Falha humana. Essa foi a conclusão da comissão criada pela SuperVia para apurar as causas do acidente entre dois trens, no último dia 30, que matou oito pessoas e feriu outras 101 em Austin, Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Segundo os técnicos da operadora, uma combinação de três erros do maquinista do trem de passageiros (UP171), Norival Ribeiro Nascimento, e dois do controlador do ramal de Japeri, Edson Assunção, num intervalo de seis minutos, deram origem à tragédia.
“Foi uma fatalidade. Não tem outra explicação. Mas o fato de ter sido falha humana não tira a culpa da SuperVia, já que os profissionais trabalham sob nossa responsabilidade”, disse o presidente da empresa, Amin Alves Murad.
De acordo com o laudo divulgado pelo diretor de operações João Gouveia, os erros do maquinista foram conduzir o trem com excesso de velocidade (75 km/h, enquanto o máximo permitido no local era de 60 km/h), não respeitar o sinal amarelo, que indicou a obrigatoriedade da redução da velocidade, e em seguida avançar o vermelho, que sinalizou para a parada do trem.
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O operador, por sua vez, falhou ao não fechar o sinal e impedir que a composição deixasse a estação Comendador Soares rumo a Austin apesar de outro trem, sem passageiros (WP908), vir em sentido contrário. No momento seguinte, errou novamente ao permitr que o WP908 utilizasse a mesma linha do UP701 para manobrar.
O delegado Fábio Pacífico, da 58ª DP (Posse), que investiga as causas do acidente, já recebeu o laudo e concorda com a tese de falha humana. Pacífico, no entanto, aguarda o laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) para verificar se há problemas na rotina de trabalho da SuperVia que pudessem induzir os profissionais ao erro. Alguns depoimentos levam a crer que há uma cobrança excessiva pela pontualidade dos trens, o que levaria, em muitos casos, ao excesso de velocidade. Na coletiva à imprensa após a divulgação do laudo, o presidente da SuperVia negou a acusação.
O maquinista Norival Nascimento tem 27 anos de experiência e nunca se envolveu em acidentes, assim como o controlador Edson Assunção, há 12 anos na função. O destino dos dois será decidido hoje em reunião na sede da operadora. Oitenta pedidos de acordo para indenização já foram agendados com a SuperVia por sobreviventes e parentes das vítimas fatais. Três (um óbito e dois feridos) já tiveram valores definidos e pagos. Outros oito casos estão em fase final de acerto.
O presidente do Sindicato dos Ferroviários, Valmir de Lemos, o Índio, não acredita no laudo da SuperVia. “Só confiamos em uma investigação feita em conjunto por Agetransp, Crea, Alerj, Ministério Público Estadual, ministérios das Cidades e do Trabalho e Câmara Federal. O que sair daí, o sindicato assina”, argumentou o dirigente. Assembléia da categoria, marcada para esta quarta-feira, pode decidir pela greve, fato que Amin Alves Murad descarta: “Nossos profissionais sabem da responsabilidade que têm e não vão deixar a população na mão”.
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