O presidente mundial da Alstom, o francês Patrick Kron, diz que o grupo que dirige está sendo condenado sem julgamento. A empresa está sob investigação no Brasil, na Suíça e na França sob suspeita de pagar propinas a políticos para obter contratos. Em visita a São Paulo, ele disse à Folha: “Vim para dizer que a Alstom não foi afetada por uma doença contagiosa e que a Alstom não corrompe agentes públicos”.
Veio também para assinar um contrato com o Metrô de 280 milhões (R$ 706 milhões), para modernização do sistema de controle e sinalização dos trens. Desta vez, a empresa foi escolhida por meio de licitação. Na entrevista a seguir, feita na sede da empresa, o engenheiro nascido em 1953 diz que as acusações contra a Alstom não têm fundamento e que a empresa adota a tolerância zero com desvios éticos.
FOLHA – Os grandes clientes da Alstom são governos. Como é possível atuar nessa área sem se envolver com corrupção?
Há uma mescla de setor público e setor privado entre os clientes da Alstom. Mas, já que você mencionou a questão da corrupção, isso me dá a oportunidade de tornar precisas certas coisas. Há dois meses o nome da Alstom no Brasil vem sendo associado a certas práticas que eu condeno, que não são toleradas na nossa empresa. A maneira como a nossa empresa foi tratada [pela mídia] ultrapassou todos os limites do razoável. Vim para dizer que a Alstom não foi afetada por uma doença vergonhosa nem contagiosa e que a Alstom não corrompe agentes públicos. Só peço que a Alstom seja tratada de maneira justa e equilibrada, que as informações sejam baseadas em fatos, não em especulações.
FOLHA – Promotores suíços têm documentos que mostram que a Alstom transferiu cerca de US$ 30 milhões entre 1998 e 2001 para pagar propinas no Brasil, na Venezuela, em Cingapura e na Indonésia. Por que a Alstom pagou propina a políticos de São Paulo, como dizem os investigadores suíços?
O inquérito aberto pelas autoridades suíças, com a colaboração da Justiça francesa, é sobre as atividades de um empresário suíço que teria tido contato com a Cegelec, que a Alstom comprou em 1998 e vendeu algum tempo depois. Até hoje, nenhum funcionário atual ou ex-funcionário da Alstom foi acusado de coisa alguma. Paralelamente, nós realizamos auditorias internas para analisar os documentos aos quais podemos ter acesso. O que eu posso dizer é que essa auditoria não confirma as hipóteses levantadas sobretudo pelo “Wall Street Journal”. Não encontramos nenhuma infração à ética nos contratos brasileiros que foram citados no “Wall Street Journal”. Nem do Metrô de São Paulo. Gostaria que me mostrassem o contrato de US$ 45 milhões pelo qual foram pagos US$ 7 milhões de propina [mencionado em reportagem do “Wall Street Journal”]. Ou então falemos do contrato da hidrelétrica Itá [em Santa Catarina]. Me explicaram que centenas de milhões de dólares foram pagos de propina por esse contrato. Em primeiro lugar, trata-se de uma empresa privada. Em segundo lugar, o contrato com a Itá não ultrapassa US$ 90 milhões. Fomos condenados sem sermos julgados. Fizeram isso com base em insinuações e é isso que quero combater.
FOLHA – Em dois memorandos da Cegelec, um executivo disse estar disposto a pagar 7,5% de propina para obter um contrato da Eletropaulo de R$ 110 milhões. Segundo os documentos, o dinheiro iria para as finanças do partido, para o tribunal de contas e para a Secretaria de Energia. Não são indícios fortes de que a Cegelec, já administrada pela Alstom, corrompia políticos?
O sr. está falando de uma empresa que a Alstom comprou mais tarde. Ela tinha uma atividade – fazia subestações de energia elétrica – que não faz mais parte dos negócios da Alstom. Então, você pode imaginar que para mim não é muito fácil comentar isso. Menos ainda avaliar o que ocorreu ou o que não ocorreu. A Justiça dirá o que aconteceu.
FOLHA – Em 2006, um executivo da Alstom no Brasil foi preso num caso em que havia i
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