Alto teor de impureza afeta resultado da Vale

A estratégia da Vale de substituir o minério de ferro que
oferta ao mercado internacional por um novo, de maior qualidade, é a saída da
companhia para restringir ao máximo os danos que a rejeição às impurezas da
commodity pode causar aos resultados da mineradora.

O desconto dado a produtos com teor mais elevado de sílica,
principalmente, está próximo das máximas históricas. A Vale, entretanto, quer
começar a contornar essa questão já a partir deste segundo semestre, com o
fechamento de minas cuja produção contém menor pureza.

Apesar da disparada da matéria-prima na China e do prêmio
que os clientes estão dispostos a pagar para levar produtos de concentração
mais elevada, cerca de US$ 900 milhões podem estar sendo perdidos, em bases
anualizadas, por conta da maior presença de sílica, especialmente no minério
dos sistemas Sul e Sudeste da Vale. Esse é o cálculo do Citi, segundo relatório
divulgado durante o feriado.

Pelas contas do banco, o adicional que o mercado paga pelo
produto específico da companhia de Carajás (PA) pode render cifra anual de US$
2,1 bilhões acima do que já foi apresentado no primeiro semestre. Isso porque a
commodity com teor de ferro de 65% já se encontra ao menos US$ 20 por tonelada
mais cara do que a de 62%, referência do mercado transoceânico. O minério
extraído no Pará tem concentração de até 66% de ferro, o que pode levar a
prêmio de até US$ 30.

Mas na ponta oposta, das impurezas, a Vale tem um problema.
Não sendo equacionado, pode levar à perda dos US$ 900 milhões mencionados, ou
quase 40% do potencial de ganho com o material de melhor qualidade. O desconto
do mercado sobre a sílica no minério é de US$ 3 a tonelada para cada ponto
percentual após teor de 4,5%. Acima de 6%, o montante sobe para US$ 6.

“A atenção de investidores está focada na forte
elevação de prêmio do minério de ferro nas semanas recentes”, afirma o
analistas Alexander Hacking, responsável pelo relatório. “Entretanto,
poucos notaram os altos descontos históricos para o conteúdo de sílica. Os
descontos para a alta concentração de sílica são negativos para as mineradoras
brasileiras, incluindo a Vale.”

A estratégia da companhia inclui o corte de 19 milhões de
toneladas anuais na produção de minas dos sistemas Sul e Sudeste. Esses ativos
são os que geram o minério com maior concentração de sílica. Paulatinamente,
esse volume será substituído pelo do S11D, em Carajás – um dos minérios mais
puros do mundo.

Na primeira teleconferência de resultados que participou, do
segundo trimestre, o novo presidente da mineradora, Fabio Schvartsman, disse
que essa questão já está sendo resolvida e já no terceiro trimestre será
possível sentir melhora no preço de venda. “[Devemos] muito provavelmente
produzir um trimestre bastante melhor do que o segundo trimestre”, disse a
investidores e analistas.

Além disso, a Vale informa que a mistura que realiza na
Malásia e na China, do insumo que produz com outros de diferentes origens, foi
padronizada e o teor de sílica não mais passa dos 5%. Mesmo com esse teto, o
índice se enquadra na primeira faixa de descontos à impureza, mencionada pelo
Citi no relatório.

Em 2017, cerca de 70 milhões de toneladas farão parte dessa
mistura de minério na Ásia. No ano que vem, a companhia pretende misturar até
100 milhões de toneladas. Nessa mistura, dois terços do minério de ferro vêm de
Carajás. O restante é proveniente de Minas Gerais.

O minério de ferro com concentração média de 62% de ferro
ficou praticamente estável no mercado à vista chinês ontem, apenas com leve
alta de 0,2% em Qingdao, para US$ 74,49 a tonelada, segundo a “Metal
Bulletin”. Por sua vez, a commodity com teor de 65% fechou próxima a US$
96 – prêmio de US$ 22.

De acordo com Serafino Capoferri, analista do banco de
investimentos Macquarie, a necessidade das usinas siderúrgicas de procurar
soluções para os altos custos de produção do aço levou à penalização dos
minérios com menor qualidade – principalmente depois que o carvão disparou. Os
esforços da China em conter a poluição também contribuem para essa busca por
matérias-primas mais eficientes.

“Entre as maiores mineradoras, a Vale ainda vende no
mercado o melhor produto, em média, muito por conta do teor de ferro
maior”, explica Capoferri. “Em segundo lugar, vem a Rio Tinto, e em
terceiro, a BHP Billiton. Além disso, a ocorrência de sílica no minério da Vale
é maior do que nas outras, mas ela ganha quanto a outras impurezas, como
alumina e fósforo.”

Wen Li, analista que acompanha o setor pela casa de análise
de dívida CreditSights, cita o “copo meio cheio”. Para ele, o
adicional pago pelos clientes pelo conteúdo de ferro compensa tanto que não há
problema no desconto em relação ao teor de sílica.

“Eu não vejo essa questão como um ponto de preocupação,
mesmo porque ela já anunciou esse ajuste de oferta de menor qualidade”,
afirma Li.

Leia também: Vale
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