A Delegacia Regional do Trabalho (DRT) de São Paulo embargou ontem as obras da futura Estação Pinheiros do metrô. O laudo técnico elaborado por um grupo de quatro auditores afirma que a decisão foi tomada por causa da ´situação de grave e iminente risco à saúde e integridade física dos trabalhadores´. Só serão permitidos trabalhos de contenção e estabilização do terreno, assim como o reforço estrutural das estruturas metálicas e de concreto da obra.
Os auditores fizeram quatro vistorias no local desde o acidente do dia 12. O delegado regional do Trabalho, Márcio Chaves Pires, disse que o embargo ocorreu 18 dias após a abertura da cratera – mesmo com o risco iminente de novos desabamentos nos dias seguintes ao acidente – porque só agora voltou-se a discutir a retomada dos trabalhos. ´Os bombeiros resgataram vítimas até quinta-feira, nenhum operário trabalhou.´
Pires reuniu-se ontem com representantes do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, e do Consórcio Via Amarela. O diretor de Comunicação e Imprensa do sindicato, Manuel Xavier, disse que a entidade pediu ao delegado a interdição total das obras na Linha 4.
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O laudo da DRT estabelece várias medidas a serem tomadas pelo consórcio para a suspensão do embargo, como a apresentação do método de escavação e do sistema de monitoramento das movimentações do terreno. O delegado afirmou que não há prazo para a entrega dessa documentação. Determinou-se também que o consórcio entregue, no dia 5 de fevereiro, a Comunicação de Acidente de Trabalho e outros dados sobre o motorista Francisco Sabino Torres, único funcionário da obra entre as sete vítimas do desmoronamento, para a averiguação das causas da morte.
Em nota, a assessoria de Imprensa do consórcio informou que o embargo se refere apenas à ´retomada das obras da estação (Pinheiros)´. O texto diz ainda que ´prosseguem os trabalhos de estabilização do terreno´. Já a assessoria de Imprensa do Metrô afirmou que a interdição não vai afetar o ritmo das obras.
À tarde, o governador José Serra (PSDB) disse que não sabia do embargo, mas afirmou que ´o único órgão autorizado a investigar o que aconteceu é o IPT´.
Gerente deixa cargo e alega que vai se dedicar à investigação da tragédia
O gerente de Construção da Linha 4, Marco Antonio Buoncompagno, pediu ontem licença do cargo. “O pedido de afastamento foi feito em caráter excepcional e chegou hoje (ontem) à minha mesa. As obras precisam seguir a todo vapor, mas Buoncompagno preferiu se dedicar em tempo integral às investigações (na área do desmoronamento da futura Estação Pinheiros)”, afirmou o presidente do Metrô, Luiz Carlos Frayze David.
Em seu lugar, assume o engenheiro Luiz Carlos Meireles, anteriormente gerente da linha 2. David negou que a saída de Buoncompagno tenha ligação com uma reportagem publicada anteontem pela Folha de S. Paulo, que lembrou a existência de uma ação proposta pelo Ministério Público Estadual, em 1992, para investigar um suposto esquema armado entre a antiga empresa de Buoncompagno, a Engemab, e as empreiteiras Andrade Gutierrez – que atua hoje na linha 4 – e Mendes Jr.
A suspeita dos promotores era de que as empreiteiras recebiam aditivos contratuais irregulares do Metrô para repassar obras à ex-empresa de Buoncompagno. Em troca, ele construiria a casa do presidente do Metrô da época, Antonio Sergio Fernandes.
David ressaltou que Buoncompagnofoi inocentado na ação criminal e a ação civil ainda não foi julgada. O presidente não detalhou as condições nem o cargo que Buoncompagno terá. David não foi à Assembléia ontem – ele tinha sido convidado por deputados. Alegou que já recebera na sexta 12 parlamentares para falar da Linha 4. A oposição queixou-se e voltou a falar numa CPI da tragédia.
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