O governo chinês deu indicações de que teria voltado atrás na iniciativa de evitar novo reajuste do minério de ferro às siderúrgicas locais pela Vale do Rio Doce e mineradoras australianas. Em carta enviada ontem à embaixada brasileira em Pequim, o Ministério do Comércio da China informou que não vai impor nenhum tipo de controle de preço sobre o produto e quer apenas fazer um monitoramento cuidadoso dos fluxos de importação da matéria-prima. Para os brasileiros, no entanto, não ficou claro se a China desistirá de exigir licença prévia para liberar a importação do produto, atrasando procedimentos alfandegários.
A carta é uma resposta ao pedido de esclarecimentos feito pela embaixada brasileira. Na semana passada, o governo chinês passou a exigir a emissão de licenciamento para as importações de minério de ferro e ordenou às siderúrgicas locais que não aceitem preços superiores aos praticados em 2005. A orientação menciona especificamente a Vale e as australianas Rio Tinto e BHP Billiton. São as três maiores produtoras e exportadoras mundiais da matéria-prima.
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O Itamaraty discute com a assessoria do Palácio do Planalto a possibilidade de que o assunto seja tratado pelo vice-presidente José Alencar com a cúpula do governo chinês. Ele inicia neste domingo uma visita oficial de seis dias à China. Ainda não há definição, embora a diplomacia creia que a abordagem do problema é pertinente.
Para o Itamaraty, a troca de cartas com o Ministério do Comércio da China foi apenas um primeiro contato. “Ainda precisamos avaliar se há necessidade de conduzir investigações sobre o assunto”, afirmou um funcionário graduado do ministério. Por enquanto, a ordem é agir com prudência, mas a hipótese de recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) não está descartada. Trata-se, porém, de um processo lento. Para isso, antes a diplomacia precisa levantar informações sobre como a emissão de licenças pode estar dificultando as importações e ver de que forma essa iniciativa está em desacordo com as normas da OMC. “Não tomaremos nenhuma atitude de afogadilho e vamos trabalhar em sintonia com o setor privado”, acrescentou a fonte.
De qualquer forma, a intenção do governo brasileiro é não misturar a nova controvérsia comercial com o relacionamento com a China como um todo. No ano passado, o Brasil designou ao país asiático o status de “economia de mercado”, gerando implicações para a abertura de processos antidumping, por exemplo. Como moeda de troca, Pequim se comprometeu a viabilizar investimentos em infra-estrutura, como a ferrovia Norte-Sul.
No início de cada ano, as mineradoras e as usinas de aço travam um duelo em torno do aumento de preços do minério. Em 2005, o produto foi reajustado em 71,5%. A China é a maior importadora mundial, volume que vem crescendo a cada ano. Em 2001, eram 92 milhões de toneladas. No ano passado chegou a 75 milhões. Novas projeções para 2006 apontam 360 milhões de toneladas, conforme volumes de janeiro e fevereiro.
Fábio Barbosa, diretor-executivo de finanças da Vale, disse ontem durante apresentação do balanço da companhia a analistas, que “essa pressão da China está fadada ao fracasso, pois há um desequilíbrio entre oferta e demanda de minério de ferro”. Segundo ele, há um cenário de escassez do produto, com demanda em alta pelos próximos anos e que, por isso, vão prevalecer os fundamentos de mercado nas negociações. A Vale está investindo em aumento da produção com base em contratos de longo prazo.
A China é o principal cliente da Vale: comprou 21% das 255 milhões de toneladas exportadas pela empresa no ano passado.
País atropelou fórmula das negociações – A China atropelou as negociações dos preços de minério de ferro em 2006, que já estavam bem avançadas com as usinas européias e japonesas, relatou ao Valor uma fonte próxima das negociações. Esse movimento agressivo criou um ambiente de “esperar para ver” por parte dos negociadores de Europa e J
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