“Queremos construir uma ponte entre o Brasil e a
China”, reafirmou ontem Erik Fyrwald, presidente da suíça Syngenta,
durante evento realizado em Basileia, na Suíça, um dia depois de uma reunião do
conselho de administração da companhia formalizar a ChemChina como sua nova
controladora.
O Brasil já responde por 20% do faturamento da múlti, atrás
apenas da América do Norte (EUA e Canadá), que em 2016 representou 25% de um
montante global de US$ 12,8 bilhões. Cerca de 67% das vendas da divisão
“América Latina” da Syngenta, que foram de US$ 3,3 bilhões, tiveram
origem no Brasil.
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“O Brasil é um mercado de grande importância para nós e
já é um grande exportador para a China. Queremos ajudar os fazendeiros
brasileiros a produzirem mais e com mais qualidade para aumentar os embarques
ao mercado chinês”, afirmou Fyrwald.
No ano passado, o Brasil exportou 38,8 milhões de toneladas
de soja para a China. E o executivo aproveitou esse dado para destacar, mais
uma vez, a importância dos mercados emergentes, como Brasil e Argentina, nos
resultados globais da Syngenta. “Da nossa receita total, 53% vêm de
mercados emergentes. Nenhuma outra empresa faz isso”.
Sobre a importância do Brasil para a China, o executivo
destacou que “há uma boa simbiose entre o crescimento do mercado
brasileiro e as necessidades da China”. “Na agricultura, o Brasil
está fazendo um trabalho excelente. Podemos aprender a partir da experiência
brasileira para desenvolver a agricultura na China”, completou Ren
Jianxin, fundador da ChemChina e presidente do conselho de administração da
Syngenta desde segunda-feira passada.
Parcerias com tradings continuarão no Brasil como uma forma
de financiamento e de não perder mercado para grandes distribuidoras. No ano
passado, as operações de barter (troca de insumo por produção) representaram
cerca de 17% das vendas da Syngenta no Brasil.
No mercado de defensivos agrícolas, a Syngenta é atualmente
a líder do mercado brasileiro, mas depois da conclusão da venda da americana
Monsanto para a alemã Bayer o cenário será outro. “Vamos trabalhar muito
para manter nossa posição e sermos competitivos nessa área. Ainda há muito
espaço para crescer”, ressaltou Erik Fyrwald.
E o mercado trará vários desafios para a “nova
Syngenta”. Um deles é desenvolver a agricultura de um país continental
como a China, que tem uma produção de soja de apenas 15 milhões de toneladas.
“A China é um grande mercado, com muitos e muitos fazendeiros e muitas e
muitas bocas para alimentar. O ponto é que hoje tem um desempenho na
agricultura atrasado em relação aos padrões globais”, reconheceu ele.
O executivo afirmou que, com tecnologia, a companhia será
capaz de ajudar a melhorar o desempenho da agricultura do país. “Com os
serviços certos e treinamento apropriado, melhoraremos o desempenho da China,
tornando as culturas mais eficientes”, disse. “E esperamos, entre
cinco e dez anos, crescer em todos os lugares do mundo [a expectativa da
empresa é que sua receita global dobre nesse período], mas na Ásia e no
Pacífico, particularmente na China, acreditamos que apresentaremos um avanço
mais rápido”. Em 2016, a receita vinda da área Ásia-Pacífico da Syngenta
foi de US$ 1,9 bilhão, ou cerca de 15% do total.
A experiência no Brasil pode ajudar a Syngenta não somente a
melhorar o desempenho na China, mas a elevar sua participação em mercados da
África, onde a companhia já tem unidades de produção ou pesquisa em Zâmbia,
África do Sul, Egito, Marrocos, Jordânia e Quênia. Além disso, há operações no
Senegal, Costa do Marfim, Gana, Burkina Faso, Nigéria, Algéria, Tunísia, Libia,
Sudão, Etiópia, Uganda, Tanzânia, Congo, Malawi, Angola, Namíbia, Zimbabue e
Moçambique.
Embora uma das principais metas seja melhorar o desempenho
da China, os executivos reafirmaram o compromisso de a companhia permanecer
globalizada e sem mudar seu país-sede. “A Syngenta continuará a ser uma
empresa global na área de agricultura e com base na Suíça”, reiterou
Christoph Mäder, diretor jurídico e tributário da múlti.
“A Suíça tem significado para a Syngenta e estamos aqui
para ficar. Temos estabilidade política, neutralidade, seguridade jurídica, uma
competitiva regulação de impostos, proteção de propriedade intelectual,
flexibilidade nas leis, acesso a talentos ao redor do mundo e liberdade de e
facilidade para pesquisa”.
Mesmo após uma transação de US$ 43 bilhões, a
“nova” Syngenta, liderada pela ChemChina, não descarta aquisições.
“Estamos procurando ativamente oportunidades de fusões, aquisições e
parcerias para elevar a participação no mercado de sementes ao redor do
mundo”, disse Fyrwald.
No Brasil, uma parceria com a Embrapa pode ser avaliada.
“Estamos construindo um banco de germoplasma muito bom, com base em
tendências biotecnológicas. Estamos indo bem no segmento, mas estamos muito
abertos a colaborações com a Embrapa e com outras empresas”, afirmou.
Questionado sobre a possibilidade de comprar os ativos de
milho na área de sementes da Dow AgroSciences, o executivo gargalhou e disse
que não faria comentários sobre nenhum ativo específico. Mas afirmou que o
Brasil é um dos mercados nos quais a companhia está de olho para fazer novas
compras. No ano passado, a área de sementes de sua divisão America Latina gerou
receita de US$ 448 milhões, 12% mais que em 2015.
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