Um dia após a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao município de Jaboatão dos Guararapes — onde ele inaugurou a expansão da linha sul do metrô de Recife, após desembarcar de um trem com ar-condicionado — os usuários ontem reclamavam do calor insuportável no interior dos vagões. Suando muito, eles chegavam à estação do Cajueiro Seco criticando o tratamento diferenciado: o “geladinho” para a comitiva oficial e a “sauna” a que foram relegados.
— Ontem, Lula estava aqui e era tudo geladinho. Mas hoje é só calor. Estou esbaforido — desabafava, sacudindo a camisa, o vendedor Veronilson Oliveira da Silva.
Viajando no mesmo vagão, a dona de casa Andréa Simone também dizia estar “louca” para chegar em casa e tomar um banho: — É uma quentura infernal. As janelas são fechadas, fica só uma aberturinha na parte de cima que não dá para ventilar.
O aposentado Wilson Santino da Silva também estava insatisfeito: — Transporte melhor não tem. É muito rápido. Mas a sauna é insuportável. Ontem (anteontem) capricharam porque o presidente, o governador e o prefeito estavam aqui. Todos ficaram no geladinho. Esse pessoal foi embora e sobrou o calor.
A administração do Metrorec — responsável pelo metrô — informou que duas das três composições que operam a linha inaugurada pelo presidente Lula ainda estão sem ar-condicionado. As duas outras serão modernizadas, segundo a empresa. A Metrorec informou que, até 2007, nenhuma das 25 linhas do metrô de Recife possuía ar-condicionado. A partir de 2008, os trens passaram por reformas e 12 já estão refrigerados. No seu discurso, Lula prometeu mais trens e ar-condicionado no sistema.
Os usuários da estação do Cajueiro Seco tinham ainda outra reclamação: a estação do metrô inaugurada pelo presidente não está no Sistema Estrutural Integrado, que permitirá integrar o metrô ao transporte rodoviário, com o passageiro pagando uma tarifa única. A linha sul deveria ter sido inaugurada com cinco terminais de ônibus. Mas ontem havia apenas uma faixa avisando: “Futuro terminal integrado de passageiros”.
Sem a integração, a procura ontem não era grande, e os trens circulavam com muitas cadeiras vazias.
Para Denilson de Andrade Gomes e Edineide Pereira da Silva, funcionários de uma indústria de refrigerantes, a linha sul não deveria ter sido inaugurada sem o serviço complementar rodoviário. Como trabalham até as 22h, eles temem ser assaltados porque o percurso da empresa até o metrô é feito a pé, num trecho escuro, onde ocorrem muitos assaltos.
O governo estadual informou que, até o primeiro semestre de 2010, os terminais de integração deverão estar prontos. Eles deveriam ter sido construídos pelo governo federal, mas, devido a problemas na licitação, o governador Eduardo Campos (PSB) solicitou que os projetos fossem transferidos para o estado. Segundo o secretário estadual das Cidades, Humberto Costa, o governo federal já repassou os recursos necessários. A linha sul percorre um trecho de 6,2 quilômetros, com cinco estações; sua conclusão exigiu investimento de R$ 365 milhões do governo, verba do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
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