A moça que anuncia o portão de embarque do próximo vôo não existe. A voz macia que você escuta em boa parte dos aeroportos das capitais brasileiras foi criada em um computador e pode ser mais grossa ou fina, ao gosto do cliente. É também uma artimanha da tecnologia a voz que anuncia as estações nos trens urbanos e metrôs.
Por trás dela estão meia dúzia de engenheiros da Apel, uma das maiores empresas nacionais de sonorização. Esses jovens rapazes, saídos da Universidade Federal da Campina Grande (UFCG), passam o dia debruçados sobre o que parecem ser caixinhas de ferramentas para o olhar leigo – transistores, fios, placas – e diante de fórmulas matemáticas incompreensíveis. É essa enxuta massa cinzenta, auxiliada por uma equipe de 12 técnicos eletrônicos, responsável pelo software embarcado presente hoje nos aeroportos de Congonhas, Recife, Belém, Maceió, Belo Horizonte, Santos Dummont e Brasília, e nos trens do metrô de São Paulo e outras 94 das 100 estações do país.
Com faturamento previsto de US$ 1,2 milhão em 2008, a Apel é um dos exemplos de mais sucesso do pólo campinense de TI. Criada há 25 anos, a empresa foi pioneira no Brasil em sonorização de ambientes via linha telefônica, trabalho baseado na tese de mestrado do sócio-fundador Ivan Acioli, um dos criadores do curso de Engenharia Eletrônica da UFCG. O feito culminou com um contrato da Telebrás de fazer inveja à concorrência, e a Apel não parou mais. O próximo passo foi no ramo de radiodifusão, em que a empresa tem hoje um portfólio de três mil clientes.
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O pulo do gato ocorreu em 1998, com a entrada no mercado de sonorização de metrô e ferrovia. Quase da noite para o dia, a Apel viu uma guinada no faturamento de US$ 20 mil para US$ 3 milhões. “Foi uma confusão. Não tínhamos capacidade técnica para fazer isso rapidamente”, lembra José Clóvis Vidal, diretor-superintendente da empresa. Em pouco tempo, a tecnologia adaptada já era utilizada nos aeroportos. “Não quero desapontar ninguém, mas não existe mulher alguma para aquela voz. É só um computador”, diz Clóvis.
Os aeroportos e metrôs são os carros-chefes da empresa, mas a voz invisível também está presente em hospitais, igrejas, shoppings e até colégios. O sistema de sonorização é feito por microcomputadores que permitem o controle em redes remotamente. Além disso, a Apel desenvolveu um sistema que possibilita que mensagens pré-gravadas sejam difundidas pela simples seleção ou programadas para sair com data e hora certas.
A massa cinzenta campinense ainda entrega painéis de informação – os letreiros essenciais nos aeroportos e estações de trem – e um sistema de docagem de aeronaves que sinaliza ao piloto o local exato onde ele deve estacionar o avião.
Parte do sucesso está nas parcerias de peso da empresa campinense. A Apel entra no “pacote” de licitações para obras de companhias como Alstom, Bombardier e Siemens. “Nós entramos com som, câmeras e painéis”, diz Clóvis.
No início deste mês, a empresa paraibana acertou uma parceria inédita com o grupo japonês TOA Eletronics, que, se tudo ocorrer como planejado, abrirá portas para mercados ainda inexplorados – o da sonorização de estádios, presídios e da indústria petroquímica.
A TOA é uma das maiores empresas de sonorização do mundo, tendo feito trabalhos em 21 dos 31 estádios esportivos da Olimpíada de Pequim. Uma de suas especialidades é produzir hardware de alta resistência a impacto e temperatura. “É um equipamento que, se em chamas, não explode”, diz Clóvis.
Segundo o executivo, a parceria prevê que a TOA envie para a Apel componentes do hardware para serem montados na planta campinense. A Apel, por sua vez, entraria com o software. “É uma absorção de tecnologia muito importante. Levaríamos anos para desenvolver algo parecido”, explica Clóvis.
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