As empresas interessadas em participar do leilão do trem de alta velocidade (TAV) já começam a se movimentar em busca de parcerias e consórcios, de olho no edital que deverá sair na próxima semana e cujo leilão é estimado para novembro. É o caso da gigante Siemens, que analisa uma parceria com um grupo chinês já realizada em outros países. A Trends Engenharia busca acordo com grandes construtoras brasileiras e espera conquistar uma fatia do negócio de R$ 33,1 bilhões.
À medida que o processo do TAV fica mais claro e depois da liberação do processo pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o diretor-geral da Agência Nacional de Transporte Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo, disse ontem que o leilão do projeto pode acontecer até o fim de novembro deste ano. Com isso, a gigante do setor ferroviário Siemens já começa a articular fortes parcerias para disputar o leilão. A empresa não confirmou conversas com o grupo chinês, mas ajudou na construção do primeiro trem veloz na China, havendo entre ambas a boa relação descrita pelo diretor da Siemens Mobility, Paulo Alvarenga, ao comentar sobre o assunto. Indagado sobre a parceria ele não a desmentiu; logo, a Siemens formará um sólido consórcio com uma das principais forças neste setor.
Segundo Alvarenga, é impossível entrar em um projeto como este sozinho, pois a exposição do risco é muito alta. O projeto do TAV é de grande interesse da Siemens, temos participado desse mercado de alta velocidade com uma presença bastante forte nos últimos anos, tanto que, se considerarmos os projetos mais recentes que foram elaborados, temos a maioria maciça, pois, dos sete projetos realizados no mundo, cinco são nossos. E certamente nós queremos manter essa história de sucesso dos últimos anos, confirmou ele, com exclusividade, ao DCI.
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No entanto, o diretor destacou que até o lançamento do edital é preciso muito cuidado, pois é possível que os itens que constarão no documento não se aliem aos interesses da empresa. Alvarenga destacou que a Siemens tem muito interesse neste projeto, e, com a grande capacidade de execução e tecnologia necessária, aliados as fábricas da empresa no Brasil, o valor agregado se torna muito elevado.
Em relação à transferência de tecnologia para o Brasil e à fabricação de trens no País, Paulo Alvarenga afirmou que, a exemplo dos outros projetos pelo mundo, os trens serão construídos no Brasil; ele destacou, porém, que não há escala suficiente para se criar toda a cadeia de valores, por isso alguns componentes para o trem virão da fábrica na Alemanha. Nos TAVs a grande questão é a escala. Para esse projeto estamos falando de 42 trens, e isso não justifica montar toda a cadeia de valores aqui. Mas ela permite que exista um grau de nacionalização.
Com os claros desafios de infraestrutura do projeto em algumas regiões por onde o trem passará, para o diretor da Siemens a questão será realizar o projeto no tempo previsto e com os custos adequados. Alvarenga disse que os estudos para o TAV são muito superficiais, que quem ganhar o leilão terá de iniciar os estudos do zero e isso será complicado, já que não há uma base sólida em que se basear. O estudo que foi feito é quase nulo, a informação que consta ali é quase um mapa do Google com uma reta onde o trem vai passar. A infraestrutura desse projeto é complicada e se torna um grande desafio de engenharia, disse ele.
Coreanos
Em meio ao processo que envolve empresas, projetos e governo, a Trends Engenharia, que participa e dá apoio local a um grupo coreano de investidores no projeto do TAV desde 2006, afirma ter fechado parcerias importantes com grandes empresas da área de construção, mas não cita nomes por se tratar de um assunto confidencial, só confirma que algumas delas estavam envolvidas no leilão da Usina Belo Monte.
Para o presidente da Trends Engenharia, Paulo Benites, a empresa, em parceria com o grupo coreano, já estuda o traçado do TAV aqui no Brasil desde 2007, e ressalta que existe uma forte relação entre a tecnologia que será usada no projeto com as condições específicas do traçado referencial. O projeto tem uma relação muito grande entre a tecnologia e as condições específicas do traçado, por isso é bom saber que o governo e o TCU entenderam que não daria para fazer um projeto muito rígido, porque se o fizesse estaria condicionado a uma única tecnologia, afirmou.
Em relação a decisão do TCU, em baixar o valor do financiamento público para 60% do valor total do projeto, e reduzir a tarifa-teto, Benites não apoiou a decisão, ressaltando que uma das melhores partes do projeto estava na estruturação financeira. O governo passa ao setor privado os riscos mais pesados. Os parâmetros pioraram, a tarifa é mais baixa e o investimento, mais apertado. Temos de refazer cálculos.
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