Após greve, Serra demite 61 no Metrô

Três dias após o fim da greve de dois dias que quase parou o Metrô de São Paulo, julgada abusiva pelo TRT (Tribunal Regional do Trabalho), o governo José Serra (PSDB) anunciou ontem a demissão de 61 funcionários da companhia. Os demitidos teriam aderido à greve.


Embora o governo do Estado negue que se trate de represália, a Folha apurou que o corte seguiu orientação do próprio governador, transmitida no fim de semana a auxiliares.


Serra determinara que deveriam ser exonerados especialmente os ocupantes de cargo de confiança que engrossaram o movimento grevista.


Apesar de a greve ter sido considerada abusiva, a decisão do TRT não é suficiente para realizar demissões por justa causa. Mas, como os demitidos não são concursados, serão dispensados sob o argumento de mau desempenho.


O secretário José Luiz Portella (Transportes Metropolitanos) também divulgou ontem um pacote de medidas para reduzir o impacto de greves.


O pacote prevê a contratação de cem funcionários -60 supervisores de tráfego e 40 operadores de trens. Além disso, o Metrô vai dar treinamento a 30 bombeiros e 300 supervisores, que serão deslocados para conduzir os trens durante futuras paralisações.


Portella distribuiu nota em que afirma que as 61 demissões ocorreram porque o desempenho dos funcionários “não era adequado aos padrões desejados pelo Metrô”. A nota não faz menção à participação dos demitidos na greve.


Disputa política


As relações entre o governo e o Sindicato dos Metroviários, dominado por partidos de oposição a Serra, vêm se degradando desde o início do ano.


Os metroviários ameaçaram entrar em greve sete vezes -cumpriram a promessa três vezes. Uma delas, que irritou o governador, foi um protesto de duas horas contra a emenda 3 -que proíbe auditores da Receita Federal de autuar pessoas jurídicas que, no seu entender, desempenham funções típicas de trabalhadores assalariados.


Na última paralisação, quinta e sexta-feira, os metroviários reivindicavam, na última proposta, o pagamento de R$ 24 milhões de participação nos lucros, mas com valores fixos. O Metrô quer pagar uma quantia proporcional aos salários.


Segundo tucanos com trânsito no Palácio dos Bandeirantes, embora já conte com uma reação do sindicato, o governo Serra decidiu ir para a ofensiva, alegando que a greve foi abusiva e também por apostar num racha no movimento. Como os metroviários marcaram eleições para renovar a diretoria no início de setembro, o governo viu nas sucessivas greves uma forma de reforçar a diretoria atual do sindicato.


Ontem à tarde, após ser informada de demissão de três pessoas, a diretoria do Sindicato dos Metroviários se reuniu para discutir a situação. Mas a entidade não divulgou que medidas pretende adotar.


O próprio Serra reconheceu a hipótese de demissões ao longo da semana passada. No domingo, voltou a dizer que a paralisação “mostrou desprezo do sindicato pela população trabalhadora de São Paulo”. “Não queremos mais que isso se repita”, dizia o governador.


O governo também publica hoje nos jornais um comunicado com forte ataque aos metroviários, que estariam envolvidos em “ações aventureiras e injustas”, em busca de apoio da opinião pública.


As medidas seriam uma tentativa de inibir futuras paralisações. O governo já se mobiliza para conter, por exemplo, uma greve na educação programada para o próximo dia 24.


Hoje, funcionários do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), em campanha salarial, prometem paralisação de um dia. A categoria rejeitou os 3,98% de aumento oferecidos pelo governo do Estado.


Os funcionários marcaram uma manifestação em frente ao prédio da Secretaria de Desenvolvimento do Estado.

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Fonte: Folha de S. Paulo

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