Uma obra de grandes proporções, que inclui a construção de uma nova estação e 1,3 quilômetros de trilhos, promete mudar a vida dos moradores da Zona Norte que utilizam o metrô como meio de transporte. A extensão da Linha 2 vai acabar com a transferência de passageiros na estação Estácio e permitir uma viagem sem interrupções até o Centro ou a Zona Sul, com a ligação das estações São Cristóvão e Central.
Mas as mudanças não vão afetar apenas os usuários de metrô. Quem mora em São Cristóvão ou trafega pela Radial Oeste para chegar ao Méier, por exemplo, já convive com as alterações no trânsito promovidas pela CET-Rio.
Após o fim dos trabalhos, previsto para março de 2010, os trens da Linha 2 não circularão mais pela estação Estácio (que só receberá trens da Linha 1). As composições vão de São Cristóvão até a estação Cidade Nova, que será construída num terreno em frente à sede da prefeitura.
De lá, seguirão para a Central e circularão até Botafogo, pelos trilhos da Linha 1. A ligação das duas linhas deve encurtar em 13 minutos o tempo de viagem da Pavuna ao Centro.
Pode parecer pouco. Mas, para usuários como a auxiliar de faturamento Ana Cristina Gomes, de 27 anos, que há três anos viaja sempre em horário de rush, a promessa de mais tranquilidade na viagem é animadora.
— Acho que tende a melhorar. A viagem é muito complicada. É gente demais pegando o metrô ao mesmo tempo. O trem fica muito cheio, tem tumulto, às vezes as pessoas até se machucam por causa da lotação — relata Ana, que mora em São João de Meriti, trabalha em Copacabana, sai de casa às 6h30m e, às 18h, faz o caminho de volta. No trajeto entre Pavuna e Siqueira Campos, ela gasta ao menos duas horas e meia por dia para ir e voltar.
Para ligar São Cristóvão à estação Cidade Nova, a concessionária vai utilizar um trilho já existente, que leva os carros para o centro de manutenção localizado na Avenida Presidente Vargas. A duplicação desse trilho e sua extensão até a nova plataforma estão em execução. O trilho elevado passará pela Radial Oeste, depois por trás dos prédios da Praça da Bandeira, como a Escola Nacional de Circo e a Previdência Social, e seguirá pela Rua Elpídio Boamorte, por cima da Ponte dos Marinheiros, até a Cidade Nova.
O caminho, a partir da Cidade Nova, será todo por uma nova via na superfície até o túnel existente de acesso à Estação Central. A partir daí, os trens da Linha 2 circularão pelos trilhos da Linha 1 até Botafogo.
A concessionária aposta que 200 mil lugares serão criados por dia, tendo em vista que os passageiros dos dois trechos não precisarão mais compartilhar o trem para o Estácio. Outra vantagem é a redução do intervalo entre os trens de quatro para dois minutos, nos horários de pico, entre as estações Central e Botafogo, pois nesse trecho estarão circulando composições das duas linhas.
Trabalhos alteram trânsito no entorno
Quem vai do Centro em direção à Rua Vinte e Quatro de Maio pela Radial Oeste já percebeu que a pista lateral da via está tomada pelas obras de expansão do metrô.
É por ali que vai passar parte do viaduto de ligação entre São Cristóvão e Cidade Nova.
Por enquanto, a CET-Rio improvisou uma faixa reversível, no sentido oposto, pela Rua Teixeira Soares. Mas o diretor de relações institucionais da concessionária, Joubert Flores, garante que haverá uma compensação.
— A Radial Oeste continuará tendo quatro faixas, como sempre teve. Vamos construir mais uma, no espaço onde hoje fica o canteiro central. A faixa da direita ficará tomada por parte dos 34 pilares usados na sustentação do viaduto — explica.
Outra importante alteração no tráfego está pronta: a demolição do muro que separava as ruas Ceará e São Cristóvão há mais de 40 anos. A obra foi uma das alternativas encontradas pela CET-Rio para melhorar o fluxo de veículos no local. Os motoristas que vêm da Radial Oeste podem chegar à Rua São Cristóvão sem precisar atravessar o viaduto que dá acesso à via. E quem passa em frente à antiga Estação Leopoldina e sobe o viaduto que termina na Rua Figueira de Melo também percorre uma distância menor.
Investimento total no projeto é de R$ 1,1 bilhão
A obra, que começou em novembro de 2008, inclui ainda a remodelação da passarela azul que leva os pedestres até a calçada da sede da prefeitura.
Após as intervenções, a ponte sairá de dentro da estação Cidade Nova. A estrutura será fechada, com ar-condicionado, elevador para deficientes e até espaço para quiosques.
Outra característica que chama a atenção nos lugares onde estão instalados os canteiros de obras são os tapumes, supercoloridos e decorados com imagens da fauna e da flora brasileiras.
A concessionária esclarece que a iniciativa tem o objetivo de lembrar que o metrô é um meio de transporte ecológico, já que tira carros das ruas e alivia o trânsito. Ainda segundo a empresa, cada composição do metrô em circulação corresponde a menos 1.200 automóveis nas ruas.
O investimento total no projeto metrô Século XXI é de R$ 1,1 bilhão, e inclui não apenas a expansão da Linha 2, mas ainda a aquisição de 114 novos carros.
Esse aumento deve acontecer em dezembro de 2010 e vai dobrar a capacidade de atendimento da concessionária de 550 mil para 1,1 milhão de passageiros por dia. Atualmente, 250 mil deles na Linha 2.
Estações excluem deficientes
A empresa que administra o metrô é a mesma para as Linhas 1 e 2, mas quando as estações são comparadas no quesito “acesso para idosos e portadores de deficiência física”, a diferença é cruel. Das 15 paradas da Linha 2 — que liga a Pavuna ao Estácio — 11 não têm escadas rolantes ou rampas.
Os números fazem parte de um levantamento do deputado estadual Gilberto Palmares (PT). A mesma pesquisa diz que, nas 18 estações da Linha 1 — ponte metroviária entre Cantagalo e Estácio —, 15 são aptas para pessoas com dificuldades de locomoção. Na Linha 2, só as estações de Colégio, Pavuna, Irajá e Maria da Graça têm escadas rolantes.
— Tenho problema na coluna e artrose. Estou com 83 anos e só consegui subir a escada de costas — diz a aposentada Jucirema Nunes de Abreu, contando como conseguiu equilíbrio para vencer os cerca de 30 degraus que separam a área de desembarque da estação de Vicente de Carvalho da saída.
A metrô Rio explica que, até o início do ano passado, o contrato de concessão não permitia construir acessos a deficientes. A concessionária assegura que, até o fim do ano, o problema estará resolvido em todas as estações.
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