A maior companhia ferroviária do país, a ALL – América Latina Logística, vai abrir uma nova frente de transporte no segmento agrícola ao firmar parceria com o maior grupo sucroalcooleiro nacional, a Cosan, para montar uma plataforma de transporte de açúcar e de seus derivados do interior de São Paulo até o porto de Santos. O projeto, orçado em R$ 1,2 bilhão, será todo bancado com recursos da Rumo Logística S.A., subsidiária da Cosan que visa crescer no ramo logístico.
O negócio, com prazo de 180 dias para obter todas as condições de execução, principalmente as financeiras por parte da Rumo, e aprovações de órgãos regulatórios, prevê alcançar transporte de 9 milhões de toneladas anuais de açúcar em 2013. Está previsto para entrar em vigor no início de 2010, com prazo de cinco anos para atingir a plena capacidade, após fazer os investimentos em modernização de todo o trajeto (cerca de 650km) e duplicação de grande parte do trecho, compra de locomotivas e vagões e construção e ampliação de terminais.
Do investimento, R$ 535 milhões, ou 45%, serão aplicados no trecho da ferrovia que vai de Itirapina, próximo de Araraquara (SP), ao porto de Santos, incluindo ampliação de pátios. Outros R$ 435 milhões, ou seja, 36% do total, serão destinados à compra de 79 locomotivas e de 1.108 vagões, que serão de propriedade da Rumo e totalmente dedicados ao transporte da carga prevista no contrato. Os R$ 206 milhões restantes serão usados para erguer um novo terminal em Itirapina e ampliação de dois outros da Rumo já existentes em Santos.
“Trata-se de uma operação transformadora para a ALL no negócio de açúcar”, disse ontem ao Valor o presidente da companhia, Bernardo Hees. “Vamos mais que quadruplicar o volume transportado desse produto no ano passado no Estado de São Paulo, rumo a Santos”. Mais 2 milhões de toneladas de açúcar, de outras origens, são levadas para o porto de Paranaguá.
O executivo informou que o namoro entre as duas parceiras já tinha um bom tempo e ganhou mais força seis meses atrás. A ideia partiu de Marcos Lutz, vice-presidente executivo da Cosan e presidente da Rumo. “Ele é o pai desse projeto”. Hees contou que os últimos detalhes da operação foram finalizados pelos advogados na manhã de sábado.
Segundo ele, a participação de mercado da ferrovia em São Paulo no transporte de açúcar é pequena: entre 10% e 15%. “Nossa meta é ousada para os próximos anos, com objetivo de crescer bem”, afirmou. A importância do contrato é vista pelo fato de hoje esse corredor da ALL transportar em torno de 12 milhões de todos os tipos de cargas. “Queremos crescer também no álcool”.
Além da parceria, que cria novo corredor para o açúcar, a ALL continuará a atender outros produtores no estado, independentemente da atuação da Rumo, que vai operar com produto do grupo Cosan e de terceiros, tendo Itirapina como uma grande base de captação. Hees disse que o modal ferroviário tem frete até 20% inferior ao rodoviário para o açúcar.
No acordo, a ALL compromete-se a transportar volume mínimo de 1,09 milhão de toneladas por mês de açúcar e derivados a partir do quarto ano, 2013. O contrato vigora até 2028, quando vence a concessão da ferrovia, a qual é renovável por mais um período de 30 anos. Além disso, terá de oferecer tarifas competitivas ao parceiro, que está investindo nessa plataforma, fazer gestão das obras e indicar fornecedores de vagões e locomotivas no país e exterior e pagar aluguel pelo material rodante conforme a carga transportada. No primeiro ano, a Rumo prevê dispor para a ALL quase metade dos vagões previstos e cerca de 50 locomotivas.
O investimento, além de ampliar a capacidade de transporte no corredor, vai permitir baixar bastante o tempo de carga, descarga e transporte, segundo destaca a ALL. Somados, hoje chegam a quase 40 horas nesse trajeto. “Vamos reduzir para a metade”, garante o executivo da ALL. A carga e descarga baixarão para seis horas e o percurso, para 14 horas. Essa ferrovia, antiga Ferroban, da holding Brasil Ferrovias, que apresentava um dos mais baixos índices de competitividade do setor, foi adquirida pela ALL em maio de 2006, juntamente com a Ferronorte e a antiga Novoeste.
A operação ainda depende da captação de recursos financeiros pela Rumo para suportar o investimento. Ela busca investidores locais e estrangeiros que veem em projetos de infraestrutura retornos atrativos no médio e longo prazos. A Rumo contratou o banco Credit Suisse para assessorá-la nessa fase, fundamental para viabilizar o projeto logístico do açúcar. Com um terminal portuário em Santos com capacidade de armazenagem de 435 mil toneladas, a Rumo está apta a embarcar por ano 15 milhões de toneladas. Procurado para falar sobre o negócio, Marcos Lutz não foi localizado.
A ALL opera 21 mil km de ferrovias no Brasil e na Argentina, com uma frota de 1,1 mil locomotivas e cerca de 31 mil vagões. No ano passado, transportou em torno de 50 milhões de toneladas de cargas.
Seja o primeiro a comentar