Valor Econômico – A aprovação do Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono pela Câmara, em agosto, dará impulso extra aos projetos já anunciados no país, segundo empresas e especialistas do setor. A consultoria Mirow & Co aponta que o potencial de investimento é estimado em R$ 188,7 bilhões em locais como Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Piauí, Rio Grande do Norte e Minas Gerais.
Tida como a próxima fronteira energética capaz de substituir os combustíveis fósseis em fábricas, carros e aviões, o hidrogênio de baixa emissão pode colocar o Brasil como protagonista no cenário energético global, avaliam especialistas. O projeto, que ainda precisa passar pelo Senado, contempla o hidrogênio verde, que utiliza fontes limpas, como o vento e o sol, para gerar eletricidade. Há ainda os chamados hidrogênios azul e cinza, que usam o gás natural, podendo ou não contar com processos de captura e armazenamento de gás carbônico.
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Especialistas e empresas acreditam que os primeiros projetos de hidrogênio serão voltados para a exportação, em um processo em que o hidrogênio é transformado em uma versão líquida para facilitar o transporte. Esse hidrogênio pode ser usado para produzir amônia, matéria-prima para fertilizantes, ou metanol, utilizado como combustível para navegação e indústria química. Há quem projete também o uso como substituto dos combustíveis fósseis usados em fábricas e veículos.
Segundo Felipe Diniz, sócio da Mirow & Co, o Brasil possui vocação para a produção de hidrogênio, graças à abundância de recursos e a uma rede elétrica interligada. “O próximo passo é promover o consumo no país e ter agilidade nos processos de licenciamento. Hoje, a maior parte da demanda por hidrogênio verde, por exemplo, está na Europa, onde os incentivos disponíveis viabilizam a substituição de fontes energéticas de alta emissão por hidrogênio de baixa emissão”, diz Diniz.
Para impulsionar o setor, o projeto aprovado prevê que, entre 2028 e 2032, o governo concederá créditos fiscais de forma progressiva a empresas que produzam ou comercializem hidrogênio de baixa emissão de carbono e seus derivados, totalizando mais de R$ 18 bilhões em créditos. Um dos obstáculos ao avanço do mercado, conforme Bruna de Barros Correia, advogada do BMA, é a necessidade de uma infraestrutura adequada, que inclua redes de transporte e armazenamento eficientes. “Sem essa base, o crescimento do setor poderá ser limitado. Além disso, é crucial que se estabeleçam normas técnicas claras e um processo de certificação rigoroso. Isso garantirá a qualidade e a segurança ao longo da cadeia produtiva.”
Correia ressalta que a implementação de incentivos fiscais deve estimular não apenas grandes empresas, mas também pequenos produtores, de forma a promover um ambiente mais competitivo. “Para se destacar no mercado, será necessário um esforço coordenado entre governo, agência reguladora e setor privado para superar as barreiras e criar um arcabouço regulatório robusto e sustentável”, diz.
De olho nesse potencial, a Petrobras pretende investir, entre 2024 e 2028, cerca de US$ 5,5 bilhões, valor que inclui hidrogênio, captura de carbono, além de fontes solar e eólica. Recentemente, durante a inauguração do Complexo de Energias Boaventura, o presidente Lula disse que a estatal será a maior produtora de hidrogênio verde do mundo. A Eletrobras também acelera seus projetos de hidrogênio, firmando parcerias com a Paul Wurth, de Luxemburgo, e com o governo do Maranhão. No fim de 2023, iniciou a produção na unidade de hidrogênio renovável na fronteira entre Minas Gerais e Goiás.
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