Em meio à transição de gestão da SuperVia para o Estado, usuários de trens passam sufoco para chegar ao trabalho

O Globo – Em meio ao processo de transição da gestão do sistema de trens da SuperVia para o governo do estado, iniciado há cerca de dois meses, usuários ainda estão à espera das melhorias prometidas. Na manhã desta quarta-feira, os passageiros do ramal de Saracuruna enfrentaram sufoco para conseguir chegar ao trabalho. Até o começo da tarde, pelo menos cinco estações entre o Corte Oito, em Duque de Caixas, e Saracuruna, permaneciam fechadas. Para conseguir chegar ao seu destino, muita gente precisou caminhar nos trilhos e buscar outras formas de transportes, como ônibus e vans.

No começo da manhã, uma composição parou na estação de Vigário Geral e os passageiros tiveram de saltar e andar pelos trilhos. A concessionária informou que “por causa da falta de energia, às 6h05, trens do ramal Saracuruna vão circular somente entre a Central do Brasil e a Penha. Passageiros de um trem nas proximidades da estação Vigário Geral precisaram desembarcar na via com auxílio dos agentes da SuperVia. Técnicos da rede aérea já foram acionados para realizar os reparos necessários e investigar as causas do ocorrido”.

Mais tarde, em novo comunicado, a concessionária informou que os trens já estavam circulando entre a Central do Brasil e Duque de Caxias, com intervalo de 20 minutos. O trecho entre Corte Oito e Saracuruna, no entanto, se encontrava fechado para embarque e desembarque, “em função de uma ocorrência no sistema de rede aérea”. Segundo a nota, técnicos seguiam atuando para realizar os reparos necessários e investigar as causas do ocorrido.

A SuperVia informou que, por conta do problema, distribuiu aos usuários prejudicados, os cartões do “Siga Viagem”, com valor correspondente a uma passagem para serem utilizados em outro meio de transporte. A recomendação é para que o cartão seja utilizado no mesmo dia, embora tenha validade de sete dias. Segundo a concessionária, a modalidade é fornecida ao passageiro a partir de 30 minutos de interrupção na viagem, mas não informou quantos foram distribuídos nesta quarta-feira.

Nas redes sociais, alguns usuários relataram terem visto fumaça saindo da composição que parou: “Quando não é roubo de fio é o trem pegando fogo. Meu Deus, esse ramal de Saracuruna é amaldiçoado mesmo”. Outro se queixou: “A cada dia que passa é um problema diferente no ramal de Saracuruna”. Há relatos, ainda, de que algumas pessoas passaram mal.

Um carro da concessionária deu suporte ao transporte de alguns poucos passageiros, como idosos, que tiveram que andar nos trilhos, como mostrou o “Bom Dia Rio”, da TV Globo. Um funcionário ajudava uma mulher a caminhar até o veículo.

— Tive de voltar para Gramacho, que era mais próximo, para pegar um ônibus para seguir para o trabalho. É horrível. Esses problemas já viraram uma rotina. A gente que precisa dos trens passa sempre por isso. Mais uma vez vou chegar atrasada no trabalho — reclamou a doméstica Edileuza Noronha, de 45 anos, que mora em Duque de Caxias e trabalha na Barra da Tijuca.

A Justiça aprovou, no começo de dezembro, o acordo celebrado entre estado e SuperVia para viabilizar a transição da operação do serviço de trens urbanos no Rio. Na mesma ocasião, foi referendada a indicação do administrador Cesar Ferraz Mastrangelo, ex-presidente da Agência Reguladora de Transportes (Agetransp), para atuar como observador do poder público, na prática uma espécie de interventor, encarregado pelo estado de “orientar e acompanhar as decisões operacionais e financeiras da SuperVia durante o período de transição, previsto para durar de seis a nove meses”.

—Isso tudo é fruto de desmandos de vinte e poucos anos e a SuperVia não está fazendo a manutenção necessária. Sempre aconteceu isso. Hoje eu cobrei do presidente (da concessionária). Tem que fazer investimento. A gente está assumindo o serviço, se Deus quiser, até o meio do ano — afirmou o secretário de estado de Transportes e Mobilidade, Washington Reis.

Reis explicou que embora o processo de transição tenha iniciado há cerca de dois meses, o controle da operação ainda está nas mãos da SuperVia, devendo passar ao estado somente em julho, se o período de transição não for estendido, como previsto por ele. Segundo Reis, no momento, o observador designado pelo Estado cumpre função meramente burocrática acompanhando., por exemplo, uma auditoria dos ativos e passivos do serviço de trens.

O acordo previa um investimento de R$ 300 milhões dos sofres públicos. Segundo o secretário a liberação é parceladamente e os recursos destinam-se a manutenção da operação dos serviços, podendo ser direcionados para pagamento de pessoal, energia e manutenção.

O secretário acrescentou que paralelamente à transição está preparando a licitação para a escolha de um novo operador. A intenção é que seja um sistema semelhante ao das barcas, em que o controle da operação fica nas mãos do estado. Washington Reis disse ainda que deseja instituir uma tarifa única para os transportes no valor de R$ 4,70 para toda a Região Metropolitana. A intenção é começar pelas barcas e trens e depois chegar ao metrô. Mas não explicou como vai viabilizar esse valor.

Ele disse ainda que a concessão prevê investimento na ordem de R$ 1,2 bilhão para estabilizar o serviço e prometeu ainda a compra de 30 novas composições, em abril, para poder ampliar o número de passageiros, atualmente estimado em 340 mil diários.

Para o engenheiro Ricardo Muci, especialista em sinalização metroferroviária, um dos principais problemas dos trens atualmente é a falta de manutenção. Na sua opinião a prioridade deveria ser recuperar a via permanente e investir na melhoria da sinalização e modernização de subestações, antes de pensar na compra de novos trens.

—Não sou contra que se compre trens. Sou um entusiasta, sempre trabalhei em ferrovia e metrô, gostaria de ver aquilo a pleno vapor, funcionando. Agora, direcionar recursos antes de consertar o básico não dá. Se você não tiver uma via permanente em condições vai botar os trens e não vai tirar proveito deles. Duvido que as subestações tenham condições de aguentar mais carga. A sinalização está degradada por roubos, vandalismo e obsolescência de equipamentos. Algumas cabines incendiaram. O foco principal deveria ser na garantir a segurança da operação — cobrou.

Agetransp vai analisar ocorrência desta quarta

A Agetransp informou que está abrindo um processo para analisar a ocorrência desta quarta-feira, inclusive a distribuição do “Siga Viagem”. Em caso de descumprimento da resolução, poderá gerar penalidade à concessionária, informou.

Em 2024, a agência aplicou à concessionária seis multas, mas não informou valores. A Supervia apresentou recurso em relação às multas, que estão em tramitação por força da legislação.

Em 2024, 7.662 viagens foram canceladas, sendo 6.263 justificadas. As maiores justificativas da concessionária foram questões relacionadas a furtos de cabos, com 477 casos em 2024. Na Supervia, em 2024, foram realizadas 54.738 viagens, com 370 atrasos, informou a agência.

Fonte: https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2025/02/19/em-meio-a-transicao-de-gestao-da-supervia-para-o-estado-usuarios-de-trens-passam-sufoco-para-chegar-ao-trabalho.ghtml

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