Toneladas de leite em pó, leite condensado e doce-de-leite fabricados em Minas Gerais estão deixando de circular nas estradas que ligam o estado a São Paulo, Goiás e à Bahia. A Cooperativa Central de Produtores Rurais – Itambé decidiu usar o transporte ferroviário para retirar cerca de 2,5 mil toneladas desses produtos, todo mês, das fábricas mineiras e entregar ao cliente, a um custo até 10% inferior ao das cargas levadas nas rodovias, e com baixíssimo risco de roubo, seqüestro e avarias. Grandes marcas conhecidas do consumidor já fazem esse mesmo roteiro da indústria aos distribuidores, a exemplo da Nestlé, Unilever, Ford e Semp Toshiba, dando preferência aos trens de carga, operados por ferrovias privadas no país.
Nessa disputa, em 2006, elas deslocaram para seus vagões 222 mil toneladas do que chamam de carga geral – desde alimentos a computadores, geladeiras, fogões, aparelhos de som, sabão e detergente –, representando ganho de 11,4% na comparação com 2005, segundo balanço preliminar da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF). Produtos tradicionais carregados na ferrovia, o minério de ferro e aço foram transportados em grandes volumes no ano passado, mas a um ritmo de crescimento bem mais modesto, de 7,5%.
Rodrigo Vilaça, diretor-executivo da instituição, diz que não está só na eficiência no próprio negócio, obtida pelas operadoras do sistema ferroviário, a explicação para o bom resultado. Elas se preparam para assumir diretamente todo o serviço de coleta e entrega da carga, contratando, inclusive, o caminhão, quando necessário, para entregar as mercadorias nos centros de distribuição das indústrias ou nos seus clientes finais. “Dependendo do produto e da distância a percorrer, a economia do transporte pode ser de 12% a 15%. Ainda temos espaço amplo e vasto para crescer nessa área”, afirma.
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O Trem Expresso da Ferrovia Centro-Atlântica, empresa da Companhia Vale do Rio Doce, aumentou em 166% de 2002 a 2005 o transporte de alimentos, autopeças, pneus, resinas plásticas, artigos de higiene e limpeza e eletroeletrônicos. O serviço é feito porta à porta, organizando a carga em contêineres e inclui a complementação do transporte por caminhão para entrega da mercadoria no varejo ou nos portos, se ela for destinada à exportação, informa Rômulo Otoni, gerente-geral de comércio intermodal da FCA. “Quando negociamos o serviço, há preocupação também com os preços dos produtos nas gôndolas dos supermercados. Se a Nestlé, por exemplo, perder competitividade, nós ficamos sem o cliente”, afirma.
Com os pedágios, o transporte ferroviário se beneficiou. As ferrovias têm estrutura para estocar produtos em trânsito e elas mesmas podem fazer o desembaraço da mercadoria para a exportação. A MRS Logística, concessionária da malha sudeste da antiga Rede Ferroviária Federal, apurou 30% do seu faturamento em 2005 no segmento de carga geral e quer crescimento anual de 10% nos próximos cinco anos, revela Valter Luis de Souza, diretor-comercial da empresa. “Começamos a assumir a responsabilidade de entrega da mercadoria. Se a ferrovia não cumprir os prazos, o cliente coloca a carga no caminhão e nós temos de pagar a diferença”, afirma.
Gasto maior reduz espaço da rodovia
O caminhão vem perdendo espaço para o trem desde 2000, quando respondia por 60,5% de todo o transporte de carga no país, e as ferrovias detinham 20,8%. De acordo com informações da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), em 2005, período mais recente de levantamento de estatísticas, as rodovias transportaram 58% e os trens de carga distribuíram um quarto do total. Ao todo, 389 milhões de toneladas transitaram na malha ferroviária em 90.119 vagões. Para Valter Luiz de Souza, diretor-comercial da FCA, o que melhor retrata o avanço das ferrovias no transporte de cargas é um ritmo de movimentação de mercadorias bem superior à média do crescimento econômico do país.
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