Moratória da soja reduz perdas da Amazônia

Há dez anos, um relatório do Greenpeace alertava: o mundo
estava “comendo a Amazônia”, em restaurantes fastfood, ao consumir frango
alimentado com soja plantada em regiões onde antes havia floresta. Ativistas
vestidos de frango invadiram lojas do McDonald’s na Europa e deram início a um
movimento que se transformaria na Moratória Soja, uma das principais políticas
públicas contra o desmatamento.

O acordo, que completa uma década hoje, incluiu os
principais negociadores de soja do mundo, como Cargill e Bumge, que,
pressionados pelos consumidores finais, comprometeram-se, inicialmente por dois
anos, a não comprar mais soja que viesse de novas áreas des- matadas na
floresta amazônica.

Em 2004, quando o Greenpeace começou a monitorar o avanço do
grão pelo bioma, estimava-se que até 30% da soja plantada na Amazônia vinha de
desmatamentos recentes. Hoje o Grupo de Trabalho da Soja, que reúne empresas,
produtores, governo e ONGs, aponta que o número não passa de 1,25%

Desde 2008, o acordo foi prorrogado anualmente e, em maio,
decidiu-se que seguirá valendo por tempo indeterminado, até que não seja mais
necessário.

A análise de governo e de ambientalistas é que a iniciativa
foi fundamental para a redução do desmatamento total na Amazônia, que passou de
27.772 km2, em 2004, para 5.831 km2 no ano passado, uma queda de 79%. Essa
taxa, porém, que chegou ao menor valor em 2012, subiu no ano seguinte e desde
então vem se mantendo relativamente estável, acima de 5 mil km2, o que indica
que novas ações, além das já adotadas, precisam ser tomadas para mudar esse
quadro.

Campanha. Mesmo não sendo o principal vetor de desmate na
Amazônia – o avanço da pecuária é o maior responsável –, o Greenpeace viu na
soja um potencial de mobilização.

“A pecuária era, e ainda é, o problema mais importante, mas
era difícil resolver no curto prazo. É espalhada pela Amazônia, tem milhares de
produtores, a distribuição não é concentrada. Ao contrário da soja, que está
nas mãos de poucos, médios e grandes fazendeiros e é comprada por uma dúzia de
traders”, diz Paulo Adário, diretor da campanha de Amazônia do Greenpeace. E,
para vantagem da campanha, boa parte dos consumidores finais estava na Europa.
A ONG rastreou quem comprava a soja exportada pela Cargill, em sua maioria
usada como ração animal, e descobriu na ponta o McDonald’s. Era a “Conexão
McChicken”, como os ambientalistas a apelidaram.

Demorou alguns meses, mas as empresas toparam a moratória. A
média do desmate total antes de 2003 a 2008 nos municípios monitorados com
plantio de soja era de 5.922 km²/ano. De 2009 a 2014, caiu para 826 km²/ano.
Por outro lado, a área total plantada cresceu 170%, com os sojicultores
aproveitando pastos degradados para expandir a produção.

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