O Globo – Rosemere Moreira da Silva, de 55 anos, gasta até R$ 32,10 por dia de condução. O eletricista autônomo Dener Moniz, de 35, R$ 28,10. Desempregada, Luciana de Oliveira, de 44 anos, enfrenta dificuldade para conseguir um novo emprego devido ao custo do deslocamento. Apesar dos altos subsídios do governo estadual e municipal aos bilhetes únicos intermunicipal (BUI) e carioca (BUC), que somam mais de R$ 2 bilhões por ano, a integração do sistema ainda não atende o passageiro. No segundo dia da série de reportagens sobre o transporte público no Rio, O GLOBO mostra como a conexão tarifária ainda é ineficiente. A começar pelos preços desproporcionais: o trem, que corta o subúrbio, é mais caro que o ônibus municipal.Às 5h15 da manhã, já é grande o movimento de passageiros para embarcar no trem do ramal Japeri na estação de Nova Iguaçu. A diarista Rosemere Moreira trabalha em vários bairros, pega até quatro meios de transporte e gasta muito, mesmo usando o Bilhete Único Intermunicipal.
— Moro no Corumbá. Meu marido costuma me levar de carro até o ponto do ônibus, que me deixa no trem. Muitas vezes salto no Engenho da Rainha para pegar o metrô. Acabo gastando R$ 32,10 por dia de condução, porque pago a tarifa do metrô integral. Minhas patroas não querem pagar tanto de passagem. Preferem contratar quem mora mais perto — lamenta Rosemere.
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À procura de emprego, Luciana de Oliveira, de 44 anos, também sente dificuldade de conseguir trabalho por conta do transporte:
— Pego van e trem para chegar ao centro do Rio. O trem ajuda muito a chegar mais rápido, mas está caríssimo. Eu vejo que isso é uma questão para muitas empresas. Tem lugar que não contrata.
A preocupação aumenta quando se trata da mudança do sistema de bilhetagem no município. Anunciado em julho de 2023 pela prefeitura do Rio, o Jaé substituirá o RioCard nos transportes que circulam na cidade. O uso exclusivo do novo bilhete nos sistemas municipais estava previsto para fevereiro, mas foi adiado. Na nova previsão, a partir de 1º de julho passageiros só poderão pagar bilhetes de ônibus, BRT, vans e VLT da capital com dinheiro ou o novo cartão.
Em recentes declarações, a prefeitura alegou problemas técnicos para cumprir o prazo. Informou, por exemplo, não ter acesso a dados do cadastro da Riocard. Este mês, ao anunciar novo adiamento da operação total do Jaé, o prefeito Eduardo Paes afirmou que, mantido o prazo original, não seria possível integrar o novo sistema com o transporte intermunicipal (incluindo trens, metrô e barcas), cuja operação seria mantida pela Riocard. Depois, o governador Cláudio Castro prometeu licitar a bilhetagem intermunicipal.
De Belford Roxo, na Baixada Fluminense, a empregada doméstica Alessandra de Souza trabalha na Tijuca, e depende da integração para usar van, trem e metrô.
— É muita baldeação, e o preço muito alto. Uso bilhete único, mas está para mudar para o Jaé. Não estou entendendo nada, se meu cartão vai funcionar — diz, apreensiva.
Com o adiamento, o usuário poderá continuar a pagar suas passagens com o RioCard. Quem já comprou o Jaé poderá usar o cartão em todos os modais municipais, mas sem a possibilidade de fazer integração com os transportes coletivos sob responsabilidade do governo estadual.
O eletricista Dener Moniz, de 35 anos, mora em Nova Iguaçu e trabalha em Botafogo. Autônomo, gasta diariamente R$ 28,10 com trem, metrô e ônibus.
— Está muito caro para ser tão precário, vidro quebrado, ar-condicionado que não funciona — reclama.
Em nota, a Riocard Mais informou que “sempre apoiou o processo de transição para o novo sistema de bilhetagem da prefeitura, entendendo a importância de manter o atendimento à população”.
Nova bilhetagem estadual
No ano passado, os subsídios municipal e estadual somaram mais de R$ 2 bilhões. Desse total, cerca de R$ 1,6 bilhão foi repassado às empresas de ônibus. Segundo o secretário estadual de Transportes, Washington Reis, o edital para a licitação da nova bilhetagem eletrônica dos ônibus intermunicipais será lançado no próximo dia 12. Os detalhes, segundo ele, estão em fase final de definição e têm a participação de técnicos da Coppe/UFRJ.
— A Riocard, ligada aos empresários de ônibus, não poderá participar — afirma Reis.
A licitação para a escolha do futuro concessionário dos trens será feita este ano, mas o secretário adiantou que gostaria que o modelo fosse semelhante ao das barcas, em que apenas a operação é licitada, cabendo os investimentos ao estado, que fica com a bilheteria.
A primeira concessão de ônibus intermunicipais do Rio tem a expectativa de acontecer em até 45 dias, com trâmites burocráticos, como a exigência de audiências públicas, já cumpridos. Hoje as empresas são permissionárias.
— Estamos focados na integração. Para não ficar linha que a gente tenha que indenizar porque foi criada, por exemplo, uma estação de metrô no percurso. São 1.100 linhas — afirma o secretário.
Uma nova licitação da concessão das linhas municipais do Rio deve acontecer em 2028, dois anos antes do previsto.
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