O número nove exerce uma forte influência na trajetória do empresário Raul Anselmo Randon. Em agosto de 2009, ele fará 80 anos de vida e o grupo que ergueu, em janeiro de 1949, ao lado do irmão Hercílio Randon, (1925-1989), completará 60 anos, ostentando a condição de líder absoluto do mercado brasileiro de reboques e semi-reboques, tendo em seus quadros nove mil empregados e uma expectativa de negócios da ordem de R$ 4,5 bilhões, caso seja mantido o ritmo de crescimento médio de 20% dos últimos anos. Talvez, de todas as datas, 1939 tenha o maior simbolismo.
Nascido na localidade de Conceição da Linha Feijó, em Caxias do Sul (RS), Abramo Randon, então um jovem e habilidoso ferreiro, foi tentar a sorte na cidade de Rio Bonito, hoje, Tangará, no oeste de Santa Catarina, junto da mulher, Elisabetha. A mudança foi em 1920. Lá nasceram os filhos Hercílio, Isolda, Raul e Zilá. Em 1939, os Randon chegaram a uma conclusão: ali não haveria futuro para as crianças. Decidiram voltar para Caxias do Sul, onde Abramo montou uma oficina destinada à fabricação de ferramentas agrícolas. Nesta casa nasceu a caçula Beatriz e – mais do que isso – o embrião do que viria ser o grupo gaúcho.
Os guris, ainda adolescentes, começaram como auxiliar do pai. Meses depois, no entanto, Hercílio foi trabalhar em uma oficina especializada em reforma e manutenção de motores. Foram sete anos (1940-1947). O primeiro deles, sem remuneração. Em 1948, ele decidiu fazer reformas de motores junto à ferraria do pai e, em 1949, ganhou a companhia de Raul, que acabara de dar baixa do serviço militar.
Coincidência ou não, o Brasil ensaiava seus primeiros passos na era industrial; contava com uma frota de aproximadamente 160 mil caminhões, sendo que uma diminuta parcela subia e descia as perigosas estradas da serra gaúcha transportando, basicamente, madeira. E quando um acidente com carreta acontecia, os garotos eram chamados. A propaganda boca a boca espalhou a fama deles pela região. Era só o começo.
Nino, apelido de Hercílio, nunca cursou engenharia mecânica, mas era dono de uma genialidade admirável para a criação de soluções para o transporte. Raul nunca passou do ensino primário (da 1ª a 5ª série), mas era (e continua) insuperável na arte de vislumbrar e prospectar oportunidades, e de conquistar pessoas com seu jeitão bonachão. A dupla apareceu na hora certa.
Entre 1949 e 1969, a Mecânica Randon Ltda., foi inovadora na instalação de freio a ar em caminhões no lugar dos hidráulicos originais de fábrica; criação de semi-reboques de um eixo; terceiro eixo balancin para FNM; carga seca de um e dois eixos, tanque sobrechassi e caçamba sobrechassi, e terceiro eixo para GM e Ford, entre outras soluções, porque muitas ficaram sem registro nos primeiros dez anos.
Evolução é um item que faz parte do DNA da empresa desde o seu início. Do alto dos seus quase dois metros de altura, Raul é o sujeito que personifica o conceito de empreendedor. É capaz de ver oportunidades, não importando o lugar em que esteja. O alcance da sua visão, ainda hoje, com o processo de sucessão encaminhado, está, pelo menos, cinco anos à frente. Exemplo? “O presidente de uma montadora me falou há, uns dois anos atrás, que eu era o maior fornecedor de fundidos. Ele me deu um recado”, lembra. Na hora, Raul percebeu a oportunidade para investir na caçula das empresas, a Castertech, a unidade de fundição. “Vamos reduzir 30 a 40% da necessidade do nosso consumo”, salienta.
Em 1970, na efervescência do ‘milagre brasileiro’, Raul fez sua primeira viagem ao exterior, na companhia do amigo Edmundo Barbieri. Visitaram as feiras de Hannover e Milão. Foram 40 dias. Na volta, surpreendeu a todos ao propor a compra de uma colônia. De mil unidades por ano, a capacidade pularia para mil unidades mensais. Os primeiros 40 mil m² foram inaugurados em 1974. Em 1973 firmou contrato de transferência de tecnologia com a sueca Kockum AB, para fazer caminhões fora-de-
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