Transição energética exige recursos e cronograma para substituir combustíveis fósseis

Valor Econômico – Há consenso sobre a necessidade de acelerar o processo de substituição de fontes de energia poluentes por outras que causem menos impacto ao planeta. A forma como se dará essa mudança em relação a financiamento e velocidade é um debate que se impõe. É também inegável que uma transição energética justa, eficiente e com emissão zero de carbono precisa ir aos poucos prescindindo dos combustíveis fósseis, mas com a indústria petrolífera integrada à expansão das fontes renováveis, que devem se complementar. Um esforço conjunto que deve reunir os diversos setores produtivos. A avaliação é de especialistas que participaram de um debate sobre a crise global do clima promovido pelo projeto G20 no Brasil, que reúne O GLOBO, Valor e rádio CBN, no dia 2 de outubro.

Considerando a necessidade de uma compreensão ampla dos setores, o gerente de sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Carlos Victal, destacou que, para que haja descarbonização na matriz energética, é fundamental que novas tecnologias sejam desenvolvidas. Ele lembrou que algumas iniciativas já dão resultados, como a captura e a estocagem de gás carbônico nos reservatórios de petróleo, processo que, segundo ele, o Brasil domina. Victal também defendeu que o setor que representa é estratégico na transição energética não apenas na redução da pegada de carbono em seus processos, mas para atrair investimentos.

“Um mundo descarbonizado não é um mundo sem hidrocarbonetos. O setor é também parte da solução. Não há democracia no mundo que vá manter essa pegada em energias renováveis se não conseguir entregar isso para a população. Nesse processo, quem dá lastro às energias renováveis é petróleo e gás. Tem que ter uma integração energética, um planejamento para saber utilizar a melhor fonte naquele local, naquele momento”, disse Victal

A transição energética passa por recursos e um cronograma de substituição do uso de petróleo e derivados, para dar espaço às fontes limpas de energia. Essa é a análise de Ricardo Baitelo, gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema). Ele destacou que, para isso, é preciso usar soluções tecnológicas em escala. Citou o setor elétrico como um dos que caminham nesse sentido, dando como exemplo o armazenamento de energia para substituir, no médio prazo, o acionamento de usinas térmicas, que queimam combustível e emitem gases poluentes. Porém, ainda é preciso avançar, principalmente na integração das matrizes, para suprir as demandas que surgem.

“Em outubro e novembro, a temporada do vento termina, e, todo dia, a geração solar acaba quando o sol se põe. E de onde vem a energia das 18 às 22 horas? O Brasil não tem problema de geração, mas para atender especificamente determinados horários, é perfeitamente possível fazer esse rearranjo. As hidrelétricas têm um papel de base, acompanhando a energia solar e eólica quando essas fontes estão intermitentes”, afirmou Baitelo. “O interessante para o Brasil é ter uma complementação das renováveis. Temos um parque essencialmente hidrelétrico, mas a biomassa, como uma térmica renovável e despachável, tem um papel que está sendo completamente sub-explorado”, acrescentou.

Gerente da área de responsabilidade social e meio ambiente da empresa de energia Engie, Flavia Teixeira reforçou que a transição energética precisa ser justa, mas trata-se de um processo que tem custos. Assim, torna-se fundamental atrair o capital privado. Ela cita, por exemplo, a instalação de data centers, gigantes no consumo de energia, na região Nordeste, grande produtora de energia eólica.

“Isso traz um desenvolvimento do que chamamos de powershoring, que é a busca por lugares que têm oferta significativa de energia renovável a um bom preço. Temos alguns gargalos a resolver, como infraestrutura e capacidade de licenciamento ambiental e marco regulatório compatível. Não é só transição energética, mas também tecnológica”, disse Teixeira. A conta deve ser paga de acordo com a capacidade financeira dos países.

Assessora de engajamento e mobilização do Observatório do Clima, Isvilaine da Silva, indicou que, em nível mundial, uma das saídas é a transferência de tecnologia e conhecimento entre os países mais desenvolvidos e com mais recursos. “A Europa depende menos do que alguns outros países de petróleo. Então, como é que a gente consegue trazer todo esse conhecimento que eles têm? É uma das coisas que as nações mais ricas podem fazer pelas menos desenvolvidas, uma das principais saídas para a gente conseguir ter essa melhor conduta e também transparência dentro dos espaços de transição energética.”

Fonte: https://valor.globo.com/brasil/g20-no-brasil/noticia/2024/10/11/transicao-energetica-exige-recursos-e-cronograma-para-substituir-combustiveis-fosseis.ghtml

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