EcoRodovias avalia novos negócios

Após ficar de fora das concessões de aeroportos do governo federal, a EcoRodovias começou a avaliar outro caminho para seu crescimento. A empresa, que até agora atua em concessões de estradas e serviços de logística, vai estudar no próximo semestre o investimento em mobilidade urbana, para aproveitar nos próximos anos o “boom” de projetos do setor, como metrôs e veículos leves sobre trilhos (VLTs).


Marcelino Rafart de Seras, presidente da EcoRodovias, diz, em entrevista exclusiva ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, que essa avaliação será durante seis meses. “Temos começado a observar que há uma série de projetos [de mobilidade] importantes vindo a mercado a partir de 2015, por parte de governos estaduais e municipais. Alguns inclusive são delegados pelo governo federal”, diz Seras.


Se a diretoria executiva concluir que é um setor atraente, o assunto passa para a análise do conselho de administração. Depois, os acionistas votarão a alteração no estatuto social, para que o documento passe a contemplar a mobilidade urbana. Essas foram as mesmas etapas seguidas pelo grupo CCR (de Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Soares Penido) ao se diversificarem para aeroportos, em 2011.


A decisão é uma alternativa para a EcoRodovias, que contrariou expectativas do governo e de parte do mercado – que a viam como favorita para o aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. A empresa alcançou apenas o terceiro lugar na disputa. Em meio à frustração, integrantes do consórcio – formado também pelo grupo alemão Fraport e pela Invepar – se mostravam perplexos com o resultado e lamentavam após o leilão: “Não dá para entender”.


Seras afirma que o consórcio estudou a fundo o projeto e que poderia aumentar o valor do lance na segunda etapa do leilão. “Nos empenhamos muito. Ficamos quase dois anos estudando os principais aeroportos brasileiros com a Fraport. Trouxemos no final a Invepar [concessionária de Guarulhos], que deu informações relevantes sobre a transição no aeroporto de Guarulhos – em especial das receitas comerciais”, diz.


“Então chegamos a uma boa proposta. Tínhamos potencial de crescimento [nos lances ao vivo]. Mas a proposta apresentada pelo grupo Odebrecht não era possível, era muito longe do que a gente tinha estimado”. Vencedora, a Odebrecht ofereceu pagamento de R$ 19 bilhões – quase R$ 6 bilhões acima da EcoRodovias – e diz que parte de seu sucesso foi devido a um ganho de engenharia para a construção da terceira pista.


Apesar do insucesso, Seras nega frustração. “Gostaríamos muito de ter Guarulhos ou Galeão, mas, pelo preço que eles saíram, não conseguiríamos alcançar. Não me frustra, porque a pior coisa seria tentar justificar para meus investidores um projeto que talvez não desse uma taxa de retorno adequada”.


Além de ficar sem Guarulhos (em 2012) e Galeão, a empresa não tem conseguido sucesso nos leilões de rodovias sob o novo modelo, criado pelo governo da presidente Dilma Rousseff. Até agora, a EcoRodovias não ganhou nenhum do pacote. A principal diferença em relação aos leilões antigos é que as obrigações de duplicação devem ser feitas em no máximo cinco anos de contrato (antes, esse prazo era mais extenso).


Seras vê isso com tranquilidade. “Nós sempre entramos de maneira seletiva e muito consciente nas propostas. Estudamos contagens de tráfego, que foram feitas várias vezes, estudos de investimentos, a parte de custos operacionais… Nós estamos absolutamente tranquilos com as nossas propostas. Se alguém desgarrou [venceu com uma diferença muito grande], talvez tenha enxergado algum outro objetivo, algum potencial que nós não vimos”.


Seras alerta que os vencedores têm responsabilidades maiores do que no modelo antigo de rodovias, devido ao modelo do contrato. “Cada um dos grupos sabe da responsabilidade que tem. Sabe que o programa determina as duplicações em cinco anos, sabe que há instrumentos muito fortes para cumprimento de exigências, como multas e reduções tarifárias…”, diz. “Todo mundo tem consciência das propostas que estão sendo feitas”.


O executivo diz que a empresa vai continuar disputando rodovias. Confirma entrega de proposta pelo trecho da BR-040 entre Juiz de Fora (MG) e Brasília (DF), o último do ano, e o interesse nos demais trechos federais, a serem licitados no ano que vem. Também planeja disputar a Rodovia dos Tamoios, que deve ser licitada em modelo de parceria público-privada (PPP) pelo governo do Estado de São Paulo em 2014.


Enquanto analisa rodovias e mobilidade urbana, a companhia ainda se prepara para disputar a licitação do terminal portuário do Saboó, área ao lado de suas atuais operações portuárias em Santos, que é o foco da empresa no setor. “Estamos nos debruçando no relatório feito pelo TCU, acompanhando em Brasília. Acreditamos que a licitação possa ocorrer no primeiro trimestre do ano que vem e temos muito interesse.”

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