Valor Econômico – Investidores chineses voltaram a aparecer nos processos de fusão e aquisição (M&As, na sigla em inglês) no Brasil, após alguns anos com apetite mais morno por ativos no país. Segundo banqueiros de investimento, o interesse ainda é basicamente restrito aos setores de infraestrutura, incluindo logística, energia, e mineração, mas também começa a emergir em tecnologia, mais voltado a infraestrutura de dados.
Dentre as operações recentes com compradores chineses está a venda da Vast Infraestrutura, da Prumo Logística, para a China Merchants (CMP). A fabricante de pás eólicas chinesa Sinoma Blade chegou perto de comprar a brasileira Aeris, que tenta superar uma crise financeira, também neste ano.
No fim do ano passado, a estatal China Nonferrous Metal Mining Group (CNMC) comprou por US$ 340 milhões as operações de estanho, nióbio e urânio da mineradora peruana Taboca no Amazonas. Segundo uma fonte, a transação com os ativos de energia da Vale, a Aliança, também envolveu um candidato chinês, que participou ativamente do processo.
Agora, o olhar dos chineses nessa nova era de investimentos se dará mais presente no Brasil também em infraestrutura de dados, em data centers, acreditam especialistas. Esse movimento também decorre de uma grande corrida mundial pelo serviço, à medida que cresce a demanda, puxada também pela inteligência artificial. O Brasil se destaca por possuir área e energia limpa disponíveis, algo que já entrou no radar. Outro setor será o de minerais críticos e ativos de energia renovável, com a atenção voltada para a transição energética.
No mercado, ainda existe a leitura de que a recente guerra comercial entre Estados Unidos e China tende a aumentar o interesse de empresas chinesas no Brasil, segundo banqueiros de investimento.
“Os chineses estão envolvidos nos processos”, comenta o chefe global do banco de investimento do Itaú BBA, Roderick Greenlees. Segundo ele, a indústria de M&A no Brasil tem observado neste ano, de forma geral, uma maior presença dos estrangeiros. O executivo aponta que o retorno do olhar da China a outros mercados também se deve às restrições, ao longo dos últimos anos, na relação com os Estados Unidos. “A América Latina voltou a ser uma alternativa”, comenta.
A nova onda de interesse, no entanto, não começou a surgir neste ano. O responsável pela área de clientes corporativos do BNP Paribas no Brasil, Fabio Mourão, diz que nos setores tradicionais, como infraestrutura, o interesse chinês aumentou nos últimos 18 a 24 meses, ou seja, ainda sem relação com a atual guerra comercial entre Estados Unidos e China. “Um novo interesse se deu no setor de data center, com o chinês mais ativo procurando opções no Brasil”, afirma Mourão.
Já o chefe do banco de investimento do UBS BB, Anderson Brito, diz que as operações de M&A no Brasil tiveram maior presença de nomes chineses entre 2009 e 2015, com recuo depois disso. Agora, aparece um novo apetite. O executivo aponta que, desde 2018, com o início da guerra comercial entre China e Estados Unidos, os investimentos do país asiático diminuíram por lá, levando-os a olhar para outras geografias. “Temos alguns mandatos entrando que envolvem o interesse chinês, com foco em mineração, infraestrutura e serviços financeiros”, diz.
Antonio Coutinho, responsável pela área de M&A do Citi na América Latina, confirma que os chineses estão mais ativos nas negociações, em especial em mineração e infraestrutura. “Não se trata ainda de um ‘boom’ chinês, mas, de forma moderada, existe interesse”, comenta. Segundo o executivo, nos processos que estão na rua, se percebe também o interesse de novos nomes, ou seja, ainda sem presença no país.
O apetite tende a aumentar. O diretor de conteúdo e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China, Túlio Cariello, aponta que, nos anos 2000, a China direcionou seus investimentos para Estados Unidos e Europa, mas passou a olhar outros mercados mais recentemente por causa das restrições impostas por muitos países. Por isso, com a nova animosidade entre EUA e China sob o contexto da guerra comercial, é de se esperar novo aumento, diz. Uma das vantagens do Brasil, de acordo com Cariello, é o tamanho de seu mercado consumidor. Segundo ele, o investimento pode se dar tanto via M&A quanto em projetos erguidos do zero (“greenfield”).
Li Yong Hong, CEO e sócio da Yafela Investimento, firma chinesa de comércio exterior e de M&A, acredita que o interesse chinês vai crescer em relação ao Brasil, mas os primeiros efeitos devem ser percebidos no comércio entre os países e, em um segundo momento, em novos investimentos. Ele aponta que a tendência ainda é de acordos para joint ventures, algo que ajuda por causa de eventuais diferenças culturais. No Brasil, a Yafela possui uma parceria com a Volt e se espera que o primeiro negócio fruto do acordo seja formado em breve, diz o sócio-fundador da Volt, Henrique Faria.
O interesse não tem sido apenas em compra de ativos no Brasil. O diretor de fusões e aquisições do Banco Fator, Celso Nishihara, afirma que a leitura é que houve um interesse mais significativo nos últimos dois anos, não só em M&A mas também via investimentos diretos. Além do interesse em energia e mineração, o executivo aponta o novo olhar no setor automotivo, com a produção local de duas montadoras chinesas, a GWM e a BYD.
Seja o primeiro a comentar