No caminho, crianças, mulheres e velhos acenam para nós. O operador de produção junior Tiago Augusto Fidelis Crispim, 22 anos, conta que, em cidades, como Tupã, Marília e Pompéia, as pessoas chegam a acompanhar o trem e conversar com a equipe quando ele passa. “Perguntam se estamos bem, para onde vamos”, diz.
Bichos pequenos apareceram também perto dos trilhos. Consegui ver uma jacutinga e um gato-do-mato. Disseram-me que, em outras ocasiões, foram vistas cobras, tatus e veados. Outro bicho comum no trecho é o cupim – ele não é visto, mas sim suas grandes casas, os cupinzeiros, perto da via.
Em Agudos, os trilhos passam também nos fundos da Ambev, indústria de bebidas que hoje é indiretamente ligada a ALL (América Latina Logística) por seus sócios, como o empresário Jorge Paulo Lehmann. Ele gerenciou a aliança entre a cervejaria belga Interbrew e a brasileira Ambev, criando a gigante multinacional Inbev. Lehmann é também um dos controladores do GP Investimentos, fundo que controla a ALL. Claro que a equipe na cabine brincou, lamentando que o trem, infelizmente, não poderia parar para uma gelada.
Entre Agudos e Lençóis Paulista, o trem consegue atingir sua maior velocidade no trecho – 49 quilômetros por hora. O supervisor de maquinistas que acompanhou nossa viagem, Pedro Aguiar, 44, explica que a velocidade máxima permitida por segurança é de 50 quilômetros por hora. Caso o maquinista a ultrapasse, o computador de bordo registra e depois ele tem que prestar contas.
Nessa área existem muitos dormentes novos e velhos ao lado dos trilhos. Sou informado que os novos estão sendo colocados na malha e os velhos estão aguardando serem recolhidos. A intenção da ALL é aumentar a velocidade média, que hoje é de 33 quilômetros por hora até Araçatuba, e ao mesmo tempo, manter a segurança. Para 2008, também a empresa quer ter locomotivas C-30 de 3 mil cilindradas que puxam 45 vagões. As atuais em uso, as U-20 de 1,5 mil cilindradas, puxam 28.
O trem passa devagar por dentro de Lençóis e, logo em seguida, pelo vilarejo de Alfredo Guedes, onde existe também uma estação ferroviária abandonada e em ruínas. O tempo parece diferente ali: casinhas pequenas, velhos sentados nos bancos, crianças sem camisa, tudo parece antigo e com a pintura gasta.
Passamos depois por uma grande fazenda abandonada distante 15 quilômetros de São Manuel. Ela tem muitas casas, ao que parece dos colonos, uma casa grande (provavelmente do dono) e um galpão coberto ao lado – que me dizem ser uma antiga senzala.
Alguns minutos em seguida, é possível avistar um vilarejo abandonado e tomado pelo mato alto. Existe até uma igreja, que um dia parece ter sido branca e, hoje, tem a pintura toda descascada e cinza. É algo tão esquecido que nem o maquinista José Afonso Ortega, 47, sabe o nome desse lugar.
Seja o primeiro a comentar