Um marco histórico do desenvolvimento da Amazônia fez 100 anos e ex-funcionários ainda trabalham para preservar a memória da estrada de ferro Madeira-Mamoré.
A Madeira-Mamoré foi uma das primeiras grandes obras de engenharia americana fora dos Estados Unidos. Um investimento equivalente a R$ 700 milhões em valores de hoje. Mas os historiadores acreditam que o valor final foi quatro vezes maior. A ferrovia foi considerada uma loucura do empreendedor americano Persival Farquar.
“Construir uma estrada na floresta, na mais violenta do mundo que é a Amazônia, é uma aventura que só os grandes titãs, como Farquar, ousaram enfrentar”, afirma o historiador Francisco Matias.
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Mais de 20 mil homens, de 25 nacionalidades, trabalharam na construção da linha entre Porto Velho e Guajará-Mirim, divisa com a Bolívia. Ao todo, 366 quilômetros que formaram o corredor de exportação da borracha produzida na região para a Europa e Estados Unidos pelo Oceano Atlântico através do Rio Madeira.
A velha máquina 18 foi a última a fazer o percurso. É uma relíquia para aqueles que derramaram suor durante anos trabalhando na ferrovia e que ainda cuidam dela para não virar ferrugem, como algumas esquecidas na beira dos trilhos.
Conta a lenda que cada dormente da estrada de ferro representa a morte de um trabalhador durante a construção. Por isso, ela ficou conhecida como a Ferrovia do Diabo. Não há um número oficial de mortos, mas pelos relatos da época estima-se em torno de 8 a 10 mil. Vítimas de malária, comum na região, e de doenças importadas, como cólera, escorbuto e varíola. Eles também foram vítimas de ataques de índios e de acidentes no trabalho.
O ex-ferroviário Manoel Soares da Silva viu da janela da máquina parte da vida passar. Trabalhou quase 20 anos. Hoje ainda se lembra de como pilotava.
Tempos difíceis aqueles. O salário mal dava para comer.
“Você tinha que muitas vezes parar em um sítio abandonado e ir para debaixo das mangueiras almoçar e jantar”, conta Seu Manoel.
A ferrovia passou para o governo brasileiro em 1931 e foi desativada em 1966. O ex-ferroviário Paulo Ramos ainda sonha em passear na maria-fumaça: “Eu sonho em ver isso aqui revitalizado, com passeio turístico, porque isso aqui chama a atração de muita gente, vem gente de fora”.
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