Escassez de profissionais para as atividades operacionais e de mão de obra qualificada. Esta é a situação vivida atualmente pelos recursos humanos da Rumo Logística na busca por profissionais em logística agroindustrial. O braço logístico da Cosan vem contornando o problema investindo em programa de trainees para formação de sucessores da liderança da empresa e aplicando a soma anual de R$ 1 milhão em treinamentos e desenvolvimento dos seus funcionários.
Tecnólogos, engenheiros, administradores, economistas e advogados são profissionais procurados pela Rumo. Nos momentos da abertura de vagas, o RH da empresa pede conhecimentos em agronegócio, logística, inteligência de mercado, operação de terminais e de transportes, planejamento, segurança do trabalho, qualidade, saúde ocupacional, recursos humanos, tributos fiscais e legislação. Essa demanda se especializa na medida em que o setor da agricultura vem ganhando espaço através dos anos.
O presidente da Rumo, Julio Fontana Neto, enxerga que a infraestrutura logística brasileira de portos, aeroportos, ferrovias e rodovias é o gargalo para crescimento do país. Ele também destaca o volume de verbas anunciado pela esfera pública para a área de logística, R$ 195 bilhões vindos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e R$ 60 bilhões correspondentes a 2012 dentro da carteira para infraestrutura do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Neste contexto, Fontana Neto aponta ajuste das regras de concessões públicas de ativos logísticos com reflexo numa maior participação da iniciativa privada, mais competição e menores custos.
O executivo da Rumo conclui, sobre mercado de trabalho no âmbito do cenário nacional descrito acima por ele mesmo, que “há muitas oportunidades profissionais no horizonte; necessidade de maior especialização e profundidade do conhecimento; e habilidade para atuar em ambiente de maior complexidade, compatibilizando demandas por maior eficiência, mais compliance e operações mais sustentáveis”.
A formação e qualificação desejadas para o serviço público também não são menos exigentes. Fábio Rogério Teixeira Dias de Almeida Carvalho, superintendente de estudos e pesquisas da ANTT, informa que a autarquia busca por profissionais de logística com requisitos de familiaridade com ferramentas tecnológicas; capacidade gerencial e visão de processos; maximização da cadeia (supply chain); comprometimento com qualidade e segurança das operações; eficiência alocativa de recursos (análise de rentabilidade).
Como funcionário público, o perfil buscado pela ANTT inclui conhecimento sistêmico em diversas áreas, como direito, economia, e com visão de Estado e seu futuro, assim como de fenômenos sociais; ter excelente expressão oral e escrita; ser pró-ativo, ter criatividade, adaptabilidade; gerenciar e projetos e ter a habilidade para trabalhar em equipe. Um dos cargos com melhor remuneração para nível superior na autarquia, mediante aprovação em concurso público, pode chegar até o valor de R$ 15.890, informa Fábio Carvalho.
Frente a um cenário tão desenvolvido que pede profissionais qualificados e se vale de diferentes tecnologias, o agronegócio vai abandonando a imagem simplista do homem no campo e consolida sua robustez aos olhos do mercado financeiro mundial. Mário Otávio Batalha, coordenador do Grupo de Pesquisas e Estudos Agroindustriais (Gepai) da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar, SP), observa que o mercado contratante está calcado no que ele chama de nova agricultura.
A nomenclatura engloba para Batalha conceitos de mercados internacionais; produção com respeito ao meio ambiente; diferenciação de produtos; integração em cadeias agroindustriais; tecnologia da informação; gerenciamento do risco, inclusive financeiro; diversificação de mercados (internos e externos); gestão de recursos hídricos; aumento da demanda por agroenergia e biomateriais; e elevação do nível educacional da população, refletindo na maior adoção de tecnologia no campo.
O breve raio-X acima a respeito do mercado de trabalho para o segmento de logística agroindustrial faz parte dos apontamentos que serão expostos por seus autores no 10º Seminário Internacional em Logística Agroindustrial (Sila) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP, campus Piracicaba, SP).
Agendado para o próximo dia 25, e com promoção do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial, o Esalq-LOG, a edição do evento anual que se aproxima tem como objetivo expor as facetas do perfil profissional procurado para o preenchimento de cargos governamentais e em empresas privadas, e como as universidades têm e devem contribuir com a logística para o agronegócio.
Sob o tema “Logística: Qual a formação profissional ideal?”, o Grupo Esalq-LOG reúne no 10º Sila importantes porta-vozes da ANTT, EPL, Rumo Logística, Timac Agro, Universidade de San Diego (EUA), Ufscar e Escola Politécnica da USP.
“Frente à importância indiscutível do agronegócio para o equilíbrio das contas externas brasileiras, o funcionário, do setor público ou privado, e, também, a academia, estão no olho do furacão para solucionar os problemas relacionados à logística para a toda a cadeia”, observa a coordenadora do Sila, a professora do Esalq-LOG, Daniela Bacchi.
Dados do PIB (Produção Interna Bruta) nacional mostram que a agricultura tem peso médio de 25% e, conforme o Ministério do Trabalho, o setor emprega 37% dos trabalhadores no país. Assim, a professora Daniela destaca que o profissional atual da área de logística agroindustrial defronta-se hoje com um mercado esteio da economia nacional, mas que sofre com entraves severos dentro e fora da porteira.
Em entrevista exclusiva, o palestrante do painel destinado à academia no 10º Sila, Joel Sutherland, diretor do Supply Chain Management Institute, da norte-americana Universidade de San Die, faz uma constatação relevante à saúde financeira nacional: “a infraestrutura da logística é e sempre foi a chave da prosperidade da indústria”.
Sutherland lembra que o Brasil tem regredido no assunto, já que em 2012 o Banco Mundial colocou o sistema logístico nacional na quadragésima quinta posição, frente ao posto de número 41 atribuído no mesmo ranking em 2010.
De acordo com Evandro Luis Moraes, diretor de logística e compras da Timac Agro e palestrante do 10º Sila, o custo-Brasil por tonelada carregada até o porto é de US$ 23,50, enquanto que na nossa vizinha Argentina o cálculo totaliza US$ 16 a tonelada e, nos EUA, o preço é de US$ 15,50.
Moraes aponta que a matriz do transporte brasileiro está distribuída em 24% para o modal ferroviário, 62% correspondem ao rodoviário e, 14%, para hidroviário. Nos EUA, os índices são 43%, 32% e 25%, respectivamente, informa o diretor de logística.
Joel Sutherland recomenda ao Brasil um olhar mais focado na qualificação da cadeia de investimentos em todo o setor. “É preciso envolver plenamente questões e desafios relacionados à infraestrutura, entendendo as deficiências apontadas em rankings internacionais, sendo pensadores e planejadores estratégicos, obtendo um entendimento completo de trocas modais e buscando sempre a excelência na análise e coleta de dados relevantes.”
Para o diretor do instituto norte-americano, as universidades podem providenciar as ferramentas citadas, “mas somente se houver um completo entendimento, conhecimento e conjunto de habilidades necessárias que alinhem o seu currículo para corresponder a essas necessidades”.
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