Enquanto patrimônios se deterioram ante ao descaso público, um jovem humilde de apenas 17 anos se empenha em tirar do papel um projeto de reativação da maria-fumaça na região de Londrina. O estudante de Ensino Médio Gabriel Môroni Santos Carllotto, conhecido como ´Gabriel Maria-Fumaça´, idealizou um trem com a mesma cara da velha maria, mas movido a gás de cozinha, ao invés de lenha e carvão.
O projeto nasceu na Escola Profissional e Social do Menor de Londrina (Epesmel), em agosto de 2005. Uma das atividades pedia que os alunos bolassem novos produtos que pudessem ser inseridos no mercado. Único menino num grupo de cinco adolescentes, o estudante apaixonado por trens teve a idéia da maria-fumaça rejeitada pelas colegas. Aceitou ajudá-las a criar um esmalte multicolor, mas, paralelamente, tocou sozinho o próprio projeto. A idéia do trem acabou sendo a selecionada para participar de três mataronas de empreendedorismo na cidade, atraindo centenas de curiosos.
´Seria uma alternativa ecologicamente correta para trazer de volta a maria-fumaça que encantava as pessoas, já que não é necessário gastar madeira´, justifica o jovem, que não se limitou à parte técnica no projeto. ´A idéia é não mudar nada na composição ferroviária, conservar as características originais. Durante as viagens e nas estações, teríamos apresentações de música, dança e teatro´, detalha. O pátio ferroviário ficaria em Arapongas (37 km a oeste de Londrina), pelos planos do estudante, ´porque está melhor conservado e tem grande espaço para construir mais benfeitorias´.
Gabriel planejou uma maria-fumaça voltada para turismo e transporte de passageiros na região de Londrina, mas diz que não descarta o transporte de cargas. Ele está levando o projeto a sério e quer construir um protótipo para comprovar sua viabilidade. ´Mas para isso eu preciso da maria-fumaça que está no pátio do PAI como modelo. Vou lutar para que ela permaneça em Londrina´, adianta.
O diretor-administrativo regional da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), Carlos Dias Correia Augusto, se diz satisfeito em ver jovens como Gabriel interessados na memória ferroviária. Ele pondera que a maria-fumaça movida a gás é tecnicamente viável, porém não economicamente. ´As locomotivas a diesel substituíram as movidas a vapor justamente por ser mais econômicas, ter maior poder de tração e velocidade. A maria-fumaça teve sua época áurea, mas hoje funciona mais como objeto de saudosismo´, conclui.
Fonte: Folha de Londrina
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