquisa. No último ano antes da pandemia de Covid, em 2019, os passageiros do transporte coletivo gastavam 20 minutos a menos para completar todos os seus trajetos diários. Para a população em geral, o tempo de deslocamento na cidade já está no patamar pré-pandêmico desde o ano passado.
Esses resultados mostram uma tendência contrária ao que recomendam pesquisadores, entidades da sociedade civil e órgãos públicos. Há consenso de que é necessário investir no transporte público para mitigar problemas como congestionamentos, emissão de poluentes —veículos são a principal fonte de poluição do ar na cidade— e desigualdade de acesso à mobilidade.
“Temos uma demanda de 20 e poucos milhões de viagens por dia, e uma parte significativa desse contingente —que deveria usar transporte sobre trilhos e corredores de ônibus— migra para o carro, provoca o uso exacerbado de motocicleta, tudo de ruim”, diz o engenheiro Sergio Ejzenberg, mestre em engenharia de transportes pela Escola Politécnica da USP. “É desumano esperar o que se espera pelo ônibus em São Paulo, e isso gera um ciclo vicioso de destruição do modal: cai a demanda [por má qualidade], e então se reduz o número de ônibus, até o momento em que praticamente não tem mais.”
A pesquisa usa duas medidas para estimar o tempo gasto no trânsito: a soma de todos os deslocamentos realizados diariamente e a duração das viagens para realizar a atividade principal na rotina do entrevistado (trabalho e estudo, por exemplo).
No caso do tempo de deslocamento apenas para a principal atividade, a média é de uma hora e 38 minutos —15 minutos a menos do que no ano passado. Aqueles que usam o transporte público para essa atividade levam praticamente duas horas para esses deslocamentos, e a redução foi bem menor (de dois minutos em relação a 2023).
Além do maior tempo de deslocamento, a espera pela chegada dos ônibus também ficou mais longa. O tempo médio de espera pelo transporte municipal é de 24 minutos, três a mais do que há um ano —na zona leste, essa média é de 27 minutos.
Enquanto caiu a quantidade de pessoas que relatam esperar entre 5 e 15 minutos nos pontos de ônibus e terminais, aumentou a proporção de entrevistado que aguardam de 15 a 45 minutos pela lotação. O tempo de espera é um dos principais motivos citados por motoristas que nunca usam transporte público para essa decisão.
O ônibus municipal é o meio de transporte mais utilizado pela população da capital, o que repete o resultado de anos anteriores. Praticamente 4 em cada 10 (38%) afirmam que é o modal usado com mais frequência.
Ao mesmo tempo, o uso do carro como meio de transporte é de 23% no mesmo período, retornando ao patamar de anos anteriores.
A zona sul da capital é onde o tempo médio de deslocamento, independentemente do meio de transporte, mais aumentou. Os moradores dessa região levam duas horas e 46 minutos para completar seus trajetos diários, 22 minutos a mais do que no ano passado.
Coincidentemente, foi a região da cidade onde o uso do ônibus municipal —e do transporte público como um todo— mais diminuiu. Em setembro de 2023, 48% dos moradores da zona sul diziam usar o ônibus todos os dias ou quase todos os dias.
Um ano depois, aqueles que dizem o mesmo são 35%, uma queda de 13 pontos percentuais. Essa diminuição ocorreu principalmente entre os passageiros mais frequentes do transporte municipal.
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