Francisco Basso Dias
Quando era criança tinha paixão por trem. Como gostava de trem!
Houve uma época que seguidamente ia à estação ferroviária local, próximo a Praça Júlio de Castilhos, só para ver as manobras da pequena Maria Fumaça e assistir a chegada do trem Internacional, ou Misto. O trem Internacional era uma composição luxuosa para transporte de passageiros, que ligava São Paulo com Buenos Aires-Argentina, com escalas em Erechim, Passo Fundo, Cruz Alta, Santa Maria, Uruguaiana passando pela ponte internacional sobre o Rio Uruguai, até atingir a capital portenha. Os cintos de metal que aureolavam a boca da chaminé da máquina, a caldeira e o sino brilhavam como ouro. Haviam carros de passageiros de primeira classe e o de segunda classe, depois seguiam o carro restaurante, correio e da chefia.
O horário de chegada a Erechim era as 7h da noite. A gare da estação da Rede Ferroviária Federal ficava tomada de pessoas para assistir a passagem do trem. As que iam viajar levavam os parentes para se despedir e outras, como eu, lá compareciam por curiosidade e lazer.
O horário era britânico. Dificilmente atrasava. Ao apontar no Bairro Esperança ouvia-se o primeiro apito e o bater do sino anunciando sua aproximação.
O Trem Misto era uma composição que fazia a ligação Marcelino Ramos, Erechim e Passo Fundo. Naquele tempo ainda não existiam as modernas locomotivas movida a diesel.
A máquina era a vapor e consumia carvão ou lenha.
As locomotivas a vapor tiveram uma importância enorme nos últimos duzentos anos da história da humanidade. E para Erechim não foi menos extraordinário ao seu desenvolvimento. Ela foi sem dúvida o elemento mais importante da Revolução Industrial, permitindo o deslocamento das matérias primas dos grandes centros para as fábricas, e rapidamente ás regiões consumidoras. Ao redor das estações ferroviárias, nasceram e cresceram vilas e cidades, onde até então, nada existia. Erechim é um exemplo. A cidade começou ao redor da sua estação ferroviária com o nome de Paiol Grande.
A locomotiva surgiu há mais de 300 anos e era chamada de “cavalo mecânico”, pelo construtor galês Richard Trevithick Foi ele que inventou a máquina a vapor sobre trilhos para o transporte de matérias-primas. O protótipo muito rudimentar, era formado por uma caldeira na horizontal, apoiada por quatro rodas que para os leigos, não passava de um enorme tonel deitado, com chaminé e rodas. Anos mais tarde (1781-1848) depois de alguns aperfeiçoamentos o engenheiro inglês George Stephenson, foi quem obteve os primeiros resultados concretos com a construção de locomotivas, dando início a era das ferrovias. Ele construiu a “Locomotion” que em 1825 tracionou uma composição ferroviária, trafegando entre Stockton e Darlington, num percurso de 15 quilômetros e a uma velocidade de 20 quilômetros horários.
Passados todo esses anos, às vezes tenho a sensação de ouvir o apito do trem na curva do caminho. Minha primeira viagem de trem foi em 1955 quando saí de Erechim e fui até a cidade de Alegrete, onde servi o Exército Nacional. Foram dois dias de viagem. Lembro-me como se fosse hoje.
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