Dois grandes equívocos urbanísticos estão sendo cometidos em Campinas nesse momento, segundo o pesquisador Luiz Cláudio Bittencourt: o primeiro é a instalação da nova rodoviária dentro do Complexo Ferroviário e o segundo, a construção de um corredor segregado de ônibus que vai correr paralelo ao leito da extinta Companhia Paulista de Estrada de Ferro, o chamado Corredor Noroeste.
São decisões que mostram a falta de domínio do que significa a Região Metropolitana de Campinas (RMC) e de sensibilidade do que significa o conjunto ferroviário , afirmou o arquiteto, nesta segunda-feira, na abertura do fórum Diálogos sobre Trilhos.
Esse fórum, que reúne especialistas de diversas localidades, se propõe a uma reflexão sobre a história do transporte ferroviário na América Latina, tendo como foco a preservação do patrimônio, seu significado social e a sua apropriação para atividades de turismo, lazer e cultura. O encontro termina hoje, na sala 800 do Campus 1 da PUC-Campinas.
O arquiteto Luiz Cláudio Bittencourt coordena o projeto O papel dos leitos, pátios e conjuntos edificados ligados às ferrovias na estruturação urbanística para o município e a Região Metropolitana de Campinas. Esse projeto, em políticas públicas, é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Ele observa que o atual terminal rodoviário esgotou os sistemas de transporte e viário daquela região e que é um grande equívoco transferi-lo para uma distância de 300 metros de onde se encontra. Vamos ter problemas sérios no trânsito, até porque o volume de ônibus que irá para aquela área será muito maior do que entra hoje no terminal rodoviário, já que irá agregar os ônibus metropolitanos , afirma.
O Corredor Noroeste vai seguir, observa um trajeto paralelo ao traçado do leito ferroviário do Paulista. Estão ignorando isso, deixando de aproveitar uma estrutura de estações e leitos para fazer um corredor segregado que passa embaixo da rede de alta tensão, com muitos riscos. Sem contar que a opção adotada vai demandar a construção de novas estações, novo sistema viário e gestão em todas as cidades , diz.
Para Bittencourt, a forma como os leitos, pátios e patrimônio ferroviários vem sendo tratados em Campinas mostra o enorme descaso com o passado e com o presente. Ele não quis comentar a proposta de intervenção urbanística apresentada pelo arquiteto Jaime Lerner na última quinta-feira para o Complexo Ferroviário Central de Campinas por desconhecer o projeto, mas falou que urbanisticamente, a cidade vem sendo saqueada há muito tempo.
O que ainda restou dos últimos saques e que ainda mantém uma linguagem própria e que pode ter impacto na cidade é o conjunto de pátios e leitos ferroviários. Não consigo imaginar um projeto urbanístico para Campinas sem que seja capaz de articular seu passado e presente ao futuro desejado. Se não tivermos cuidado com o passado, com sua evolução econômica, seu avanço nas técnicas construtivas e de arrumação da cidade, o saque vai continuar , afirmou.
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