‘Precisamos fazer esse acerto, é referente ao Metrô’

“Acho que
você está entregando isso para a pessoa errada”, teria dito o diretor da
Camargo Corrêa, Eduardo Maghdman ao seu superior, Jorge Yazbek, quando recebeu
dele, em 2011, um contrato frio de obras em Jundiaí e na Rodovia Raposo Tavares
com o fim de desviar dinheiro da Linha 5 – Lilás, do Metrô de São Paulo. Ambos
são delatores e seus depoimentos embasaram uma denúncia e uma ação civil
pública contra o ex-diretor da Companhia, Sérgio Corrêa Brasil, por propinas de
R$ 2,5 milhões.

Eduardo, que
entrou na Camargo em 1992, como trainee, chegou ao cargo de diretor
operacional, posto que ocupou quando foi chamado para ficar à frente de obras
da construção da Lilás, em 2011. Ele diz que, quando chegou, seu superior lhe
entregou um contrato. “Eu perguntei: do que se trata isso? é um acerto que
precisa ser feito, não pergunta muito, precisamos fazer esse acerto”.

“Não fiquei
confortável porque eu não sabia do que se tratava e, quando eu tomei
conhecimento de que o escopo do contrato era algo que nada tinha a ver com o
Metrô. Era um estudo de viabilidade para uma obra na raposo tavares e outro
estudo de trevo de jundiaí, não tinha nada a ver com metrô”, narra.

Ele conta
ter questionado. “Eu: o que é isso aí, não é nada de Metrô, isso aqui não é
comigo, acho que você está entregando isso para a pessoa errada. Ele [Yazbek]:
‘Não pergunta muito’.. como ele era meu chefe há dois meses, eu não insisti
muito porque eu percebi que ele estava ficando incomodado e irritado com meu
questionamento”.

Maghdman
afirmou ter ligado para a pessoa indicada para ‘trocar CNPJs’ e elaborar um
contrato para a operacionalização dos pagamentos. “Eram dois contratos. Cada um
no valor de R$ 1,25 milhão nos quais eu teria que pagar cada contrato cinco
parcelas de R$ 250 mil. Quando terminasse de pagar o primeiro, começaria a
pagar o segundo. A pessoa me confirmou que era dessa forma mesmo”.

Ao contrário
de outras empreiteiras, como a OAS e a Odebrecht, que confessaram às
autoridades ter um departamento para repasses de propina e caixa dois, os delatores
da Camargo Corrêa dizem que pagamentos dessa ordem eram feitos somente por
contratos ‘simulados’ com empresas que serviriam para gerar dinheiro.

“Conversei
com ele [Sergio Brasil] sobre a forma de pagamento. Falei que a Camargo não
conseguiria pagar em dinheiro e que precisaria de uma empresa, um fornecedor
para que pudesse gerar…”, afirma Jorge Yazbek.

As
declarações dos delatores embasaram uma denúncia por corrupção passiva e
lavagem de dinheiro oferecida em maio e uma ação de improbidade administrativa
em agosto contra Sérgio Corrêa Brasil e contra o dono da empresa AVBS, Gilmar
Alves Tavares.

A Linha 5 –
Lilás, do Metrô, é pivô de outra ação de improbidade, que levou à condenação do
ex-secretário de Transportes Metropolitanos, Sérgio Avelleda. Atualmente, ele é
secretário municipal de Gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB). Solidariamente,
ele foi sentenciado à perda de função pública e suspensão de direitos políticos
pelo prazo de cinco anos por improbidade administrativa e ao pagamento de R$ 326,9
milhões de ressarcimento do suposto prejuízo aos cofres públicos.

 

COM A
PALAVRA, O ADVOGADO DANIEL CASAGRANDE, QUE DEFENDE SÉRGIO CORREA BRASIL

 

Sérgio
Correa Brasil colocou-se à disposição do Ministério Público para prestar todas
as informações necessárias ao término do procedimento de investigação,
oportunidade em que iria demonstrar a inocorrência de qualquer irregularidade,
mas não foi intimado a tanto. Portanto, aguarda citação para apresentar defesa
nos autos da ação de improbidade. Desde já assevera que nunca exigiu, solicitou
ou recebeu qualquer vantagem indevida em razão de sua função, bem como consigna
que os fatos narrados pelos sedizentes colaboradores não correspondem à
verdade.

 

COM A
PALAVRA, SÉRGIO AVELLEDA

 

O secretário
Avelleda não é acusado de fraude, não participou da elaboração do edital, não
realizou a licitação, e também não assinou qualquer contrato referente à
concorrência da Linha 5 do Metrô. Não há nenhuma referência ao secretário em
atos de corrupção.

A única
acusação feita contra Avelleda é ele ter dado continuidade aos contratos de
execução da Linha 5, enquanto presidente do Metrô. O próprio Tribunal de
Justiça, por duas vezes, já havia confirmado a decisão de Avelleda de ter
mantido os contratos da Linha 5, pois do contrário haveria enorme prejuízo à
população de São Paulo.

O Cade
(Conselho Administrativo de Defesa Econômica) já arquivou essa investigação.
Cabe ressaltar que a Linha 5 está pronta, com estações sendo entregues à
população. Se tivesse anulado os contratos, as obras não teriam sido
realizadas, causando grande impacto na mobilidade da cidade.

 

Fonte: https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/precisamos-fazer-esse-acerto-e-referente-ao-metro/


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