Parauapebas, no Sudeste do Pará, um dos municípios mais ricos do estado graças aos royalties que recebe da mineradora Vale pela exploração do minério de ferro da Serra dos Carajás, viveu nesta terça um dia de cão, cercada por mais de mil militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que ameaçam paralisar a qualquer momento a ferrovia de Carajás no município. O bloqueio desrespeita liminar do Tribunal de Justiça do Rio, que proíbe o movimento e seu coordenador nacional, João Pedro Stédile, de “incitar e promover a prática de atos violentos” contra a empresa e de interromper suas atividades em todo o país, sob pena de multa de R$ 5 mil por ato violento ou interrupção.
Nesta terça, advogados de Stédile entraram com recurso contra a liminar obtida pela mineradora, contestando a competência da 41ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio para julgar a ação, já que Stédile tem endereço fixo em São Paulo, onde alegam que a ação deveria ter sido proposta.
Governadora manda tropa para reforçar Polícia Militar
O clima tenso na região fez com que a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), reforçasse o contingente da Polícia Militar em Parauapebas, enviando tropas de Marabá.
– O que percebo neste momento é que o medo está instaurado dentro da cidade. Há pais que estão retirando os filhos daqui – contou a vereadora Creusa Vicente (PMDB).
O presidente da Associação Comercial e Industrial de Parauapebas, José Rinaldo Carvalho, também demonstrou preocupação.
– Quando a gente diz “eu estou com medo” é porque o cidadão está tremendo de medo. Então é sério, é um terrorismo constante. Nós temos um contingente policial muito pequeno, que não atende às necessidades nem deste município nem desta região – disse Carvalho.
Invasão ameaça estado de direito, diz a Vale
A Vale divulgou nota oficial afirmando que “a invasão anunciada e iminente à Estrada de Ferro Carajás pelos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outros grupos é um desrespeito ao estado de direito e uma ameaça à segurança pública que afeta não apenas todo o setor produtivo do Pará, mas toda a população do estado”.
Na nota, a mineradora lembra que a Justiça concedeu um interdito proibitório e uma medida liminar que visam a proteger as instalações da Vale. A empresa alerta também que enviou quatro comunicados às autoridades com responsabilidade sobre o assunto, informando que está ameaçada de prática de crime fartamente anunciada nos meios de comunicação e em reuniões públicas promovidas pelo MST. “Porém, até o momento, a Vale não recebeu qualquer resposta formal das autoridades federais e estaduais”.
O MST deflagrou esta semana um “Abril vermelho”, anunciando novas invasões de terra no Pará para lembrar o 12 aniversário do massacre de Eldorado dos Carajás, no qual 19 trabalhadores sem-terra foram mortos em confronto com a PM.
Além de Parauapebas, o MST ameaça promover atos em Marabá, Eldorado dos Carajás e Canaã dos Carajás. Segundo o movimento, o objetivo é cobrar do governo celeridade nos assentamentos da reforma agrária, mais verbas para o Programa de Agricultura Familiar e a reestatização da Vale, a segunda maior do mundo, que tem no Projeto Carajás, em Parauapebas, a maior jazida de ferro do planeta.
Além de ato público na Curva do S, na Rodovia PA-150, palco do massacre de Eldorado, marcado para o dia 17 de abril, líderes do MST anunciaram a invasão de fazendas produtivas, o fechamento de rodovias federais e estaduais e o bloqueio da ferrovia de Carajás, por onde a Vale escoa o minério com destino ao mercado internacional. A ferrovia foi bloqueada pelo MST em outubro passado, causando um prejuízo de R$ 50 milhões.
Sobreviventes de Carajás pedem encontro com Ana Júlia
Sobreviventes e parentes de vítimas do massacre dos Eldorado de Carajás acamparam nesta segunda-feiraem frente ao Palácio dos Despachos na expectativa de
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