Transporte sobre trilhos do Rio precisa de mais subsídios, afirmam técnicos

Valor Econômico – Apesar de se estender por mais de 350 quilômetros distribuídos entre a operação de trens, metrô e VLT, a malha ferroviária do Rio para o transporte de passageiros ainda é mal explorada e subutilizada. A avaliação é de autoridades, especialistas e representantes de empresas que participaram nesta terça-feira (18) do evento “Caminhos do Rio – O futuro sobre trilhos”, realizado pelos jornais “O Globo’ e “Extra”, no auditório da Editora Globo, na Cidade Nova, no Rio.

A falta de subsídios para o transporte ferroviário de passageiros é um dos principais problemas apontados pelos especialistas. O argumento é que, sem o apoio financeiro, as passagens ficam mais caras, o que torna o modal menos atrativo. Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes, diz que sem subsídio não há transporte público em nenhum lugar do mundo. “Quem estrutura uma rede é o dinheiro público. O setor privado só entra em projeto bom, que vai dar resultado. O setor público tem que dar o start”, afirma Quintella.

O diretor da FGV destacou que a falta de integração entre os modais contribui para a fuga de usuários do sistema público para aplicativos de transporte individual. “O [transporte por] aplicativo está indevidamente fazendo o papel do transporte público. Além dele ter capilaridade, é mais barato”, disse.

“Transporte de trilho dará grande passo para descarbonização”
— Edmar de Almeida

Para representantes do Metrô Rio e do VLT Carioca, não deveria haver concorrência, mas uma integração para que os modais sejam complementares. Guilherme Ramalho, presidente do Metrô Rio, defendeu que a mobilidade urbana precisa ser vista como um projeto de parceria pública e privada. “Isso pode ser viabilizado se a gente tiver um planejamento integrado claro entre governo do Estado e prefeitura, uma agência reguladora forte, uma previsibilidade de demanda e uma priorização clara dos governos e do transporte coletivo”, disse.

O presidente do conselho administrativo da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Joubert Flores, atribuiu a má organização do sistema à falta de uma autoridade metropolitana para coordenar ações de transportes entre a capital fluminense e demais municípios do Estado. “Tem toda dificuldade de criar a autoridade? Tem. Mas a gente tem uma situação pior porque não adota uma coisa que é prática reconhecida e já adotada em outros lugares”, disse. Ele também mencionou que, ao contrário do que ocorre em países da Europa, o sistema ferroviário brasileiro não tem aportes do governo federal nem subsídios.

O professor do Instituto de Energia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) Edmar de Almeida chamou atenção para a contribuição que a política de incentivo ao transporte público, sobretudo ferroviário, pode dar à transição energética. “A ambição de transição energética tem que estar conectada com a política de transporte público. A gente precisa construir uma ideia forte de que através do transporte de trilho daremos um grande passo para a descarbonização”, afirmou.

O presidente da agência reguladora do Estado, a Agetransp, Adolpho Konder, disse que é necessário realizar uma revisão de contratos antigos das concessões de transporte público para criação de novos modelos que permitam um equilíbrio tarifário. Ele também apontou a sobreposição de linhas como um problema para o desenvolvimento do sistema fluminense. “O transporte de ônibus da cidade do Rio de Janeiro faz inúmeras sobreposições ao transporte do metrô. Existe transposição do BRT veorsus trem. Precisamos ter esse planejamento”, afirmou.

O secretário estadual de Transportes e Mobilidade Urbana, Washington Reis (MDB), afirmou que o Estado tem aumentado o subsídio para os transportes “constantemente”. Segundo o secretário, a prioridade do governo neste momento é retirar de circulação linhas de ônibus que não alimentam o sistema. “Nosso foco é integração total”, afirmou. Reis disse ainda que o governo vai licitar, até o fim do ano, a linha 3 do metrô, que envolve um trem submerso para ligar a capital fluminense aos municípios de São Gonçalo e Niterói, na região metropolitana do Rio, e a expansão da linha 2 para a Praça XV, no centro do Rio.

Fonte: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2025/02/19/transporte-sobre-trilhos-do-rio-precisa-de-mais-subsidios-afirmam-tecnicos.ghtml

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