O projeto de construção de 1.860 quilômetros de ferrovia interligando estados do Nordeste aos portos de Pecém, no Ceará, e de Suape, em Pernambuco, data do século passado. De lá para cá já foi anunciado como prioridade de quase todos os governos. Iniciado no Piauí no inicio da década de 90, no governo Fernando Collor, foi paralisado com a queda do presidente, somando-se às mais de duas mil obras sem conclusão existentes no país.
A idéia agora é reiniciá-la, com meta de conclusão para 2010, ao custo de R$ 4,5 bilhões. No evento de ontem, o presidente Lula anunciou com pompa e circunstância a construção do pequeno trecho de 111 quilômetros, ao custo de R$ 220 milhões, que ligará a cidadezinha de Missão Velha, no Vale do Araripe, a Salgueiro.
Vagões do metrô de Fortaleza foram levados
Para que Lula aparecesse num trem e percorresse sete quilômetros de uma ferrovia desativada, os diretores da Companhia Ferroviária do Nordeste — subsidiária da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) — tiveram de fazer um verdadeiro malabarismo. Pediram emprestado da Companhia Metropolitana de Transportes de Fortaleza três vagões com ar-condicionado do metrô que ainda nem foi inaugurado. Com uma locomotiva da CSN, viajaram por vários dias, numa velocidade de 15 quilômetros por hora, os 600 quilômetros que separam a capital cearense de Missão Velha para que Lula percorresse apenas sete quilômetros dentro deles.
Lula e a comitiva de governadores e ministros ficaram no vagão da frente, assistindo a uma exposição do projeto da nova Transnordestina feita pelos diretores da CSN e por Benjamin Steinbruch, dono da siderúrgica e da concessão de construção e exploração da ferrovia. Lula fez várias perguntas sobre o sistema ferroviário no Brasil, disse que a obra seria a redenção do Nordeste e que a faria independentemente dos críticos que dizem que ela liga o nada a lugar nenhum.
Ao final da exposição, transmitida por sistema de TV para os outros vagões, Lula fez uma gracinha para os jornalistas acomodados no outro extremo do trem, no último vagão:
— Agora é para a imprensa: vou desligar o microfone, acabou o espetáculo! — disse Lula, achando graça da piada.
BNDES: investimento seráde empresas privadas
Lá atrás, o diretor administrativo da CSN, Jorge Mello, cuidou de explicar que a obra é um projeto essencialmente privado, e que o dinheiro emprestado pelo BNDES será pago.
— Temos o apoio do governo com as linhas de crédito do BNDES, mas cada centavo será pago. O único recurso do Orçamento é para as desapropriações — disse Jorge Mello.
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