Apesar de ganhos de imagem, viagem ao Japão deixa saldo misto para Temer

Ao embarcar no Airbus A319CJ presidencial às 22h30 desta
quarta (19), no horário local, Michel Temer encerrou a visita ao Japão com uma
vitória e meia.

A batalha da comunicação foi ganha. O presidente foi
recebido pelo imperador Akihito e sua gestão foi elogiada publicamente pelo
presidente da federação nacional das indústrias, o Keidanren, e pelo
primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe.

Os esforços da Embaixada do Brasil em Tóquio fizeram
notícias da visita chegar às páginas de grandes jornais como o
“Asahi” e o diário econômico “Nikkei” e aos principais
sites noticiosos em inglês.

A assinatura de um memorando de cooperação na área de
infraestrutura, ainda que de pouco efeito prático, garantiu a presença da mídia
japonesa no anúncio, e os Jogos Olímpicos foram mencionados em 100% dos
discursos de brasileiros ou japoneses durante a estadia do presidente em Tóquio
(sede da Olimpíada de 2020).

Como saldo, o Brasil minorou o mal-estar causado pelos
cancelamentos e atrasos da ex-presidente Dilma Rousseff, e Temer encerrou sua
primeira viagem internacional com o endosso expresso da terceira maior economia
do mundo.

Mas, embora as fotos oficiais mostrem um cordial aperto de
mãos entre os chefes de governo dos dois países, a portas fechadas a tentativa
de restaurar a confiança dos japoneses ficou pela metade.

A própria declaração de apoio de Abe à nova política
macroeconômica brasileira no discurso pós-reunião com Temer teve tom não de
elogio, mas de crítica à crise instaurada pela política anterior.

A Folha apurou que, na reunião de trabalho com Temer, que
ocorreu sem a presença da imprensa, o primeiro-ministro foi bastante direto e
duro.

As queixas se concentram nos prejuízos bilionários sofridos
por empresas japonesas que investiram em projetos do então governo petista em
áreas como indústria naval, óleo e gás e energia, todos afetados pela operação
Lava Jato.

A Kawasaki, maior fabricante de navios, trens e outros
maquinários pesados do Japão, declarou perdas de R$ 760 milhões com o Estaleiro
Enseada, em que tem sociedade com as empreiteiras Odebrecht, OAS e UTC.

Grandes indústrias dentre as 700 que se instalaram no Brasil
também perderam com a mudança de regras do setor elétrico brasileiro, que
encareceu o custo da eletricidade.

A derrocada do modelo baseado em consumo e crédito
subsidiados golpeou também a indústria automotiva, na qual os japoneses
investiram US$ 7 bilhões entre 2003 e 2006.

COBRANÇAS

Ainda que o potencial do mercado brasileiro abra o apetite
dos japoneses, eles relutam em atender a um novo chamado para “ajudar no
crescimento do Brasil”.

Consideram que, como o governo federal provocou boa parte
dos prejuízos, deveria agora agir para mitigá-los —mesmo que seja outro o
presidente do momento.

No caso da indústria naval, por exemplo, a empresa Sete
Brasil, que cancelou encomendas levando os estaleiros à derrocada, havia sido
criada com promessa de um empréstimo de R$ 9 bilhões do BNDES que nunca se
realizou.

Não por acaso, Temer e os ministros que vieram apresentar o
plano de concessões em infraestrutura repetiram dezenas de vezes as expressões
“segurança jurídica”, “previsibilidade” e “regras de
mercado” e declararam repúdio à intervenção do governo nos negócios.

Enquanto as cobranças de Abe ficaram em âmbito reservado, as
dos empresários foram públicas, tanto no seminário da terça-feira (18) quanto
no almoço desta quarta (19).

O governo brasileiro se esforçou para frisar que deixará a
cargo do mercado o cálculo da relação risco/retorno nos leilões de
infraestrutura, para os quais espera atrair R$ 24 bilhões apenas no próximo
ano.

Mas os investidores japoneses responderam, de diversas
formas, que hesitam em correr de novo esses riscos até terem certeza de quais
são as regras dos contratos, e de que elas não serão quebradas.

Leia também:

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oportunidade para investimento, diz Abe

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