Metrô parado no Nordeste, perda de 4 em cada 5 passageiros e um prejuízo bilionário. Esse é o resumo dos reflexos provocados nos sistemas de transporte de passageiros sobre trilhos no país nos dois meses, até aqui, de duração da pandemia do novo coronavírus.
Em vez de transportar 12 milhões de passageiros por dia nos operadores no país, o total caiu para cerca de 2,5 milhões após as medidas de isolamento social para conter a disseminação da Covid-19, de acordo com a ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos).
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A queda acumulada no faturamento, entre 16 de março e o último dia 15, já soma R$ 2,1 bilhões, segundo Joubert Flores, presidente do conselho de administração da associação.
Na América Latina, há apenas dois sistemas de transporte sobre trilhos com atividades paralisadas, em Fortaleza e em Santo Domingo (República Dominicana), mas a redução no total de usuários ocorreu de forma significativa em todos os sistemas.
“As concessionárias não têm conseguido linhas de crédito. Elas estão alavancadas por terem convertido outorgas em investimentos. Com isso, comprometeram garantias. Há uma situação de desequilíbrio. Para reequilibrar, precisa de aporte”, disse.
No Ceará, estão suspensas as operações das linhas de transporte metroviário de passageiros desde 21 de março, conforme decisão do governo estadual, como forma de combater a pandemia do novo coronavírus.
Com isso, estão paradas as linhas sul, oeste, VLT Parangaba-Mucuripe e os VLTs do Cariri e de Sobral. “A prorrogação -e o endurecimento- das medidas restritivas é baseada em critérios técnicos, apontados por especialistas, com objetivo de reduzir a proliferação da Covid-19 e minimizar seus impactos”, diz a Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos.
Já no Rio de Janeiro, a SuperVia, concessionária do sistema, reduziu salários e jornada de cerca de 2.000 empregados, além de suspender os contratos de outros 500.
As medidas foram tomadas devido à queda no total de usuários transportados nos últimos dois meses. Entre 14 de março e quarta-feira (20), deixaram de ser transportados 19,1 milhões de passageiros, segundo a empresa. Só na quarta foram 393.917, 65% menos que uma quarta-feira normal.
No Rio, os sistemas -incluindo metrô e VLT- apresentaram perda total de 44 milhões de passageiros e prejuízo de ao menos R$ 173 milhões somente até abril. Em média, os três sistemas têm transportado 356 mil passageiros em dias úteis, ante 1,6 milhão de antes da pandemia.
“Em Nova York, o metrô está funcionando com 10% da demanda, uma empresa sustentada pela municipalidade. Na Argentina, que tem operação privada, o governo honrou, pagando uma demanda mínima. Qual maneira de fazer isso corretamente? O banco emprestar para o estado e este repassar, por exemplo [às empresas]. Nos EUA, bancos públicos já adquiriram participação em empresas e depois até ganharam dinheiro, ao revenderem”, disse o executivo.
O setor, que emprega cerca de 40 mil trabalhadores no país, teve mais de 300 casos confirmados da Covid-19.
TRIMESTRE DE QUEDA
A pandemia chegou num momento em que o setor estava em ligeira queda. Em janeiro, houve alta de 2,2% no total de passageiros em relação ao mesmo mês do ano passado, enquanto fevereiro apresentou retração de 2,7%. Em março, que já sofreu impactos das medidas de isolamento social na segunda quinzena do mês, a redução foi de 31,2%, com 82,4 milhões de passageiros a menos nos trens, metrôs e VLTs do país.
No acumulado do primeiro trimestre, São Paulo teve queda de 27,5% e o Rio, 30,7%. No Nordeste, a redução foi ainda maior, 48,5%.
Para o segundo trimestre, a projeção da ANPTrilhos é de que a redução seja de 70% no total de passageiros transportados. Em abril, a queda foi de 77,2%.
O setor metroferroviário no país tem 1.116,5 quilômetros de trilhos, divididos em 48 linhas, 624 estações e 5.269 carros de passageiros operacionais.
*Marcelo Toledo
Crise paralisa metrô e provoca perdas de 79% dos usuários e de R$ 2 bi no país
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