Valor Econômico – Após a divulgação do balanço não auditado, na quarta-feira (26), em que a Cosan reportou prejuízo líquido de R$ 9,3 bilhões no quarto trimestre de 2024, revertendo lucro líquido de R$ 2,3 bilhões, a holding de Rubens Ometto afirmou que planeja apertar o cinto para buscar redução de até 30% da dívida nos próximos meses.
O rombo bilionário teve a ver, principalmente, com o “impairment” da posição na Vale, que respondeu por R$ 4,7 bilhões do total, além do prejuízo de R$ 1,2 bilhão da Raízen e uma baixa de R$ 2,8 bilhões em prejuízos fiscais. O relatório divulgado aponta que a dívida bruta da Cosan ao final do 4º trimestre foi de R$ 27,79 bilhões.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
Para reduzir a alavancagem, a Cosan vai ter de olhar mais para dentro dos negócios. Neste processo de colocar a casa em ordem, o CEO da empresa, Marcelo Martins, disse que avalia a entrada de parceiros, a diluição de participações em empresas, a revisão do portfólio e a captação de novos recursos.
A empresa recentemente vendeu sua participação na mineradora Vale, arrecadando R$ 9 bilhões para reduzir sua alavancagem financeira. No entanto, a operação ocorreu a um valor inferior ao registrado em balanço, resultando em perdas contábeis. Segundo Martins, a holding tem um “pool” de ativos que pode ser vendido, como o Porto São Luís, no Maranhão, além de terras da subsidiária Radar e ativos considerados menos relevantes.
“Não é realista assumir que vamos reduzir a dívida a zero num curto ou médio prazo. Precisaremos de mais tempo para isso. Mas eu acho que é possível, sim, assumir o compromisso de reduzir pelo menos, com a dívida que sobrou, uns 30% nos próximos meses. Este é o nosso objetivo”, afirmou Martins durante teleconferência.
O diretor financeiro, Rodrigo Araújo, admite a possibilidade de diluição da participação na Raízen e de venda de ativos de sua controlada para diminuir a alavancagem. Para ele, os setores de energia e renováveis são os que devem ter “entrada de parceiros” e nos quais a Cosan tem “disposição a se diluir”.
“A Cosan não vai colocar dinheiro na Raízen. Nossa prioridade clara é redução na alavancagem. A Raízen tem possibilidade de vender ativos bastante relevantes, que podem ter impacto na alavancagem e os dois acionistas estão conscientes disso”, disse.
A Cosan e a Cosan Nove Participações (que tem o Itaú com 27% de participação) detêm 44% das ações da Raízen, enquanto a Shell detém outros 44%. Os demais 12% estão na mão de investidores dispersos.
O CEO da Cosan negou que o grupo queira utilizar os dividendos de suas controladas para resolver sua situação de endividamento. Recentemente, cogitou-se a possibilidade de que a Cosan poderia assegurar dividendos de seus negócios para atender às obrigações financeiras do grupo, mas Martins negou essa alternativa. “Nós temos que nos adequar às limitações de dividendos possíveis no sistema para preservar o custo das empresas, não o contrário. As empresas não devem se adequar à nossa necessidade de manutenção da dívida”, defendeu.
“Não é realista assumir que vamos reduzir a dívida a zero num curto ou médio prazos”
A Compass, braço que atua no mercado de gás da Cosan, deve permanecer relevante no portfólio, já que a companhia aposta no contrato de fornecimento flexível de gás para termelétricas no leilão de segurança energética (reserva de capacidade). Contudo, os executivos não descartam que algum tipo de monetização parcial possa acontecer em empresas estratégicas com a chegada de um novo sócio.
Outras medidas, como pagamentos e alongamentos já realizados, foram direcionadas a dívidas de curto prazo e menor custo. No entanto, para avançar na desalavancagem, novos desinvestimentos se tornam necessários.
“O modelo daqui para frente passa muito mais por promover a agenda de crescimento nas investidas do portfólio por uma série de motivos. O fato, por exemplo, de o endividamento na holding ser mais ineficiente fiscalmente e muitas vezes a gente não conseguir ‘funding’ tão atrativo. Como as investidas conseguem ‘funding’ subsidiado, todas as investidas conseguem fazer parcerias com sócios estratégicos. E porque não controlamos 100% do fluxo de dividendos dos negócios”, disse.
Os executivos culpam principalmente a escalada de juros para o momento ruim da empresa. Ao longo de 2024, houve uma alteração relevante das expectativas de inflação, da trajetória de endividamento no Brasil, além do início de um novo ciclo de alta de juros, elevando as expectativas das taxas futuras.
O processo de desinvestimentos e amortização de dívidas da Cosan ganhou força no fi do ano passado, quando a empresa e sua controlada, Raízen, sentiram os impactos da alta dos juros sobre o endividamento. Em evento, Ometto disse que a alta taxa de juros é o que “mais atrapalha” o empresariado brasileiro e o deixa “vagabundo”.
Seja o primeiro a comentar