Por RODRIGO CORDEIRO
Gerente de engenharia de desenvolvimento avançado na Greenbrier Maxion
O transporte ferroviário é conhecido por ser um dos mais efi cientes do mundo. Um trem realiza o deslocamento de grandes quantidades de carga com um baixo consumo relativo de energia, ou seja, a energia gasta para movimentar uma determinada quantidade de carga em um trem é muito menor do que em qualquer outro meio de transporte terrestre.
Com a crescente necessidade do atendimento de requisitos cada vez mais rígidos para questões sociais e ambientais, orientadas por uma agenda global ESG (Práticas Ambientais, Sociais e de Governança de uma organização), o balanceamento da matriz de transporte apresenta-se como fator decisivo. Uma matriz desbalanceada como a brasileira requer urgentemente uma maior participação do modal ferroviário.
Dois dos setores mais importantes para a economia brasileira vêm contribuindo para essa mudança. A exportação de produtos agrícolas e de minério de ferro tem naturalmente vocação para o transporte ferroviário e vem fomentando uma evolução muito grande em termos de capacidade de transporte, mas muito além disso apresentam ganhos significativos em eficiência energética, redução de emissões de gases poluentes e aumento da segurança operacional.
No entanto, mesmo com toda essa evolução, a movimentação dos nossos principais produtos de exportação ainda está longe de ser realizada de forma ideal. Grande parte destes produtos ainda são movimentados pelo transporte rodoviário em condições de alta ineficiência, emitindo grandes quantidades de gases poluentes e aumentando os riscos de acidentes nas estradas brasileiras.
Além da comparação entre o transporte ferroviário e o transporte rodoviário, a renovação da frota brasileira de vagões e locomotivas apresenta uma grande oportunidade para o aumento da eficiência energética e consequentemente da redução dos impactos ambientais gerados pela queima de combustíveis fosseis. De forma geral, a contribuição das locomotivas nesta questão é bem compreendida, no entanto, a contribuição dos vagões para o aumento da eficiência energética, que é tão ou mais importante, nem sempre é medida ou percebida de forma adequada.
Compreender o papel do vagão na redução dos impactos ambientais é simples. O consumo de combustível, e consequentemente a emissão de gases poluentes de uma locomotiva, é diretamente proporcional à resistência que o trem oferece para ser movimentado. Essa resistência ocorre devido a vários fatores, como características do terreno, traçado e qualidade da via, atrito entre roda e trilho, atrito de rolamento, capacidade do vagão se inscrever em curvas, arrasto aerodinâmico e muitos outros.
Olhando especificamente para as resistências ao movimento que são oferecidas pelo vagão, podemos estabelecer três aspectos mais representativos e que evoluíram ao longo do tempo, através do avanço da indústria brasileira, proporcionando vagões cada vez mais eficientes.
O primeiro aspecto diz respeito ao peso próprio do vagão, a tara. Sendo o peso máximo de um vagão limitado pela capacidade da via, a redução de seu peso próprio proporciona, por óbvio, o aumento da carga útil transportada e consequentemente sua eficiência. Não tão óbvia são as técnicas e recursos utilizados pela indústria para proporcionar a redução da tara mantendo, e às vezes aumentando, a resistência estrutural do vagão.
O segundo aspecto diz respeito à interação do vagão com a via. O aprimoramento dos componentes responsáveis pelo comportamento dinâmico, especialmente o truque, bem como os avanços nas ferramentas de engenharia que permitem definições mais precisas das características da suspensão, aumentaram, e muito, a segurança quanto ao risco de descarrilamento e reduziram a resistência ao movimento do trem.
O terceiro aspecto, que passa a ser relevante na operação ferroviária brasileira, é o arrasto aerodinâmico. Com velocidades cada vez mais altas sendo praticadas pelas ferrovias, passa a ser relevante no projeto do vagão um melhor perfil aerodinâmico. Essas melhorias já estão sendo consideradas nos projetos e apresentam aumentos significativos na eficiência energética.
O fato é que o transporte ferroviário brasileiro se apresenta como uma das maiores oportunidades de contribuição junto à agenda climática atual, reduzindo significativamente os níveis de poluição. Essas oportunidades passam pelo balanceamento da matriz de transporte, substituindo o transporte rodoviário pelo ferroviário onde ele é mais eficiente, renovando a frota de vagões e locomotivas por equipamentos modernos e investindo cada vez mais na evolução das tecnologias que levam a ferrovia à uma operação cada vez mais limpa.
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