Embora as empresas de transporte ferroviário comemorem 87,6% de aumento de produtividade e o crescimento de 75,8% do volume transportado nos últimos dez anos, o panorama do setor no País ainda é caótico. Passagens de nível, invasões de domínio, lentidão do transporte e vandalismo são as principais preocupações. Dessa forma, além de ser utilizadas em escala muito menor do que em países de dimensão similar ao Brasil, como Canadá, Rússia e China, as ferrovias que dão acesso aos portos brasileiros não se encontram em bom estado, dificultando a atração de cargas de alto valor agregado.
Para contribuir com a redução desses entraves para o desenvolvimento de toda a cadeia logística brasileira, o presidente da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), Rodrigo Vilaça, garantiu que até a segunda quinzena de julho a Secretaria Especial de Portos (SEP) receberá um completo mapeamento fotográfico dos acessos ferroviários a todos os portos brasileiros. Ele explica que a realidade é caótica do Norte ao Sul do País. “No acesso ao Porto de Fortaleza, as favelas invadiram as áreas próximas à linha férrea, quase impedindo a circulação dos trens da CFN (Companhia Ferroviária do Nordeste). Em Santos, contabilizamos prejuízos da redução de velocidade de 40 km/h para 5 km/h na área urbana. Assim é difícil a captação de cargas de alto valor agregado”.
O ministro-chefe da SEP, Pedro Brito, celebrou o apoio da ANTF e fez coro à necessidade de melhorias nos acessos terrestres para agilizar as operações dos complexos portuários. “Hoje, os acessos terrestres aos portos são dramaticamente ineficientes e isso prejudica a eficiência portuária”. Brito lembrou ao Portogente que o problema nas linhas férreas não é um problema ligado diretamente à SEP, mas ao Ministério dos Transportes. Entretanto, a idéia, indicou, é que esse estudo possa orientar uma atuação conjunta do governo para eliminar os gargalos. “A preocupação é total. O porto depende primordialmente desses acessos. O Brasil depende hoje em mais de 50% do modal rodoviário para atendimento dos portos e isso implica hora em filas, hora em custos exacerbados, e o modal ferroviário é um dos custos mais baratos que dispomos no mercado”.
Vilaça também defende uma atuação em conjunto entre as esferas do poder público e dos transportadores ferroviários. O primordial, segundo explicou à reportagem, é colocar em prática um plano que efetivamente proporcione melhorias nesse sentido. “O ministro Pedro Brito, que levou bala no Rio de Janeiro, tem sido uma presença constante nessas discussões e tem oferecido condições a nós, da iniciativa privada, buscarmos soluções como a de Conceiçãozinha, no Guarujá. Nós vamos tirar de lá quase 1.200 famílias. É um processo longo e demorado, mas que precisa acontecer”.
Pelo fato de o Brasil movimentar grandes quantidades de carga pesada, como minério e produtos siderúrgicos – favoráveis de serem transportados via ferrovias -, Vilaça criticou o governo federal por não eliminar as milhares de passagens de nível espalhadas por todo o Brasil. Esses cruzamentos com outras vias causam acidentes e dificultam o bom andamento do transporte. Com o aumento da demanda pelo transporte ferroviário e a aguardada diversificação de mercadorias, especialmente com a inserção de produtos agrícolas e combustíveis, o presidente da ANTF lamenta “estar discutindo coisas que já poderíamos ter feito faz tempo”.
Segundo ele, a previsão é de que em 2015 o Brasil tenha menos quilômetros de ferrovias do que existia no longínquo ano de 1958. “Precisamos avançar na integração entre ferrovias e navios, pois com a rodovia, em parte, já existe, apesar dos problemas encontrados. (É necessária) uma definição para o uso de cada modal de acordo com a demanda, proporcionando a diminuição do consumo de energia e de impactos ambientais”. De positivo, Vilaça comemora o fato de o Reporto ter englobado as ferrovias, o que desonera a compra de equipamentos
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