Trem de subúrbio era antes; de algum tempo para cá, é chamado de trem metropolitano. Difícil, invulgar até, é falar do Brasil que dá certo. Temas que tratam de problemas certamente têm combustível para incendiar mais os artigos. Ficaríamos dias aqui alinhavando as mazelas dessa porção imensa de terras da América do Sul.
Sem mais delongas, uma das coisas que deu certo foi o sistema de trens suburbanos de São Paulo. Trem de subúrbio era antes, pois, de algum tempo para cá, é chamado de trem metropolitano, como designam as letras finais da sigla CPTM que o identifica.
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Esse trem foi de subúrbio – com toda pecha negativa que carrega a palavra –, diria, dos anos 90 para trás. Nesses tempos era no mínimo pouco “viajável”, se permitem o neologismo. As portas, feitas para fechar, andavam abertas, campeavam vendedores de amendoim a picolés, a sujeira era uma de suas marcas características, os passageiros se espremiam nos corredores estreitos. Lembro, ainda, que havia alguma escala de qualidade. No tramo Leste, da estação Brás a Mogi das Cruzes, as condições de tráfego eram desumanas. Cada um se defendia literalmente com suas próprias forças que, não distribuídas eqüitativamente, davam vantagens aos mais robustos.
O Estado de São Paulo há mais de uma dúzia de anos é administrado pelo mesmo partido, o que certamente alimenta a continuidade política, ingrediente fundamental para se chegar a uma boa administração. O fato é que os trens metropolitanos estão integrados ao metrô e o resultado é que se pode viajar nos dois sistemas sobre trilhos com tarifa única de R$ 2,10. Na Luz ou Brás, onde se dá a grande maioria das transferências, as estações são interligadas, sinalizadas, modernas, facilitando sobremaneira a vida e o bolso dos usuários.
Os trens metropolitanos, antes sujos, trafegando de portas abertas, quentes, ganharam a aparência e os cuidados dos carros do metrô, o primo rico. De corredores largos, assentos almofadados, limpos, sistema de som com direito a locutor desejando boa viagem, equipados com ar-condicionado, os trens metropolitanos se comparam aos de países desenvolvidos, seguindo os passos do metrô de São Paulo, referência mundial na categoria.
Há por certo ambulantes que ainda vendem produtos de ocasião, como balas, chocolates, outras guloseimas, mas até mesmo esse comércio é feito com mais discrição. Os camelôs vivem com olho no gato, outro no peixe, atentos à guarda ferroviária, que por vezes é condescendente com a situação – afinal, ainda que praticada em espaço não autorizado, é uma forma de trabalho para muitos.
Os trens da CPTM funcionam como prova cabal de que o serviço público, se administrado com competência, dá certo.
Quando o poder público quer, ele pode mudar o placar, que, infelizmente, não é dos mais favoráveis ao transporte público no Brasil.
Do poder público se exige gestão competente para garantir a qualidade dos serviços fundamentais, caso do transporte. É bom nunca esquecer que exemplos, quando bons, consolidam administrações. No entanto, quando maus, ajudam a cavar as valas que sepultam os usurpadores de plantão.
(Ariverson Feltrin – Editor de Transportes & Logísticas da Gazeta Mercantil)
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