Júlio Fontana Neto deverá deixar a presidência da MRS até o final de maio. A decisão estava sendo discutida desde o início de abril e foi acordada esta semana entre o executivo e o conselho de acionistas da MRS, composto pelas empresas Vale, Usiminas, CSN e o Grupo Gerdau. Ainda não há substituto designado para o cargo.
Julio Fontana foi nomeado presidente da companhia em 1999. Sua gestão foi marcada pelo crescimento do volume de transporte e evolução dos resultados financeiros. De nove anos para cá, a operadora quase triplicou as toneladas úteis transportadas – em 1999 foram 55 milhões passando para 135,8 milhões de TU em 2008. Em termos de TKU, o índice mais que dobrou no período. De 25,9 bilhões em 1999, a empresa registrou ano passado, 55,5 bilhões.
Sucessivos recordes de transporte da ferrovia logo se refletiram nos dados financeiros. Desde 2000, a MRS amargou prejuízos, que chegaram a R$ 166,8 milhões em 2002. Júlio reverteu a situação, e a MRS em 2008 alcançou lucro líquido de R$ 663 milhões.
Os investimentos realizados durante sua gestão foram agressivos. No ano em que assumiu a presidência, a MRS investiu R$ 76 milhões. Em 2008, cerca de R$ 1 bilhão. Em seu exercício, comprou cinco mil vagões, modernizou o sistema de sinalização e telecomunicações, ampliou pátios, duplicou 100 quilômetros de linha, modernizou e adquiriu novos equipamentos de manutenção. Em matéria de tração, a MRS encomendou durante sua gestão 250 locomotivas, das quais 150 em 2007, o que permitu à GE reiniciar a fabricação de locomotivas de linha no Brasil. Nesta aquisição, a companhia optou por 65 máquinas de corrente alternada, que pela primeira vez seriam utilizadas por uma ferrovia de carga no Brasil.
Seu otimismo e energia marcaram de forma positiva o período pós-privatização das ferrovias. Eleito o Ferroviário do Ano de 2005, Julio levou a empresa a ganhar sete vezes o prêmio de Melhor Operadora de Carga, oferecido pela Revista Ferroviária. Foi duas vezes presidente da ANTF. De 2000 a 2003, quando deu à entidade a relevância que conserva até hoje; e desde o ano passado, durante o biênio 2008/2009.
Apesar disso tudo, Júlio não conseguiu transformar a MRS em uma empresa ferroviária com rota própria. Ela continuou a vida toda como centro de custo dos seus proprietários, siderúrgica e mineradoras, e os investimentos foram sistematicamente canalizados nesta direção. Assim foi no caso do projeto de Casa de Pedra, da CSN, que implicou na aquisição de 700 vagões e 40 locomotivas. Exemplo oposto foi a oportunidade aberta pela venda da Brasil Ferrovias, em 2007, onde a MRS ficou de fora. A Brasil Ferrovias (Ferroban, Novoeste e Ferronorte) praticamente não exporta minério, e a empresa acabou sendo comprada pela ALL. O mesmo ocorreu este ano, quando a MRS perdeu a oportunidade de operar a logística ferroviária do projeto da Cosan/Rumo, para exportar 9 milhões de toneladas de açúcar/ano pelo porto de Santos. Novamente a ALL ficou com o negócio. Não era o que queria o executivo.
Com 53 anos, Júlio Fontana é formado em engenharia mecânica com pós-graduação em administração de empresas, ambos pela Universidade Mackenzie. Antes da MRS, passou pela Alcan e Gerdau.
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