De cada R$ 3 usados para fazer obras de infraestrutura no
Brasil, praticamente R$ 2 são provenientes de órgãos públicos, fundos e bancos
estatais.
Levantamento inédito da CNI (Confederação Nacional da
Indústria) indica que um dos motivos para o baixo investimento em infraestrutura
no país é a forte concentração em recursos do setor público.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
Essa característica é especialmente expressiva na área de
transporte, responsável pela maior quantidade de recursos gastos em
infraestrutura no país —cerca de 50% dos valores.
De acordo com o trabalho, coordenado pelo consultor Cláudio
Frischtak, nessa área 80% dos recursos que bancaram obras em 2014 são do
orçamento público ou de bancos estatais, como BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social) e Caixa. A outra parte vem de capital das
empresas ou de empréstimos junto a órgãos privados.
Em saneamento, a concentração chega a ser maior, com 93% dos
valores financiados pelo setor público. Mas os valores investidos são
proporcionalmente menores do que na área de transportes.
Já em energia elétrica e em telecomunicações, o investimento
público é menor. No setor de telefonia, as empresas conseguem recursos privados
para fazer praticamente 80% dos investimentos. Em energia, esse percentual é de
43%.
BAIXO INVESTIMENTO
O investimento em infraestrutura, considerado muito baixo no
Brasil, manteve-se inalterado na última década e, desde 2015, está caindo.
Segundo Frischtak, o país tem muito ainda a construir em
infraestrutura, já que o que está pronto representa cerca de 40% do PIB
(Produto Interno Bruto). Em economias mais avançadas, esse valor chega a 70% a
75% do PIB.
O percentual de investimento passou o período de 2008 a 2014
praticamente inalterado, variando de 2,2% a 2,4% ao ano. Em 2015, com a crise,
esse índice ficou abaixo de 2%. Nos cálculos de Frischtak, o país deveria
investir 5% do PIB ao ano.
O consultor lembra que a forte concentração de financiamento
público para investimentos foi necessária no mundo todo no pós-guerra. Mas,
após os anos 1990, os Estados chegaram a um limite para essa política. Para
ele, hoje manter o financiamento concentrado em recursos públicos afasta
investidores.
Integrante do Conselho de Infraestrutura da CNI, Frischtak
lembra que, para atrair o mercado privado de empréstimo, que hoje aceita
comprar títulos públicos de países que pagam juros negativos (ou seja, ele
perde dinheiro quando compra esse papel), seria necessário que o país tivesse
estabilidade monetária e reduzisse juros.
“É difícil mobilizar recursos privados quando se
compete com o Tesouro”, lembra o consultor, que aponta a segurança e a
liquidez dos títulos públicos como vantagem.
Na opinião dele, o governo interino de Michel Temer, apesar
do pouco tempo e de poucas ações efetivas, está direcionando suas iniciativas
para o caminho correto.
Seja o primeiro a comentar