Perspectivas do transporte de passageiros sobre trilhos no Brasil em 2025

Sérgio Avelleda
é sócio-fundador da Urucuia: Mobilidade Urbana e coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper

O transporte de passageiros sobre trilhos no Brasil vem ganhando crescente atenção como uma solução sustentável, eficiente e indispensável para os desafios da mobilidade urbana e regional. Em 2025, o setor vai vivenciar um momento de transformação, impulsionado por novos investimentos anunciados pelo Governo Federal, governos estaduais e pelo setor privado.

O Brasil possui uma malha ferroviária predominantemente voltada para o transporte de cargas, mas o transporte de passageiros sobre trilhos tem mostrado sinais de revitalização, especialmente em grandes centros urbanos. Com diferentes tipologias de sistemas em operação em diversos estados, o país busca expandir sua oferta para atender à demanda crescente por mobilidade sustentável.

Apesar dos avanços, ainda há um déficit significativo na cobertura de serviços ferroviários de passageiros. A alta dependência do transporte rodoviário, que domina a matriz brasileira, impõe desafios econômicos, sociais e ambientais, tornando os investimentos no setor ferroviário uma prioridade.

Em 2025, o Governo Federal intensificou seus esforços no setor ferroviário como parte do programa “Novo PAC” (Programa de Aceleração do Crescimento), com foco em projetos que ampliem a integração ferroviária. Entre os investimentos anunciados tem destaque a implantação do Trem Intercidades (TIC), em parceria com o estado de São Paulo. Este projeto promete melhorar a conectividade regional e impulsionar o desenvolvimento econômico ao longo do corredor. Foram anunciados investimentos para expansão de metrôs e trens urbanos, buscando atender a populações periféricas e reduzir desigualdades no acesso ao transporte. O Governo também destinou recursos para estudos de viabilidade de novos projetos ferroviários interestaduais.

Governos estaduais têm desempenhado um papel ativo na ampliação e modernização dos sistemas de transporte sobre trilhos. Em São Paulo, o estado segue com a expansão de linhas do metrô e modernização da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). A concessão de linhas como a 8-Diamante e 9-Esmeralda em 2021 serviu de modelo para atrair capital privado. Após um período difícil de transição, a Concessionária parece estar completamente sobre domínio da situação, com uma redução impressionante dos incidentes. A CCR anunciou investimentos de quase 1 bilhão de reais nos sistemas por ela operados. Projetos como o Monotrilho da Linha 17-Ouro também avançaram em direção à conclusão, além do já agendado leilão das Linhas 11, 12 e 13 da CPTM. No Rio de Janeiro: aguarda-se com ansiedade o desfecho da retomada da fracassada Concessão da Supervia. Espera-se que o Governo do Rio tenha habilidade para desenhar um projeto que atraia novos entrantes para a revitalização da ferrovia de passageiros da região metropolitana. Não será tarefa fácil, mas não é impossível. No Nordeste, o grande acontecimento deve ser a concessão do Metrô de Recife, que reclama prioridade e investimentos.

O setor privado tem se mostrado cada vez mais interessado no transporte ferroviário de passageiros, especialmente após a regulamentação do Marco Legal das Ferrovias, que permite investimentos por autorização.

Apesar dos avanços, o setor enfrenta desafios importantes. A Complexidade Regulatória torna indefinida a articulação entre diferentes esferas governamentais. A falta de autoridades metropolitanas dificulta o alcance da plena eficiência dos sistemas, prejudicando integrações multimodais. Construir modelos de financiamento sustentável demanda talento para a atração de investidores e a garantia da modicidade tarifária.

Por outro lado, as oportunidades são significativas. A agenda da sustentabilidade, queira o presidente dos EUA ou não, será a guia para a proteção do planeta. O transporte ferroviário é mais eficiente em termos de emissões de carbono, alinhando-se às metas de redução de emissões do Brasil. Além disso, a expansão das ferrovias pode impulsionar economias locais e reduzir desigualdades regionais.

Ainda há muito a ser feito, mas o cenário atual indica um caminho promissor para o setor ferroviário, que tem o potencial de se tornar um pilar fundamental na matriz de transporte brasileira, contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental do país.

Por fim, vale salientar que o ambiente macroeconômico é desafiador, com uma crescente incompatibilidade entre SELIC e “Tirs” de projeto. Não será fácil a atração de capital privado com esse desalinhamento. Vai ser preciso criatividade e ousadia.


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