Metrô de BH tem o km rodado mais caro do Brasil apesar de ser o segundo menor

O Tempo (MG) – A partir deste sábado (1º), a passagem para o metrô de Belo Horizonte passa a custar R$ 5,30, um aumento de 17,77% em relação ao valor atual, de R$ 4,50. O reajuste consolida, ainda mais, o serviço como o mais caro por quilômetro rodado entre as capitais do Brasil. O aumento ocorre em meio à recente concessão do metrô para a iniciativa privada — com a promessa de revitalização das estações e implantação da linha 2. 

No quesito extensão, o metrô de Belo Horizonte é o segundo menor entre as capitais brasileiras. O transporte sobre trilhos conta com 28,1 km entre as estações Vilarinho, na região de Venda Nova, em Belo Horizonte, e Eldorado, em Contagem, na região metropolitana. Com o bilhete a R$ 5,30, o passageiro paga R$ 0,19 centavos por quilômetro rodado.

A segunda passagem mais cara nesse quesito é Brasília, onde o serviço conta com 42,4 km e custa R$ 5,50, R$ 0,13 por quilômetro. A terceira posição do ranking é ocupada por Salvador, na Bahia: R$ 5,50 para uma extensão de 33 km, R$ 0,12 por quilômetro. Mais caro do Brasil em valores totais, o metrô do Rio de Janeiro aparece em quarto, com custo de R$ 6,90 e extensão de 58 km, R$ 0,12 por quilômetro.

Especialista em transporte, Silvestre Andrade considera “muito pequena” a linha do metrô e explica que isso, “além de atender pouco a população”, impacta no preço das passagens. “Todos os custos têm que ser pagos por uma única linha.” Isso ocorre porque existem “gastos fixos” de manutenção e operação dos serviços, “independentemente da extensão”. 

Pesquisadora em mobilidade urbana do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Annie Oviedo acrescenta que “o valor cobrado pela passagem não corresponde ao serviço prestado”. “A população está pagando um custo muito alto” pelo modal de transporte. 

Espinha dorsal do transporte público 

Meio sustentável de locomoção, o sistema metroferroviário deveria ser a principal opção de deslocamento em grandes cidades, avalia Annie. “É a espinha dorsal do transporte público”, prossegue. “Ele é elétrico, não a diesel. É rápido, não pega trânsito, e muito seguro. A gente deveria estar reduzindo as tarifas e incentivando o uso”, sugere. 

No entanto, com a possibilidade da passagem de ônibus reduzir para R$ 4,50 — após o reajuste para R$ 6 —, Annie acredita que o metrô possa perder usuários. “O que fez o modal ter um aumento significativo de passageiros foi o preço”, explica. Entre janeiro e maio de 2019, por exemplo, com o valor de uma passagem de ônibus (R$ 4,50), era possível comprar mais dois bilhetes para o metrô (R$ 1,80).

Com as tarifas mais caras quem mais sofre são as pessoas de baixa renda. “O sistema econômico atrai passageiros, mas uma tarifa maior impõe uma barreira financeira. Isso afeta o direito das pessoas de se locomover”, prossegue.  

A técnica de enfermagem Maria Regina Parreira, de 48 anos, exemplifica o cenário. Ela conta que prefere se locomover de metrô devido à praticidade. Contudo, admite que o preço da passagem pode pesar na decisão. “O metrô é muito limitado, e eu acho que o preço também é problema”, analisa. 

A secretária Neide Ferreira, de 59 anos, diz que escolhe o transporte mais barato, embora também prefira o metrô. “Dá para eu pegar os dois. Estou pegando o metrô porque o ônibus está mais caro. Mas vou voltar a fazer o contrário [caso ocorra a redução das passagens de ônibus para R$ 4,50]”, afirma. 

Linha 2 

A partir do contrato de concessão do metrô para a iniciativa privada, a implantação da linha 2 do metrô, que vai ligar a estação Calafate ao Barreiro, é uma das grandes expectativas. As obras têm previsão de início em 2024 e devem estar concluídas até 2019. Os trilhos vão acrescentar 10,5 km de extensão, totalizando 38,6 km. 

Ainda que a linha 2 já estivesse em operação, o quilômetro rodado do metrô de Belo Horizonte seguiria como o mais caro entre as capitais mineiras, com o custo de R$ 0,14. Para Annie, pesquisadora em mobilidade urbana do Idec, as obras de extensão não estão associadas ao preço das passagens. 

“Não se paga [obra] com tarifa. Elas dependem de subsídios públicos”, prossegue. No contrato de privatização do metrô, para expansão e melhoria do serviço, estão previstos investimentos de R$ 3,7 bilhões. A maioria deles, R$ 3,2 bilhões, virá de recursos públicos.

Serão aportados R$ 2,8 bilhões pela União e R$ 440 milhões pelo governo de Minas, a partir do acordo de reparação pelo rompimento da barragem em Brumadinho firmado com a mineradora Vale. O restante será de responsabilidade da empresa. 

A extensão do metrô de Belo Horizonte é um pedido recorrente da população. Passageiro, Ricardo Lucas Pereira Rosa, de 28 anos, entende que o aumento da passagem deveria vir acompanhado de ampliação dos trilhos. “Eu não tenho acesso ao metrô. O ônibus é mais vantajoso para mim, porque é mais próximo de casa e eu consigo ir a mais lugares”, conta.

Reajuste anual 

Em pouco mais de quatro anos, o preço da passagem do metrô subiu de R$ 1,80, em maio de 2019, para R$ 5,30, em julho de 2023. O contrato de concessão do metrô para iniciativa privada prevê reajustes anuais, conforme informou o governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra).

O reajuste de 17,77%, que entra em vigor em julho, corresponde à inflação entre março de 2021 e março de 2023, período em que a passagem permaneceu sem reajustes, explica o Executivo. “O cálculo para o reajuste considera a tarifa atual multiplicada pela inflação”, informa.

A concessão do metrô para iniciativa privada tem duração de 30 anos. Neste período, o governo de Minas, “enquanto poder concedente, é responsável pela supervisão, pela inspeção e pela auditoria do contrato, bem como pela avaliação do desempenho da concessionária”.

Segundo o presidente do Conselho da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Joubert Flores, só o pagamento das tarifas não sustenta a operação do serviço, subsidiada pelo governo antes da privatização. Ele avalia ser necessário investir em expansão para que o serviço tenha mais operação. 

“Na linha que transporta muita gente, é evidente que você pode ter um custo menor, porque você ganha em escala. Se você tem mais passageiros, você tem uma tarifa menor. Se um sistema não tem a capitalidade que precisa, sendo realmente a espinha dorsal, ele perde efetividade”, opina. 

Concessionária garante melhorias

Com lance único de R$ 25,75 milhões, o Grupo Comporte — que reúne empresas de transporte rodoviário e urbano de passageiros, cargas e turismos — venceu o leilão de concessão do metrô de Belo Horizonte, realizado em 22 de dezembro na Bolsa de Valores de São Paulo (B3).  A assinatura do contrato ocorreu em março. 

Conforme a concessionária Metrô BH, administrada pelo Grupo Comporte, desde que assumiu a operação, foram promovidas melhorias, como internet gratuita nos carros, testes para implantação da bilhetagem digital e ampliação do horário de funcionamento da bilheteria. Além disso, a empresa afirma ter reduzido o tempo médio da viagem entre a Estação Eldorado e a Central de 25 minutos e 42 segundos para 18 minutos e 54 segundos. A reportagem realizou o percurso às 18h desta quinta-feira  (29) e gastou 19 minutos e 44 segundos. 

Segundo a empresa, o projeto de revitalização das 19 estações da linha 1 já está em andamento, e as obras começarão em setembro. A primeira estação a receber intervenções será a Lagoinha, além do pátio de Manutenção São Gabriel. A concessionária também apresentou um cronograma de melhorias:

  • 10 estações serão reformadas até 2025, são elas: Eldorado, Cidade Industrial, Vila Oeste, Gameleira, Calafate, Carlos Prates, Lagoinha, Central, Santa Efigênia e Vilarinho.
  • 9 estações serão revitalizadas até 2026, são elas: Santa Tereza, Horto, Santa Inês, José Cândido, Minas Shopping, São Gabriel, Primeiro de Maio, Waldomiro Lobo e Floramar.
  • A nova estação da linha 1, Novo Eldorado, será implantada em 2026. Até 2029, as 7 estações da Linha 2 estarão em operação.

Segundo a concessionária Metrô BH, a frota atual de trens é composta por 10 composições da fabricante CAF, que possuem ar-condicionado e 25 trens fabricados pela Cobrasma, que são compostos de um sistema de ventilação e exaustão, sem ar-condicionado.

“O contrato de concessão prevê a compra de 24 trens novos, equipados com diversos itens para o maior conforto do usuário, como a passagem de usuários entre os carros, monitores e ar condicionado. A previsão de chegada das primeiras composições é a partir de 2027”, afirmou. 

“A concessionária Metrô BH informa que a demanda de usuários é monitorada todos os dias e a melhor estratégia operacional é traçada aos usuários”, completa a nota.

Fonte: https://www.otempo.com.br/cidades/metro-de-bh-tem-o-km-rodado-mais-caro-do-brasil-apesar-de-ser-o-segundo-menor-1.2942538

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